Artigo

Vale tudo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

As primeiras notícias do surgimento do novo coronavírus cumpriram todas as etapas do famoso adágio popular: “ver para crer”. Seria só um problema localizado na China, foi o que acreditamos no início. Não faltaram teorias conspiratórias: “Os americanos desenvolveram o tal vírus para causar um dano na economia chinesa”. Da outra ponta ideológica veio o raciocínio de que: “Os chineses criaram o vírus para prejudicar a economia global e terem crescimento nesse cenário”. Quero acreditar que nenhuma das teses seja verdadeira.

Também houve quem dissesse que o vírus sequer existia. Ainda há os tais defensores da ideia, mas eles são bem menores a cada dia que passa, na medida em que a rede de infecção chegou a um ponto, que não custa arriscar dizer, que todo ser humano conhece alguém que se tornou vítima fatal da Covid-19. A descrença trouxe uma intrigante particularidade. Foi exatamente entre os cultivadores da fé que mais cresceu a ideia de não acreditar em algo que não se pudesse ver. Uma inversão de lógica.

A chegada à Europa assustou o mundo. A Itália sofreu muito e chocou o planeta com a rápida disseminação e o elevado número de óbitos. Mas logo vieram os atenuantes esperançosos a iludir o resto do mundo: “A população europeia tem uma média de idade muito elevada, a Europa e a Itália não tem hábito de se vacinar e adquirir imunidade cruzada, o clima frio é propício ao vírus”, etc. Ou seja, o que estava acontecendo na Itália haveria de ficar somente na Itália. Ledo engano. A chegada ao continente americano mostrou que os acontecimentos da China e da Europa eram um ensaio do poder devastador do vírus que por aqui mostrou o seu maior potencial.

Vivemos a “primeira onda” que tratou de nos ensinar que poderia existir um novo mundo, com distanciamento social, trabalho a partir da própria casa, higiene cuidadosa das mãos e o uso de máscaras. Essa receita mostrou ser eficaz, pois os óbitos e o contágio recuaram bastante, ao ponto de se acreditar que a pandemia estava indo embora. Mais uma vez nos enganamos.

A impressão é que o vírus passeia no meio de um monte de erros de todos os lados. Da população, que teima em se aglomerar, dos governos que em medidas diferentes não querem se expor a um ou outro setor da opinião pública e vão tapando os olhos, permitindo concessões no combate ao vírus e se agarrando na esperança sem lógica de que tudo vai passar por obra do destino. E aí não entra só o presidente Bolsonaro. A ele cabe a maior responsabilidade pelo poder que representa e pela necessidade de unificarmos essa batalha. Fica difícil esperarmos que saia algo de útil da cabeça de alguém de onde nunca saiu nada a vida toda. Bolsonaro não deve demorar a ser carta fora do baralho. O mundo já não o suporta. Vamos fazer a nossa parte.

Todas as cidades correm o risco de se tornar a Manaus do amanhã. A falta de planejamento e o exagerado otimismo deixaram eleições, confraternizações e festas correrem frouxo, nos trazendo uma nova onda com variantes do vírus e o desafio bem claro de que ou vencemos a guerra ou ficamos com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando..., como dizia Raul Seixas. A vacina é só o início de um caminho que precisa ser percorrido. Já sabemos por onde passa esse caminho que pode nos livrar da dor e do sofrimento que a pandemia vem nos causando. Se não queremos prolongar essa batalha, devemos utilizar tudo o que já conhecemos para vencer a doença. Vale trazer mais vacinas para todos. Vale continuar com as medidas de combate à propagação do vírus. Vale respeitar a prioridade na vacinação... Agora, vale tudo ...

Steffano Silva Nunes

Médico veterinário e estudante de Economia

E-mail: steffanonunes@gmail.com

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