Artigo

Que país é esse?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

O Brasil vive “uma tragédia”, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na última quinta-feira, 25/03, o Brasil ultrapassou a estratosférica marca de 250 mil vidas ceifadas pelo coronavírus. Vidas perdidas para uma epidemia que um ano atrás nem sabíamos de sua existência; quando tomamos conhecimento, via noticiário, por ser tão longe, em uma lugar remoto da China, não chegaria até nós. Foi no dia 26 de fevereiro de 2020 que morreu o primeiro brasileiro vítima dessa maldita doença, que até então nem nome tinha. A OMS ainda não chamava de pandemia.

Como explicar tamanha tragédia? Por que chegamos a tal número de mortos?

Há algo na própria sociedade brasileira que precisa de uma análise mais profunda. Por que tanta gente nas festas de fim de ano? Por que tanta gente aglomerada nos bailes clandestinos de carnaval? Por que tanta gente teima em não usar máscara? Talvez seja porque valorizamos tanto a liberdade individual em contraste com um certo descuido pelo coletivo, pela sensação de pertencimento.

Se somos mesmo assim, não vão adiantar lições de moral, campanhas educativas. Exortações diárias. Elas apenas patinam na superfície do problema. No Brasil, as pessoas sentem que a cidadania traz poucas vantagens; logo, não merece nenhum tipo de sacrifício. Leis e normas são para otários.

Vi na TV, o depoimento de uma médica, de Palmas (TO), após o plantão, dizer: “Se sua mãe pegar Covid-19, ‘NÃO’ tem leito pra ela, ela vai m-o-r-r-e-r, entendeu?”. Não tem mais leitos em UTIs em todo o Brasil, segundo as Secretarias de Saúde.

Me pergunto por que tantas pessoas teimam em não aceitar os protocolos, colocando suas próprias vidas em risco, e o pior, as de pessoas inocentes que podem ser infectadas pela irresponsabilidade desses insanos.

Lauro Jardim, de O Globo, em sua coluna do último domingo, conta alguns detalhes do encontro do presidente Jair Bolsonaro com Roberto Castelo Branco, então presidente do Banco do Brasil, em 5 de fevereiro: “O presidente da Petrobras entrou e permaneceu no gabinete presidencial com as devidas precauções devidas a uma pessoa de 76 anos: usava máscara N95 e óculos de proteção. Cumprimentou a todos, mas não com as mãos. Foi o bastante para que o irritado Bolsonaro praticamente perdesse a paciência; para ele, cumprir protocolos é uma palhaçada. Na reunião perguntaram a Castelo Branco por que ele fora vestido de astronauta”.

Já viram as imagens de TVs, em que ninguém usa máscara no entorno de Jair Bolsonaro? Deve ser recomendação de seus súditos, para não zangar o “reizinho”.

Aos impiedosos que não se sensibilizam com a morte de mais de 250 mil brasileiros, que chegam a desdenhar de tamanha tragédia, lembro Voltaire: “Quem consegue convencê-los a acreditar em tal absurdo é capaz de fazê-los cometer atrocidade”.

No atestado de óbito, deveria constar como causa mortis desses 250 mil brasileiros: Covid-19+falta de vacina+fura-fila da vacina+disputa política+omissão+colapso na rede hospitalar+negacionismo governamental+inércia do congresso+incompetência e despreparo do ministro da saúde+falência moral de um país.

A Covid-19 é a antes de tudo uma doença social, doença do comportamento, e isso diz muito sobre nós, brasileiros. Não temos responsabilidade com nossas próprias vidas, dirá com a do próximo. Nós, que nos acostumamos com o número de mortes pela violência urbana, estamos assimilando o número de perdas pela Covid-19 como algo normal. O coronavírus veio avivar nossos deficiências e aprofundar nossas vulnerabilidades, da maneira mais nefasta.


Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, já visitou 143 países em todos os continentes

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