Editorial

A banalização da dor

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

Nos primeiros meses do ano passado, a pandemia do coronavírus chegou ao Brasil. Antes, a doença já havia afetado diversos países no mundo com cenas dramáticas de hospitais lotados e pilhas de corpos pelas ruas. Era de se esperar que quando chegasse ao país alguma estratégia para conter os avanços da doença já tivesse sido planejada, no entanto, um ano depois, seguimos com as mesmas incertezas, os mesmos dramas e as mesmas tragédias.

Enquanto alguns países já têm boa parte da sua população vacinada. No Brasil, o ritmo de vacinação segue lento e, enquanto isso, muitas pessoas convivem com o medo de perder seus familiares, muitos tiveram famílias completamente destruídas, perdendo pais, mães, avós. Sem conseguir sequer se despedir deles, muitas pessoas viram seus familiares entrarem em hospitais, ter o estado de saúde agravado e não resistiram aos efeitos da doença.

No Maranhão, já ultrapassamos mais de cinco mil mortes. Não são números. São pessoas que tinham sua vida, suas rotinas, amavam e eram amadas por outras pessoas que hoje convivem com a saudade. Infelizmente, o cenário ainda está longe de mudar. Segundo especialistas, estamos atravessando um dos momentos mais críticos da pandemia.

Um ano depois do primeiro caso confirmado no país, há ainda quem resista em seguir protocolos básicos de proteção contra a Covid-19. Muitos questionam o uso de máscaras, não praticam o distanciamento social, seguem em aglomerações e questionam a importância da vacinação e, neste tão falado negacionismo científico, podem se contaminar ou transmitir a doença para alguém de sua família.

A falta de proteção, infelizmente, vai trazer ainda mais vítimas. Com aglomerações, sem distanciamento social e sem o uso de máscaras, o vírus se propaga mais rapidamente e, pessoas contaminadas podem morrer por falta de atendimento médico, pois, nas últimas semanas, os hospitais estão cada vez mais lotados, com profissionais de saúde exaustos, desdobrando-se para conseguir atender o maior número de pacientes e convivendo também com a perda dos seus, mesmo assim, não podem parar e seguem atendendo aos seus pacientes.

É surpreendente e estarrecedor que um ano depois, ainda é preciso campanhas para conscientizar a população sobre a importância de usar máscara. Um ano depois, os cemitérios lotados, pessoas morrendo com falta de ar sem oxigênio, como aconteceu em Manaus, parece não mais chocar as pessoas. É preciso tentar compreender que a dor do outro é também nossa. Enquanto pessoas morrem, pessoas negam a gravidade de pandemia.

Aglomeram chegam a ironizar e debochar da doença, e, ao fazer isso debocham diretamente da morte de mais de 260 mil pessoas no Brasil e também de seus familiares que convivem diariamente com a dor e com o medo de perder mais um parente ou amigo. E esse comportamento infelizmente também vem de autoridades que deviam lutar para que a pandemia seja controlada. Nos argumentos defendem que a economia não pode parar. No entanto, a economia é movida por pessoas, que precisam ser protegidas minimamente para que consigam trabalhar com dignidade e com saúde. Enquanto isso, mais mortes, mais dor. Até quando narrativas de que a doença não é nada grave serão toleradas? Até quando a dor do outro vai ser banalizada?

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