Artigo

+Sem ilusão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

O inusitado nos acontecimentos ocorridos nos Estados Unidos não foi, principalmente, os fatos tais como ocorreram e continuam ocorrendo, com início no dia 6 de janeiro, quando o Congresso se reunia para confirmar, como acabou confirmando, a vitória de Joe Biden no Colégio Eleitoral americano, conforme exigência constitucional do país.

O singular, no pior sentido desta palavra, foi ter sido a invasão do Capitol Hill (a Colina do Capitólio), metonímia do Congresso dos Estados Unidos, por uma turba heterogênea de ultradireita, composta principalmente por seguidores do próprio presidente da República, Donald Trump. Este não apenas incitou seus seguidores à ocupação violenta do parlamento, sendo um dos objetivos declarados dos invasores, “pendurar” pelo pescoço a presidente da Câmara dos Deputados, o vice-presidente Mike Pence, bem como vários políticos; ele passou os quatro anos de seu mandato criando o clima favorável para tal tipo de ação, com exortações permanentes a seus seguidores contra os valores democráticos e completou seu trabalho com a mentiras sobre fraudes contra sua reeleição. Muitas pessoas acreditaram, entre elas supremacistas brancos. Cinco pessoas acabaram mortas, lamentavelmente, na violência inevitável de eventos como esse.

Quem viu a reação da polícia de Washington, com a ajuda da Guarda Nacional deslocada rapidamente de outros Estados, quando das manifestações contra o assassinato, por quase nada, do negro George Floyd pela força policial, percebeu a violência, a brutalidade e a inexistente preocupação com vidas humanas usadas na ocasião. Afinal, muitos daquela multidão eram composta apenas de pretos, gente cujas vidas valem pouco. Quem viu, então, aquele modo policial de operar, irá se perguntar agora se a polícia era a mesma. Era. No entanto, vários policiais, desta vez, não a maioria, é evidente, chegaram a confraternizar com os invasores e, até, a mostrar como chegar mais rapidamente a determinadas áreas do prédio. Mas a atitude da polícia como um corpo único foi de conivência. Afinal, eram brancos os invasores.

A tentativa de golpe por Trump não terminou ainda. O FBI anunciou um plano dos invasores do Capitólio de provocar balbúrdia no dia da posse de Biden em Washington e nas capitais dos 50 Estados. Vamos aguardar a derrota desses golpistas.

Se a democracia dos Estados Unidos, que tem uma constituição que está em vigor desde 1789, portanto há 231 anos, está sujeita a acontecimentos como esses, então nós aqui no Brasil também estamos. Bolsonaro é discípulo da igreja de Trump, a quem se ajoelha, venera e segue o catecismo. Agora mesmo, além das muitas atitudes e declarações golpistas, reafirmou sua descrença nas urnas eletrônicas do Brasil, exigindo o voto impresso. “E aqui no Brasil, se tivermos o voto eletrônico em 2022, vai ser a mesma coisa. A fraude existe.” O mesmo argumento de seu Sumo Sacerdote. É evidente seu desejo de preparar o terreno com o fim de questionar o resultado da eleição presidencial de 2022. Não se iluda, por favor, caro eleitor, as instituições brasileiras têm de ser firmes e atentas Se não for assim, correremos o risco de ter um ditador amalucado no comando do país, acolitado por quatro filhos tão malucos quanto ele, com suas rachadinhas e teorias conspiratórias. Se continuarem soltos, haveremos de construir uma Casa Verde, como a de Itaguaí e chamar Simão Bacamarte para dirigi-la, mas proibi-lo de libertar os internos.

Lino Raposo Moreira

PhD, economista, membro da Academia Maranhense de Letras

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