Tecnologia

Maranhão desenvolve projeto de satélite pioneiro no estado

Pesquisa, encabeçada por acadêmicos e profissionais da UFMA, prevê utilização do dispositivo para monitoramento de embarcações

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
Esboço do satélite tem algumas peças originais
Esboço do satélite tem algumas peças originais

São Luís - O Maranhão está prestes a se inserir no mercado de produção de tecnologia voltado às pesquisas e experiências, além dos limites do planeta Terra. Está em desenvolvimento, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) - no campus Dom Delgado no Bacanga – o projeto de produção do primeiro satélite, denominado de Aldebaran I, genuinamente local e com selo acadêmico. A iniciativa é a única do gênero no segmento Norte/Nordeste.

Os primeiros passos da iniciativa surgiram há alguns anos, no entanto, a aquisição de recursos e licença para a execução, na prática, do trabalho começaram em outubro do ano passado. Sob a liderança do curso de Engenharia Aeroespacial da instituição de nível superior, a montagem do protótipo (um CubeSat) envolve pesquisadores – dentre eles, alunos e professores de diferentes níveis de graduação.

O produto maranhense se insere no grupo dos nanossatélites, equipamentos com menores metragens em escala e que seguem um direcionamento contrário do desenvolvimento de um satélite convencional. Com custo considerado baixo e construção menos complexa do que itens já em órbita no espaço, uma das vantagens do satélite local é a capacidade de recebimento de informações com o uso de materiais mais baratos e, ao mesmo tempo, resistentes.

Dentre os itens, estão componentes como placas eletrônicas montadas em estrutura de alumínio, além de um conjunto de antenas que são fundamentais para a conexão entre o satélite e a Terra. Somam-se a esses itens as placas solares, que alimentam as baterias do módulo quando o satélite estiver na parte escura do planeta, dando autonomia para as baterias. E ainda computador de bordo e itens de rádio.

Apesar do tamanho menor das peças, a metodologia usada para a montagem se assemelha a dos satélites convencionais. Mesmo com a demanda financeira inferior a do mercado internacional, de acordo com os responsáveis, o satélite terá capacidade de desempenhar uma velocidade média de 27 mil quilômetros por hora e altitude de 450 a 650 quilômetros. A definição do alcance, neste caso, estaria condicionada ao lançador ou ao foguete que deverá levar o satélite ao espaço.

Atualmente, o projeto está na fase de testes para a montagem da estação de rastreamento do dispositivo, assim que ele estiver no espaço. Com medidas avaliadas em 10 centímetros de altura, largura e comprimento (bem menores do que os padrões convencionais de satélites), o encaixe do maquinário maranhense exige habilidade dos construtores que, com diferentes cálculos (que mensuram os impactos de possíveis intempéries na órbita terrestre) estão propensos a fazer um equipamento confiável e que registre sucesso em seu lançamento e manutenção no espaço.

Se for exitoso, este será o quinto satélite do tipo produzido em solo brasileiro, deste tipo, que terá a condições de envio de informações fundamentais para a análise e entendimento do globo terrestre (como impactos meteorológicos por exemplo e efeitos de fenômenos atmosféricos na consolidação de biomas). A primeira iniciativa foi da Universidade de Santa Maria, que lançou seu artefato no espaço em 2014.

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Utilidade do satélite maranhense
O Estado
conversou com a equipe de pesquisadores que constrói o primeiro satélite montado em solo local. Apesar de uso de peças importadas, o dispositivo é considerado um marco no campo de pesquisa acadêmico.

Em uma sala no Centro Pedagógico Paulo Freire, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), os responsáveis expuseram o esboço do que será o satélite na prática. As peças do dispositivo estão em fase de aquisição e têm previsão de chegada ao estado a partir do segundo trimestre deste ano. Como se trata de compra pública, preliminarmente o grupo de pesquisa seleciona fornecedores e são requeridas cotações para posterior seleção do melhor valor, considerando o retorno técnico-científico.

Antes da chegada dos equipamentos, os pesquisadores se dedicam a evoluir nas técnicas de captação de sinais, a partir do nanossatélite e de outros itens no espaço. Pesquisadores do curso estão capacitados na elaboração de acessórios (como antenas auxiliares) que, a partir do compartilhamento com aplicativos na internet, são capazes de captar sinais não somente do nanossatélite maranhense, como de outras máquinas na atmosfera.

Um dos experimentos do gênero foi feito no dia 21 de janeiro deste ano, na orla de São Luís. A escolha do local se deu para evitar quaisquer interferências de captadores externos (como antenas de telefonia) nos testes.

Na simulação, os pesquisadores conseguiram obter informações, por exemplo, sobre a presença do FloripaSat, um nanossatélite elaborado pelo Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e que está no espaço representando a tecnologia nacional.

“Estes experimentos são importantes para a equipe ter condições de captar as informações enviadas pelo satélite. A partir daí, os dados são armazenados e calculados para uso em diferentes fontes de pesquisa e conhecimento”, afirmou o professor Luis Cláudio de Oliveira Silva, do curso de Engenharia Aeroespacial da UFMA.

Dentre as funções objetivadas para o dispositivo, estão a promoção da chamada agricultura de precisão (fixação de plantações por exemplo obedecendo as condições naturais propícias), além do monitoramento de desastres naturais e embarcações, para planejamento urbano, para sensoriamento remoto e vigilância de fronteiras.

Equipe de alunos e pesquisadores que participam do projeto
Equipe de alunos e pesquisadores que participam do projeto

SAIBA MAIS

O CubeSat maranhense foi batizado de Aldebaran I, pois, de acordo com os idealizadores da pesquisa, trata-se de uma homenagem à cultura do bumba meu boi. Segundo integrantes de grupos folclóricos, Aldebaran é a estrela que é fixada na testa do boi encantado que faz parte das festas juninas. Em termos astronômicos, denomina a estrela mais brilhante da constelação de Taurus, situada a 64 anos luz da Terra.

Outros dispositivos

Lançada em 19 de junho de 2014, a primeira missão espacial brasileira foi o CubeSat NanosatC-Br1. Os dados dos subsistemas de sua plataforma e carga úteis são utilizados em pesquisas sobre clima espacial e fenômenos que impactam a Terra.

O sucesso do NanosatC-Br1 impulsionou outras missões brasileiras. Entre os atuais projetos, destaca-se o Sport, em parceria com a agência espacial norte-americana (NASA), o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e universidades dos Estados Unidos.

O projeto NanosatC-Br é coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em colaboração com universidades brasileiras e o apoio da Agência Espacial Brasileira (AEB).

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