Levantamento médico

2 a cada 3 pessoas com Covid-19 que precisam de intubação morrem

Entre os internados na UTI que precisam de diálise, o número sobe para 7 a cada 10; dados são da Associação de Medicina Intensiva Brasileira

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
Profissionais de saúde cuidam de paciente com Covid-19 em UTI de hospital
Profissionais de saúde cuidam de paciente com Covid-19 em UTI de hospital ( Entre os internados na UTI que precisam de diálise, o número sobe para 7 a cada 10. Dados são da Associação de Medicina Intensiva Brasileira; quando o paciente intubado está internado no SUS, o número é ainda maior: 7 a cada 10 morrem)

BRASÍLIA - De 1° de março de 2020 até 24 de fevereiro deste ano, 2 a cada 3 brasileiros com Covid-19 que precisaram ser intubados morreram. Quando o paciente intubado está internado no SUS, o número é ainda maior: 7 a cada 10 morrem.

Os dados são da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), que tem monitorado UTIs do país na pandemia, tanto na rede pública quanto privada. Considerando a rede pública e privada, 66,% dos que precisaram de intubação morreram. No SUS, esse índice foi de 71,%. Na rede privada, de 63%.

A necessidade de intubação nas UTIs públicas também foi maior. Nelas, 63,8% dos pacientes precisaram de ventilação mecânica. Na rede privada, o índice foi de 39%.

Mais da metade dos pacientes que precisaram de intubação ficaram em ventilação mecânica por mais de 7 dias. De forma geral, esse índice foi de 55,7%. No SUS, o índice foi de 50,3%; na rede privada, 59,3%.

Uma das explicações possíveis para a diferença entre público e privado é que, quando o paciente chega na UTI do SUS, já está mais grave, por causa do menor acesso à saúde, explica o intensivista Otávio Ranzani, epidemiologista da Universidade de São Paulo (USP).

"Ou que o SUS interna doente mais grave porque tem menos leito, o que tambem cai no ponto do acesso", lembra.

Os dados do levantamento apontam, por exemplo, que o escore de gravidade SOFA – calculado a partir de disfunções de seis órgãos – é o dobro entre pacientes nas UTIs do SUS comparados aos da rede privada. Nos leitos privados, o índice foi de 2,4. Nos públicos, de 4,8.

"Na UTI, nós damos suporte aos órgãos que param de funcionar. No caso, você vai acumulando disfunções de órgãos. Então, além do pulmão, também o rim e muitas vezes o coração – aqui damos um medicamento para deixar a pressão alta, droga vasoativa", explica Ranzani.

Diálise

O levantamento também mostrou que, quando o paciente em terapia intensiva precisa de diálise, mesmo não intubado, o índice de mortalidade é ainda maior – quase 74%. Entre os internados no SUS, é de 78,3%. Na rede privada, é de 70,8%.

"Diálise em UTI é um marcador importante de óbito. Não necessariamente [os pacientes] precisam estar intubados [para receber diálise], mas, considerando Covid, a maioria absoluta deve estar, sim", afirma Ranzani.

A diálise (ou hemodiálise) é um procedimento utilizado quando os rins do paciente não conseguem mais filtrar o sangue direito. Nele, o sangue é filtrado por uma máquina. Otavio Ranzani médico explica que a diálise é um processo complexo.

"Os rins se afetam por várias coisas. Se a pressão cai, se tem inflamação, doença grave, talvez pelo próprio Covid. [Na] diálise você tem que circular seu sangue numa máquina fora do corpo, é complexo, precisa de mais pessoal especializado", explica.

Um levantamento feito pelo G1 em 2020 apontou que apenas 9% das cidades do Brasil tinham diálise disponível.

Ações nacionais

Membro da diretoria do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Vanja dos Santos explica que, diante do iminente colapso do sistema de saúde em quase todos os estados, as ações precisam ser nacionais para serem eficazes.

"No momento de caos generalizado em que estamos, ou paramos e fechamos tudo, ou vamos dobrar essas mais de 250 mil mortes pela Covid-19 que tivemos em um ano em um tempo muito menor" , disse Vanja dos Santos, membro da diretoria do CNS.

Santos explica que o CNS e demais órgão nacionais que integram a "Frente Pela Vida" pedem ao governo federal ações unificadas desde o ano passado. Com o agravamento da pandemia em fevereiro, o segundo mês com maior número de mortes por Covid-19 desde o início da pandemia, a paralisação das atividades em todo o país é tema no CNS.

"Na nossa última reunião, na terça-feira,23, discutimos medidas urgentes para o Brasil neste momento, como fechar todo o comércio, praias e serviço não essencial por duas semanas, assim como estipular um toque de recolher, implementar barreiras sanitárias pelo país e fazer testagem em massa", conta Santos.

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