Pandemia e as crianças

Férias: crianças e adolescentes aproveitam espaços públicos e revitalizados de São Luís

Com atividades regulares interrompidas parcial ou integralmente com a pandemia, alunos da rede pública e privada se divertem no tempo livre, cada um da maneira que gosta

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

[e-s001]São Luís - Com o início da pandemia do novo coronavírus, em março deste ano, as atividades escolares nas redes pública e privada, em São Luís, foram interrompidas. Nos últimos meses, algumas destas unidades passaram a promover agendas de forma remota ou obedecendo a critérios de distanciamento entre os estudantes no espaço de sala de aula. Unidades privadas conseguiram reverter, em alguns casos, a paralisação de suas agendas, o que não ocorreu integralmente em instituições públicas de ensino, que tomam medidas para regularizar suas programações.

No fim de ano, quando em tempos “normais”, as escolas registrariam o período de férias escolares, as crianças aproveitam o tempo mais livre para se divertirem. No entanto, até mesmo para este tipo de “inocente” ato, é preciso que os jovens sigam a regras de prevenção contra a Covid-19.

Duas normas são fundamentais para os jovens que pensam em brincadeiras, em especial, nos recentes espaços físicos entregues de forma revitalizada na capital maranhense. Um deles é o uso de máscaras, que dificultam o acesso do vírus via oral. Apesar da recomendação, alguns especialistas entendem que, se a criança não tiver o vírus, não há necessidade do uso do acessório.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em texto recente publicado em seu site, ressaltou esta norma. Outro ponto a ser obedecido, de preferência, é quanto à aplicação de álcool gel nas mãos dos pequeninos e pré-adolescentes.

LEIA TAMBÉM:

EaD não reduziu participação de alunos em aulas públicas em SL

Por ora, a ciência ainda desconhece os reais danos do coronavírus entre os mais jovens. Estipula-se, no meio acadêmico, que os jovens teriam uma espécie de sistema imunológico mais resistente ou menos suscetível a doença, que acomete por exemplo adultos e, principalmente, pessoas do público idoso (acima dos 60 anos).

Se por um lado a diversão em espaços públicos pode significar, dependendo da demanda, em concentração – ainda que passageira – de pessoas, por outro, levar as crianças para uma diversão ao ar livre representa uma medida preventiva mais importante do que simplesmente deixar este público protegido em casa, fechados em um quarto sem qualquer luz ou reflexo solar (considerando os efeitos positivos dos raios ultravioleta na produção da chamada vitamina D, que seria fundamental no controle do novo coronavírus).

O Estado observou a frequência dos mais jovens em determinados horários durante a semana e soube dos pais ou responsáveis o que está sendo feito para proteger as crianças, assegurar uma diversão mais segura e, ao mesmo tempo, aproveitar o período livre.

Os contrastes sociais e o entretenimento na pandemia
Duas realidades distantes em uma mesma cidade foram constatadas por O Estado durante a produção desta reportagem. Enquanto na Camboa, um grupo de aproximadamente 10 crianças e adolescentes de 7 a 14 anos aproveitava o tempo livre para jogar aquela “pelada” de fim de tarde, um grupo de crianças e pré-adolescentes na Praça da Lagoa, na Ponta do Farol unia-se em prol da pedalada.

O contraste neste caso não está presente somente na disponibilidade de espaços públicos e na forma de entretenimento. Se os jovens da área considerada nobre, devido as condições sociais de seus moradores, estão tranquilos, pois concluíram o calendário letivo - mesmo com a pandemia -, os da Camboa não sabem quando seu ano letivo será concluído, apesar dos dados positivos de frequência escolar apontados pelos órgãos de educação locais.

Alguns destes da área mais periférica da capital estão sem aula – devido à Covid-19 – há quase um ano. E sem condições de manter uma internet móvel ou mesmo um celular, seus pais ou responsáveis legais decidiram simplesmente esperar pelas autoridades públicas acerca do reinício das aulas.

[e-s001]O jovem João, de 11 anos, estava no chamado “desafiado” - ou espera por uma vaga no time – na pelada da Camboa. Durante a espera, ele contou a O Estado que não sabe quando voltarão as suas aulas. “Ainda não disseram para minha mãe sobre quando isso acontecerá”, disse.

Em contrapartida, Catarina, de 10 anos, que brincava com seus amigos na Ponta do Farol, ressaltou que suas aulas terminaram no dia 11 de dezembro de 2020. Segundo ela, suas atividades serão retomadas em 18 de janeiro de 2021. “Enquanto isso, tive a maior parte do tempo um dia em casa e outro dia na escola. Também usei bastante meu computador para acompanhar as aulas”, disse.

Já João, morador de São Luís, mas da periferia, afirmou que não possui celular ou computador para uso escolar. “Não tenho. Meus pais não têm condições de comprar”, comentou. A realidade contrasta com a de Lucas Atten, de 11 anos. “Terminei minhas aulas e agora estou aproveitando as minhas férias”, disse.

Realidades tão distintas em uma mesma cidade mostram o déficit no aproveitamento escolar e o distanciamento na assimilação de conteúdo entre crianças e adolescentes de diferentes segmentos sociais. Contrastes ainda mais ressaltados devido à uma doença que, infelizmente, acomete sim pessoas mais jovens.

SAIBA MAIS

CRIANÇAS E MORTES POR Covid-19 NO BRASIL

Levantamento do último Boletim Epidemiológico Especial, divulgado pelo Ministério da Saúde (MS), mostrou que, até o dia 5 de dezembro de 2020, 514 crianças de até 5 anos morreram de Covid-19 no Brasil.

Segundo a União, foram 344 bebês de até um ano de idade e 170 crianças de 1 a 5 anos mortos pela Covid-19 no país. Apesar do índice, o saldo pode ser ainda maior, já que até o fechamento desta edição alguns casos ainda estavam sob investigação.

Até setembro deste ano, de acordo com dados do próprio MS, pelo menos 197 crianças e adolescentes brasileiros apresentaram uma doença que pode ser caracterizada como potencialmente associada com o coronavírus. De acordo com a pasta federal, do total de crianças, 140 tinham menos de 10 anos no momento em que adoeceram

QUADRO NO MARANHÃO COM CRIANÇAS

De acordo com o último boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) até o fechamento desta edição, dos mais de 200 mil casos da doença confirmados em 2020, aproximadamente 5,4 mil casos foram registrados em crianças de 0 a 9 anos de idade. O índice representa 2,7% do total de registros da doença no estado.

Mesmo com o percentual considerado baixo, em dados absolutos, o saldo é considerado preocupante. Considerando os óbitos, ainda de acordo com o boletim da SES, foram 21 mortes ligadas à Covid-19 envolvendo crianças de 0 a 9 anos de idade. O total é compatível com 0,4% dos óbitos conectados à doença em 2020.

O QUE A CIÊNCIA DIZ SOBRE CRIANÇAS E COVID?

Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) apontam que a partir das últimas pesquisas, os casos de Covid-19 atingem menos as crianças, em comparação aos adultos. No entanto, o número menor de casos não representa, a princípio, que as crianças estariam mais ou menos protegidas do que o público adulto.

Para a SBP, existe uma espécie de “subestimação” em relação ao número exato de casos. De acordo com a entidade, a quantidade de crianças com a doença pode ser maior do que o estipulado.

Isso pois, segundo a instituição, o público infantil estaria menos sujeito às fontes de transmissão, em especial, pelo contato direto com itens ou objetos utilizados em tese por pessoas infectadas. Segundo pesquisa recente reconhecida pela SBP, cerca de 80% dos casos da doença constatados em crianças tiveram como fonte de transmissão um indivíduo inserido no eixo familiar.

CUIDADOS A SEREM TOMADOS COM CRIANÇAS

  • É importante ficar em ambiente arejado
  • Receber o mínimo de visitas
  • Evitar contato mais próximo com pessoas mais velhas
  • Quem estiver junto da criança deve estar sempre com máscara de proteção
  • Após banho ou troca de fralda, é fundamental fazer a higiene das mãos

PERGUNTAS E RESPOSTAS

SBP: Sociedade Brasileira de Pediatria

Qual é o risco de uma criança ficar doente com o coronavírus?

Com base nas evidências científicas atuais disponíveis, as infecções pelo Covid-19 parecem afetar as crianças com menos frequência e menos gravidade do que em adultos. Um estudo recente, publicado no início de março de 2020, sugere que as crianças são tão propensas a se infectarem quanto os adultos, mas apresentam menos sintomas ou risco de desenvolver doença grave.

Por que as crianças seriam afetadas com menos frequência?

Isso pode ocorrer pois as crianças são menos expostas às principais fontes de transmissão. Como a maioria das crianças infectadas não apresenta sintomas ou os sintomas são menos graves, os testes diagnósticos não são realizados em muitos casos, fazendo com que o número real de crianças infectadas seja subestimado.

Quem transmite a infecção para a criança?

A maioria das crianças infectadas pelo Covid-19, segundo os dados atuais, tem um contato familiar com diagnóstico da infecção. Das crianças infectadas na China, em 82% dos casos foi comprovado contato domiciliar.

Quais são os sintomas que a criança apresenta?

Os sintomas são os comuns de resfriado, como febre, coriza, dor de ouvido, dor de garganta, e dor de cabeça, mas também podem ocorrer aumento da frequência respiratória e pneumonia.

Como proteger as crianças da infecção por Covid-19?

Lavar as mãos com frequência usando água e sabão em quantidade suficiente e de maneira adequada, além de evitar contato com pessoas doentes que estejam com algum sintoma como tosse, espirros ou febre).

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)

NÚMEROS

21 óbitos de crianças de 0 a 9 anos foram registrados por Covid-19 no MA
5.412 casos de crianças de 0 a 9 anos foram registrados de Covid-19 no MA
514 crianças de até 5 anos morreram de Covid-19 no Brasil
80% dos casos da doença constatados em crianças tiveram como fonte de transmissão um (a) indivíduo (a) inserido (a) no eixo familiar
197 crianças e adolescentes brasileiros apresentaram a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica

Fontes: Ministério da Saúde e Secretaria Estadual de Saúde

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.