Jornalista

Relatório dos EUA acusa príncipe saudita pela morte de jornalista

''Avaliamos que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Muhammad bin Salman, aprovou uma operação em Istambul, na Turquia, para capturar ou matar o jornalista saudita Jamal Khashoggi'', diz o documento

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
Montagem com fotos do jornalista Jamal Khashoggi e o príncipe Mohammed bin Salman
Montagem com fotos do jornalista Jamal Khashoggi e o príncipe Mohammed bin Salman (Jamal Khashoggi)

ESTADOS UNIDOS - Um relatório da inteligência dos Estados Unidos divulgado na sexta-feira,26, atribui ao príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Muhammad bin Salman, a responsabilidade pela morte do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018.

Além disso, o Departamento de Estado anunciou a criação de uma política para retirar os vistos de entrada nos EUA de pessoas que - a serviço de um governo estrangeiro - persigam ou coloquem em risco dissidentes, ativistas e jornalistas (leia mais abaixo). A medida recebeu o nome de "Proibição Khashiggi". Setenta e seis sauditas foram os primeiros atingidos pela medida - mas não bin Salman.

Khashoggi foi assassinado dentro da embaixada da Arábia Saudita em Ancara, na Turquia, quando entrou no local para buscar uma certidão para poder se casar com sua noiva turca. Ele foi correspondente do "Washington Post" e era um crítico ferrenho do governo saudita.

"Avaliamos que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Muhammad bin Salman, aprovou uma operação em Istambul, na Turquia, para capturar ou matar o jornalista saudita Jamal Khashoggi", diz o documento, de autoria do gabinete do diretor de Inteligência Nacional.

"Baseamos esta avaliação no controle do Príncipe Herdeiro da tomada de decisões no Reino, no envolvimento direto de um conselheiro-chave e membros da equipe de proteção de Muhammad bin Salman na operação e no apoio do Príncipe Herdeiro ao uso de medidas violentas para silenciar dissidentes no exterior, incluindo Khashoggi", prossegue o texto.

"Desde 2017, o Príncipe Herdeiro tem o controle absoluto das organizações de segurança e inteligência do Reino, tornando altamente improvável que as autoridades sauditas tenham realizado uma operação dessa natureza sem a autorização do Príncipe Herdeiro", diz ainda o documento.

O relatório também cita a proximidade das pessoas envolvidas no assassinato com o príncipe, e destaca que sete dos membros da equipe de 15 homens acusados faziam parte de um grupo de elite encarregado da segurança privada de bin Salman, chamado de Força de Intervenção Rápida (RIF, na sigla em inglês).

"O RIF - subordinado a Guarda Real Saudita - existe para defender o Príncipe Herdeiro, responde apenas a ele, e participou diretamente em operações anteriores de supressão de dissidentes no Reino e no exterior sob direção do príncipe herdeiro. Julgamos que os membros do RIF não teriam participado da operação contra Khashoggi sem a aprovação de Muhammad bin Salman", menciona o documento.

A divulgação do relatório acontece um dia depois de o presidente Joe Biden conversar por telefone com o pai de bin Salman, o rei Salman.

Durante o telefonema, Biden reforçou o compromisso em "ajudar a Arábia Saudita a defender seu território dos ataques de grupos aliados ao Irã", mas também destacou a "importância que os Estados Unidos dão aos direitos humanos e ao Estado de Direito", informou a Casa Branca.

Segundo o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, Biden "vai revisar por completo as relações (com a Arábia Saudita) para se assegurar que promovam os interesses do povo americano e para se assegurar que reflitam seus valores".

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse, por sua vez, que "há uma série de medidas sobre a mesa", sem dar mais detalhes.

O novo governo americano já antecipou que vai "recalibrar" as relações com Riade e que seu interlocutor será o rei Salman e não o príncipe, e que dará ênfase aos direitos humanos.

Proibição Khashoggi

Como forma de punição a envolvidos na morte do jornalista Jamal Khashoggi e também para coibir casos futuros, o Departamento de Estado anunciou nesta sexta a "Proibição Khashoggi", uma política para retirar e negar vistos de entrada nos EUA de pessoas que, a serviço de governos estrangeiros, coloquem em risco ativistas, jornalitas ou dissidentes e suas famílias.

"Por uma questão de segurança para todos dentro de nossas fronteiras, os criminosos que visam dissidentes em nome de qualquer governo estrangeiro não devem ter permissão para chegar a solo americano", diz um comunicado do secretário de Estado, Antony Blinken, que anuncia a medida.

Condenações

Em setembro de 2020, um tribunal saudita emitiu a decisão final do caso do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, sentenciando oito pessoas a penas entre 7 e 20 anos de prisão, segundo a TV estatal local Al Ekhbariya.

Cinco pessoas receberam sentenças de prisão de 20 anos, enquanto uma foi condenada a 10 anos e duas pessoas foram sentenciadas a 7 anos. Num julgamento anterior, a punição -- agora reduzida -- de cinco dos acusados havia sido a pena de morte.

Khashoggi foi visto pela última vez em 2 de outubro de 2018 no Consulado saudita em Istambul, onde vivia. O jornalista iria ao local obter documentos relativos ao casamento com sua namorada. O corpo dele nunca foi encontrado.

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