Artigo

A invasão ao Capitólio Americano - Um Filme

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

Não pareciam reais. As cenas eram daqueles filmes americanos de fim dos tempos, de destruição e caos. Uma multidão de pessoas comuns - médicos, advogados, pequenos empresários, classe média/alta - invadindo um prédio público, fortemente guarnecido, enquanto acontecia importante evento institucional. Do outro lado, uma poderosa segurança armada e teoricamente preparada, de reação letal. Letal para os dois lados.

De logo, nos chocamos com as imagens. E, ao constatarmos se tratar de um dos edifícios mais protegidos da Terra, em país dito como a maior democracia do Mundo, a visão parece ser realmente cinematográfica, pra não dizer apocalíptica.

Num balanço frio: Cinco mortos, incontáveis feridos e o edifício depredado pela força da turba descontrolada e pelas barricadas improvisadas da defesa desesperada dos agentes de segurança. Uma imagem de guerra.

O motivo? Aí a loucura parece completa. Os devotos de Trump - o presidente inconformado com a derrota nas urnas e reativo à entrega do cargo – tentaram impedir, à golpes de violência, a declaração formal do Parlamento Americano, tocante ao resultado das eleições. Algo puramente protocolar, afinal o resultado tem sido contestado pelo derrotado desde o fim das apurações, em todas as instâncias possíveis e imagináveis, mas sempre restando convalidada a eleição de Biden.

O presidente americano eleito foi muito feliz quando, ao comentar - e lamentar, o triste acontecimento, afirmou que a fala do presidente da república, quando bem posta, inspira e quando mal colocada, instiga.

Inaceitável que cidadãos se comportem como gado, ainda que instigado pelo líder, agindo como um rebanho em debandada, sem pensar, sem refletir. E a reação da segurança? Teria sido proporcional? De fato, a intolerância aqueceu a temperatura do triste episódio e a ignorância de manada fez tudo explodir.

O mundo civilizado parece menos civilizado. A cultura dos smartphones, das informações superficiais, dos posicionamentos políticos e sociais extremados e do desejo doentio de alguns de pertencimento à um grupo – por mais maluco que seja esse grupo – parece ser o mal da atualidade. E esse comportamento de intolerância, incompreensão e violência parece só aumentar, numa crescente onda de alienados ou simplesmente equivocados, nascidos da surrealidade das redes sociais. Agora, quando chefes políticos contribuem para o estouro dessa massa com um posicionamento ou discurso de embate, de enfrentamento físico, pronto, está armada a bomba social, esperando apenas explodir.

Em verdade, a sociedade moderna vive um confuso momento histórico, nascido da nova e definitiva maneira de interação social através das redes de internet. Aí, alguns líderes políticos, pretendendo crescer em popularidade, buscam a identificação com esse ou aquele grupo, com essa ou aquela forma extremada de pensar, à direita, à esquerda, ou qualquer outra bandeira. Tudo bem, o problema é a radicalização. O debate de ideias e ideais é coisa boa, apenas não deveria servir de impulso para o ódio, para a incompreensão e, principalmente, para a desconstrução do equilíbrio social.

Cabe aos líderes a correta condução dessas discussões, mas a culpa ou responsabilidades não é só deles, afinal, líderes lunáticos só vicejam quando há liderados igualmente lunáticos.

Não, não foi um filme a invasão ao capitólio americano. É a realidade, superando os absurdos da ficção, por mais criativa que seja.


Márcio Coutinho

Advogado e escritor

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