Problemas estruturais

Centro Histórico de São Luís tem 51 casarões com alto risco de desabamento

Última catalogação registrou 152 imóveis com possibilidade de desabamento no sítio histórico de São Luís e Alcântara; novo registro está em andamento

Kethlen Mata/ O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
No Centro Histórico de São Luís há, atualmente, mais de 50 imóveis com alto risco de desabamento
No Centro Histórico de São Luís há, atualmente, mais de 50 imóveis com alto risco de desabamento (casarão Rua da Palma)

São Luís – O Centro Histórico de São Luís é um dos pontos históricos mais visitados por turistas, e um dos lugares mais belos e acolhedores da cidade, porém, muitos sobrados que compõem o acerco arquitetônico colonial estão correndo risco de desabamento, devido às fortes chuvas que já se iniciaram e devem continuar até junho. Atualmente, está sendo realizada, pelo Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBMMA), a Operação “Caça Riscos de Desabamentos” no Centro Histórico ludovicense com previsão para término na primeira quinzena de março, até o momento já foram monitorados 107 casarões, dos quais 51 em estado de alto risco para desmoronamento.

Em reportagem de O Estado, datada de janeiro de 2020, foram levantados dados sobre a quantidade de imóveis históricos com risco de desabamento, e segundo o CBMMA, na ocasião, haviam 152 casarões catalogados, 14 deles incluídos na categoria de risco elevado. Para os imóveis do Centro Histórico, existem três classificações: risco leve, médio e elevado. A operação de registro atual, conforme informações do CBMMA, tem como intuito monitorar a situação estrutural das edificações já catalogadas e identificar novos riscos, além de ampliar a área de cobertura e atualizar os dados cadastrais dos imóveis.

A Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Maranhão, foi procurada, no entanto, não respondeu, por causa do ponto facultativo de Carnaval.

Problema histórico
Na manhã desta quarta-feira, 17, O Estado esteve no Centro Histórico para observar o estado de conservação dos prédios, mas a situação não mudou muito em relação ao mesmo período do ano passado. A Rua da Palma – via com maior número de imóveis com risco alto de desabamento –, possui muitos casarões tomados pela vegetação, além de diversos problemas estruturais.

Um dos imóveis desta via está passando por um processo de recuperação e restauração. A atividade faz parte das obras de revitalização do Centro Histórico, projeto do Governo do Estado e da Vale, e valor da obra está orçado em R$ 3.197.084,92 com prazo de término de 270 dias.

Em março de 2019, uma edificação que fica na esquina da Rua da Palma com a Jacinto Maia, caiu próximo ao casarão que está em obras. Atualmente, ele também está sendo reformado e a parte que desmoronou já foi levantada.

O técnico de radiologia, Klebson Serejo, 37, mora em uma casa depois do imóvel que desabou há dois anos. “Foi no período chuvoso de 2019, em uma madrugada, por volta das 3h. Parecia que o mundo que estava desabando”, relembrou. Klebson Serejo contou que não tem medo de desmoronamentos, pois, segundo ele, os casarões que fazem limite com sua residência, estão em bom estado de conservação.

O Estado entrou em contato com a Defesa Civil Municipal para saber como funciona o monitoramento dos imóveis do Centro Histórico por parte do município. Em nota, o órgão informou que, a Fundação Municipal de Patrimônio Histórico (Fumph) realiza, de forma contínua, o monitoramento de todos os casarões, como parte das ações preventivas do Plano de Contingências da Prefeitura.

“O órgão ressalta que há uma lei de incentivo com redução de IPTU para os imóveis em bom estado de conservação e preservação, e que não compete a Fumph a retirada de moradores destes locais, tendo o órgão a responsabilidade pela preservação do Patrimônio Histórico, de maneira compartilhada entre as esferas públicas e a sociedade civil, tendo em vista que a maior parte dos imóveis em estado de abandono é de propriedade privada, alguns até objeto de ações na justiça”, afirmou a Defesa Civil Municipal.

O CBMMA, comunicou, em nota, que na segunda quinzena de março será realizada a Operação “Casarões 2021” que vai atualizar imóveis do Sítio Histórico de São Luís que possuem residentes. De acordo com o último levantamento, 80 pessoas moram em edificações em situação de desabamentos.

Processo de degradação
O engenheiro Civil Pedro Licerio explicou como acontece o processo de degradação desses imóveis e o porquê de eles serem mais vulneráveis durante o período chuvoso. Segundo ele, o processo de desabamento dos prédios históricos acontece por motivos semelhantes a estruturas mais novas que temos hoje.

“Intempéries, utilização indevida do imóvel, tempo de vida da estrutura, falta de manutenção são algumas das principais causas de degradação de qualquer estrutura. No caso específico dos casarões históricos, os materiais utilizados na época da concepção da edificação (ex: pedras, argila, madeira), bem como os métodos construtivos utilizados tinham qualidade inferior ao que podemos encontrar atualmente, o que aumenta a necessidade de intervenções nos mesmos. No período das chuvas o processo de degradação é intensificado pois há maior ataque de agentes químicos agressivos à estrutura, aumentando a possibilidade de desabamento”, frisou o engenheiro civil.

Ano passado, dois casarões históricos caíram em São Luís, um imóvel na Rua Afonso Pena (desabamento parcial de fachada) o outro na Rua Osvaldo Cruz, próximo a Faculdade Estácio (desabamento de telhado); De acordo com o CBMMA, nenhuma edificação caiu total ou parcialmente em 2021.

SAIBA MAIS

Como é feita a catalogação?

Considerando os anos antecessores a 2020, o método aplicado para catalogação, definição do grau de risco e monitoramento das edificações históricas perpassou pelo uso do GPS Etrex 10 Garmin e aplicativo Mobile Topographer para cadastramento da componente espacial, seguido da elaboração de índice indicativo de risco.

Outro procedimento metodológico utilizado foi o método de regressão linear de múltiplas variáveis para a definição do grau de risco e correlação entre as variáveis que compõem o fenômeno de desabamento.

Para o ano de 2021 estão sendo utilizados como procedimentos metodológicos os parâmetros de identificação, classificação e definição do grau de risco especificados pela Norma de Inspeção Predial, NBR 16.747/2020 da ABNT.

NÚMEROS

51 casarões com alto risco de desabamento
2 desabamentos em casarões ocorreram em 2020
80 pessoas residiam edificações em situação de desabamentos, conforme o último levantamento
107 casarões já foram monitorados até agora pela Operação “Caça Riscos de Desabamentos”

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