Artigo

Cadê "nossa" vacina que estava aqui?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

Parodiando o título de matéria do fantástico exibida aos domingos na Rede Globo, que trata da aplicação de verbas destinadas aos estados/municípios e “desaparecidas”, pergunto eu, na qualidade de velha professora e cidadã, 84 anos: cadê “nossa” vacina que estava aqui?

Refiro-me às vacinas criadas para combater esta doença destruidora, a Covid-19, que atinge drasticamente a saúde pública mundial.

Como acompanho os jornais televisivos, dentro do meu isolamento social, que já dura 336 dias, vibrei com a aprovação das vacinas Coronavac e Oxford pela Anvisa, esperança no meio do caos, visto que até 11/02/21, morreram da doença 2.757 pessoas com mais de 60 anos, de um total de 4.821 mortes, no Maranhão, 57,18% de idosos. Levando em conta a proporcionalidade, o percentual de São Luís, cidade de referência neste texto, situa-se na margem apresentada. (Painel Covid-19/MA).

Continuei dando graças a Deus e a São José de Ribamar, quando as autoridades anunciaram a distribuição de vacinas contra a Covid-19 pelo Brasil afora.

Cheguei a acreditar que as coisas iam melhorar, quando as autoridades anunciaram que, dada a escassez do número de vacinas, os profissionais da saúde da linha de frente no enfrentamento à Covid-19 e os idosos com mais de 75 anos teriam prioridade na aplicação das vacinas.

Em São Luís, as ações transcorriam dentro dessa orientação. Idosos cadastrados e recebendo chamada telefônica, conforme maior faixa etária. Também foram introduzidos desdobramentos coerentes. Exemplo: seriam vacinadas pessoas com câncer nos locais onde são tratadas, como também as que fazem hemodiálise, os idosos acamados e institucionalizados.

No entanto, houve uma reviravolta que precisa ser esclarecida. Por que houve a inclusão dos profissionais da saúde que não trabalham na linha de frente da Covid-19 no plano de vacinação, já que há escassez de vacinas? Por que o cadastramento dos idosos parou e depois retomaram de forma lenta a vacinação dos idosos, agora por idade cronológica e somente pelo sistema Drive-Thru? E a indagação mais crucial de todas: Onde estão incluídos os idosos com mais de 85 anos e que não possuem automóvel ou dinheiro para o taxi? Já morreram todos de Covid-19 e não precisam mais ser incluídos?

Na qualidade de professora velha (gosto da palavra, soa verdadeira, enquanto a palavra idosa soa burocrática) engajada na luta contra as desigualdades sociais, não posso me calar e preciso dar nome às coisas. É chocante ouvir as autoridades chamarem na TV essa estratégia de humanizadora. Como os pobres velhos que moram “do lado de lá” vão chegar ao tal drive-thru? de ônibus (para se contaminarem) ou “de a pés” como eles próprios falam, no mais autêntico português/brasileiro?

Por hora, detenho-me, apenas, nesta questão, até porque o “leite já está derramado”, mas não sem registrar que as vacinas aplicadas no pessoal da saúde, considerando diplomas e declarações sem a devida substância comprobatória, mais parece burla do que humanização, alargando ainda mais a janela de tempo que pode custar a vida dos velhos não atendidos ou atendidos tardiamente porque já morreram da doença ou de tanto esperar.

Conclamo as autoridades públicas de São Luís a criarem postos de vacinação descentralizados e distribuídos nos bairros mais pobres para atendimento aos velhos que bravamente sobrevivem do “lado de lá”.

Por que eles somente são visíveis nos períodos de eleições?

Sejamos humanos no sentido legítimo da palavra!

Núbia Bonfim

Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Coimbra

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