Fome

Insegurança alimentar atinge 12% das famílias do Nordeste, diz Unicef/Ibope

Em março de 2020, mais de 20,7 milhões de brasileiros deixaram de comer por falta de dinheiro; segundo levantamento, 30% dos entrevistados disseram que não estavam trabalhando no início da pandemia e continuam sem ocupação

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
A pandemia de Covid-19 deixou muitas famílias em dificuldades financeiras, principalmente no Nordeste
A pandemia de Covid-19 deixou muitas famílias em dificuldades financeiras, principalmente no Nordeste (Pandemia e fome)

BRASÍLIA - Muitas famílias brasileiras passaram por dificuldades financeiras em 2020, principalmente pelos impactos da pandemia do novo coronavírus. A situação no Nordeste do país está entre as mais graves. Uma pesquisa do Unicef com o Ibope revela que, desde o início da crise provocada pela Covid-19, 12% das famílias que vivem na região afirmam que houve dias em que deixaram de comer porque a comida acabou e não havia dinheiro para comprar mais.

Mãe de dois filhos, a trabalhadora autônoma Karla Daniele Araújo, de 35 anos, se encontra nessa circunstância de insegurança alimentar. A moradora de São Luís, no Maranhão, conta que depende da ajuda de outros familiares para conseguir por comida na mesa, já que o emprego de revendedora de cosméticos não tem gerado renda suficiente para comprar mantimentos.

“As vendas caíram muito devido a pandemia. Eu tive dificuldade para receber o auxílio emergencial. Se não fosse minha família, estaria passando fome, porque sou mãe solteira, crio meus filhos sozinha, e só tenho minha mãe que trabalha, e também está sendo muito difícil para ela me ajudar”, relata.

Em todo o Brasil, de acordo com o levantamento, 30% dos entrevistados disseram que não estavam trabalhando no início da pandemia e continuam sem ocupação, e 14% estavam com emprego, mas atualmente estão desempregados. Entre as pessoas que residem com crianças ou adolescentes e tiveram diminuição da renda, 64% informaram que o motivo foi a redução do salário de alguém da família.

Segundo a especialista do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (UnB), Elisabetta Recine, as dificuldades enfrentadas por pessoas como Karla Daniele, ou seja, com crianças em casa, é ainda mais complicada, devido a maior necessidade que esse grupo tem de consumir alimentos na quantidade e qualidade ideal para uma boa formação física e mental.

“Pensando para crianças pequenas, é importantíssimo que haja a maior variedade possível de alimentos naturais, preparados em casa, por exemplo, para que você consiga basicamente duas coisas: primeiro, um aporte nutricional em termos de quantidade de alimentos suficientes para o crescimento, mas também uma variedade de alimentos. Porque é nesse período que os hábitos alimentares vão se formando”, explica.

Políticas públicas

Nesse sentido, a oficial de Saúde do Unicef, Stephanie Amaral, destaca que esse contexto chama a atenção para o desenvolvimento de políticas públicas capazes de melhorar as condições alimentares das famílias mais pobres do País.

“Uma pergunta que tem sido feita há muito tempo é: como melhorar a alimentação das populações, principalmente as mais vulneráveis? Entre os exemplos de políticas públicas que podemos pensar estão subsídios para alimentos mais saudáveis, para que se tornem mais baratos; melhorar o acesso para que esses alimentos se façam presentes nos locais mais vulneráveis. É trazer informação de qualidade para que as pessoas saibam o que estão consumindo e o que deveriam consumir”, orienta.

Panorama nacional

Desde o início da pandemia, em março de 2020, mais de 20,7 milhões de brasileiros passaram por momentos em que deixaram de comer por falta de dinheiro. Esse é o drama vivido por famílias que sofrem com a insegurança alimentar. Os dados constam em pesquisa do Unicef. Ainda de acordo com o levantamento, 5,5 milhões de brasileiros que moram com crianças ou adolescentes passaram por algum momento em que deixaram de comer por dificuldade financeira.

A chegada de 2021 trouxe um marco para as políticas públicas brasileiras. O auxílio emergencial, maior programa de transferência de renda da história do país, foi oficialmente encerrado na virada do ano.

Junto com ele, são terminados o orçamento de guerra e o estado de calamidade pública, que permitiram que o governo aumentasse consideravelmente seus gastos em meio à pandemia – e bancasse um programa do tamanho do auxílio emergencial.

Com a virada do ano, o governo voltou às regras orçamentárias de antes da crise, com pouco espaço para manobra nos gastos. O novo coronavírus chegou ao Brasil em fevereiro. Naquela altura, os retratos da Europa e da China mostravam o potencial destrutivo da doença, tanto do ponto de vista da saúde como da economia.

Num primeiro momento, o governo hesitou em elevar as despesas, titubeando em abrir mão dos princípios de austeridade e controle das contas públicas, característicos do discurso econômico desde a campanha eleitoral de 2018.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, reforçou publicamente a aposta nas reformas – administrativa, tributária e de Estado – como direção a ser seguida, mesmo com a perspectiva iminente de uma crise econômica grave.

Em paralelo, o governo brasileiro não incentivou medidas de isolamento social. O presidente Jair Bolsonaro, inclusive, minimizou a doença e defendeu uma falsa contraposição entre saúde e economia.

Em meio à demora de ação do Executivo federal, o Congresso se mobilizou para abrir espaço para um aumento de despesas. Além de aprovar o estado de calamidade pública e o orçamento de guerra, os parlamentares articularam a criação do auxílio emergencial.

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