Editorial

A incerteza com o fim do auxílio

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

Desespero e incerteza marcam a realidade para parte dos 67,9 milhões de pessoas que sobreviveram até aqui durante a pandemia da Covid-19 com o auxílio emergencial encerrado em dezembro, em meio ao desemprego e fechamento de atividades, necessário para o isolamento social. Um estudo mostra que, com a pandemia em pleno andamento e fim da ajuda financeira dada pelo governo, o país deve ter este ano mais de 17 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 1,90 por dia; desigualdade, que caiu em 2019, deve voltar a subir.

Conforme levantamento da Consultoria Tendências, existe uma projeção de queda de cerca de 8% na renda nas economias das regiões Norte e Nordeste após a extinção do benefício, que segue sem substituto; o programa custou quase R$ 300 bilhões aos cofres da União. Até o momento, o governo Bolsonaro não acena com a possibilidade de estender, mais uma vez, o auxílio emergencial.

Uma coisa é certa: sem a ajuda federal, as duas regiões vão colher uma forte queda na renda e um crescimento mais baixo do que a média nacional neste ano. Ainda conforme estudo, o rendimento dos habitantes da região Norte saltou 13,1% no ano passado, enquanto que o dos habitantes do Nordeste cresceu 8,3%. Em 2021, porém, os dados apontam para uma reversão: a renda do Norte vai despencar 8,5% e a do Nordeste, 8%. Como comparação, a renda de todo o Brasil cresceu 4,6% no ano passado e deve recuar 3,7% em 2021.

A economista Alessandra Ribeiro alerta que as regiões Norte e Nordeste foram as que tiveram o maior número de domicílios beneficiados pelo auxílio emergencial, porque são os locais com maior informalidade. Então, o fim do auxílio afeta bastante a região Norte e, especialmente, o Nordeste. Segundo a Caixa Econômica Federal, as transferências da União somaram R$ 292,9 bilhões e alcançaram quase um terço da população do país.

Ainda segunda a economista, o Nordeste deve ter o menor crescimento, muito por causa do fim do auxílio. É uma região que depende de transferências governamentais e de investimentos públicos. E, diante da situação fiscal adversa (do país), não existe a previsão de grandes projetos ou investimentos públicos que possam trazer um impulso para a região. O resultado é que o fim do auxílio emergencial vai abrir uma lacuna preocupante no orçamento das famílias mais pobres. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que 2,9 milhões de domicílios (4,3% do total) sobreviveram, em novembro, apenas com o valor do benefício.

No fim do ano passado, o presidente Bolsonaro chegou a ensaiar a criação de um programa para substituir o auxílio, mas a proposta não foi adiante por causa da restrição fiscal do país e da falta de consenso dentro do próprio governo. Vale lembrar que o custo do auxílio - de quase R$ 300 bilhões - é dez vezes superior ao orçamento do programa Bolsa Família, que em 2021 está estimado em R$ 35 bilhões.

Segundo analistas, o governo está totalmente engessado, as contas públicas estão comprometidas e há um déficit fiscal extremamente elevado. Tudo isso faz com que o governo perca uma das ferramentas mais importantes, que é a política fiscal. A equipe econômica projeta um rombo recorde em 2020, de R$ 831,8 bilhões, o que levaria a dívida bruta do setor público a patamares próximos de 100% do PIB.

Portanto, chega-se à seguinte conclusão: Se nada for feito, a política social vai continuar com a mesma potência que em 2019, mas em uma realidade completamente diferente. Durante a pandemia, as pessoas perderam a renda do trabalho. Com o auxílio, essa queda foi compensada, mas, como não há alternativa para 2021, podemos cair em uma situação pior do que antes. Acabar com o auxílio emergencial é jogar de novo essas pessoas na pobreza.

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