Artigo

O pulmão do mundo ficou sem ar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

Dizem que a asfixia é a pior das mortes. Somado à ignorância política, pior ainda.

Triste vê pela TV a angústia de brasileiros, morrerem asfixiados pelo descaso de governantes incompetentes, nocivos, omissos, impiedosos e assassinos. O que está acontecendo no Amazonas, e especial na capital, Manaus, não é obra do acaso, ou praga divina, mas uma tragédia anunciada, com desfecho previsível.

Quando o coronavírus começou a fazer estragos pelo mundo, entre inúmeras sandices propagadas, uma era que o vírus não se propagaria em regiões quentes, e, logo em seguida começou a matar inclemente na tórrida Manaus; e assistimos ao vivo e em cores turvas as imagens de enterros coletivos, em covas rasas, abertas a toque de caixa, e conteneres refrigerados para guardar corpos que se empilhavam. Imagens que correram o mundo expondo nossa fragilidade em lidar com o flagelo.

O corona mostrava ao Brasil e ao mundo o sistema capenga de saúde daquele estado. Os dias se passaram, caiu o número de óbitos, 85% de leitos de UTIs foram desativados, o comércio reabriu, as pessoas se aglomeravam como se não houvesse amanhã, relaxando o uso de máscaras. Os cientistas e agentes de saúde continuaram alertando que nada estava normal, e poderia acontecer uma segunda onda, como estamos assistindo. Voltou mais intensa, com variantes, nova cepa mutante do coronavírus, contaminação mais célere, mais mortes e maior caos.

Na última quinta-feira, 14, a escassez de oxigênio nos hospitais das redes pública e privada agravou o colapso do sistema de saúde em Manaus. Onde estão os procuradores do MPF? Onde se escondem a maioria do Senado e Câmara Federal?

O Brasil está morrendo asfixiado, estamos sem ar, vendo as comoventes imagens de irmãos manauaras, no desespero, clamando por um cilindro de oxigênio, que pode salvar vidas. O caos que acompanhamos em Manaus pode se alastrar pelo Brasil inteiro, e o mais triste, estamos sem comando. O presidente da república, e seu ministro da Saúde, general do Exército, não têm expertise para o cargo, face à gravidade que a situação exige. Eduardo Pazuello, terceiro ministro da Saúde no atual governo, tido como especialista em logística, ainda não mostrou a que veio. Especialista em dar bronca em jornalistas, com sua empáfia e arrogância, é um desastre. Nem no dia D e na hora H, Pazuello mostrou serviço. Dia D foi de ‘D’oria com a vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantã, que saiu na frente.

Governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), que responde a inquéritos da PF e da CGU, diante do colapso da saúde, pediu socorro ao governo federal e a outros estados: Maranhão e Piauí foram os primeiros a recebedor os enfermos.

Augusto Pantoja, ludovicense, dileto amigo, residente em Manaus, me informa diariamente do drama vivido por pessoas próximas.

O coronavírus veio para avivar nossas mazelas, clarear nossa incompetência, expor nossas deficiências, mostrar a falta de: responsabilidade, zelo, cuidado, empatia, despreparo e falta de compromisso de nossos governantes. Quando vemos o presidente Jair Bolsonaro bater boca com o governador de SP, João Doria, por causa da vacina, que salva vidas, sentimos na pele que estamos à mercê de vaidades pessoais; e a Covid-19 só agradece, pois continua a matar sem dó.

Testemunhamos a trágica e insolente aliança entre: despreparo, ignorância, omissão, irresponsabilidade, bufonaria, obscurantismo e negacionismo.

Alguém tem que pagar por ter lavado as mãos diante de tamanha barbárie.

Paradoxal, que o pulmão do mundo, a Amazônia, pessoas morram a procura do ar.

Nem tudo é notícia ruim, hoje é o último dia do mandato de Donald Trump, o ignóbil.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes

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