Artigo

Por que não te calas, Bolsonaro?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

Sou antigo, da época em que citar o nome da mãe de forma jocosa, se partia pra briga. Ai de quem se atrevesse a dizer “é tua mãe”. Lembro de ter saído no braço quando um garoto falou mal de minha mãe. Mãe continua sendo coisa sagrada.

Ao ver o mandatário-mor da nação, aglomerado, sem máscara, ao ser questionado sobre a vacina, responder “só se for na casa de tua mãe”, pensei, a língua desse senhor não conhece limites. Imagine, se você falasse tudo o que se passa pelo seu cérebro, ou eu resolvesse dizer todas as verdade para os outros. Agora vemos o presidente, que se acha acima de tudo e de todos, não tem respeito por ninguém. Não é assim que as coisas funcionam, nem aqui, e nem na casa da mãe Joana, que nunca soube onde fica.

Não tenho mais mãe, faz tempo que a perdi, mas se tivesse vacina na casa dela, já estaria vacinado. Amigo leitor, na casa de sua mãe tem vacina? Como o amor de mãe é incondicional, já estaríamos vacinados e não seria através dessa “operação Tabajara” que aí está. As mães não permitiriam que seus filhos fossem tragados por esse flagelo, que segue célere a matar, sem dó nem piedade. Com a vacina na casa das mães, não teria fura-fila, vacina de vento, e após vacinados ganharíamos afagos, beijos, e um “Deus te proteja, meu filho”. Mãe é sempre mãe.

A que ponto chegamos nesse imenso país abaixo da linha do Equador.

O poeta mexicano Octávio Paz, Nobel de literatura de 1990, disse, “em uma sociedade que se corrompe a primeira coisa que gangrena é a palavra”.

Chegamos a uma situação tão esdrúxula, esquisita, surreal, que o mundo está com medo do Brasil. Por falta de comando, o Brasil se transformou em um enorme covidário. O vírus que saiu da China se espalhou pelo mundo todo, mas foi no Brasil que achou um terreno fértil: cresceu, se desenvolveu, se multiplicou, pariu uma variante, P1, e encontrou um forte aliado, o presidente da República Federativa do Brasil. Aos olhos do mundo o Brasil se transformou em um enorme cemitério. Fomos proibidos de entrar na maioria dos países do mundo. Viramos párias.

Será se o mundo todo está errado e somente Bolsonaro está certo?

O negacionismo da mais alta autoridade do país, que por duas vezes trocou o comando do Ministério da Saúde, de médicos por um parrudo general, aclamado como especialista em logística, cujo resultado na distribuição das vacinas é um fracasso. Incompetência total, e isso mata.

Que Bolsonaro seja boçal, despreparado, incompetente, inclemente, desumano, o Brasil descobriu da pior maneira possível, com ele na chefia da nação, em um momento especialmente difícil. Como se isso não bastasse, com sua língua nervosa, verborrágico, chegamos ao cúmulo do desprezo e escárnio contra nós brasileiros. Mentiroso, dissimulado, fanfarrão, não sabe o quê é respeito, empatia, e misericórdia pelas quase 270 mil famílias que perderam seus entes queridos para esse flagelo. Quanto maior o número de mortes, mais galhofa e piadas ele faz, tripudiando na nossa cara. Não tem limites para sua loucura. Sadismo puro.

Tudo o que não precisávamos nesta hora de dor e sofrimento, era de um sujeito ignóbil como esse senhor. Até onde irá sua insanidade? Sua sordidez? Quem sobreviverá a tamanho infortúnio?

Por que não te calas, Bolsonaro? Não é mimimi, não é frescura, não é uma gripezinha, são milhares de brasileiros e brasileiras morrendo como moscas todos os dias. Se não tens sensibilidade, competência, preparo e humanidade para ajudar, melhor permanecer calado.

Minha solidariedade, respeito e fraternal abraço à todas as mulheres, e em especial às mães que perderam seus filhos, maridos, sobrinhos, amigos para esse flagelo.

Se um dia Deus foi brasileiro, ele agora se cansou de nossa sandice, e nos virou as costas.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, já visitou 143 países em todos os continentes

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