Conforto

A importância da fé em tempos de pandemia e isolamento social

Para muitas pessoas, a religião é um amparo em momentos difíceis; O Estado, buscou saber como foi a pandemia sob o ponto de vista de diferentes religiões

Kethlen Mata/ O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

São Luís – Que o ano de 2020 ficará na história, não há dúvida, porém, a pergunta é: ainda seremos os mesmos, depois de tantas perdas, de um distanciamento imposto – e necessário –, de uma crise financeira, e tantos outros problemas? Com certeza, um questionamento que ainda não se tem resposta. No entanto, para grande parte da população, há algo que traz conforto e esperança e que precisou se reinventar nesse cenário, a religião.

O Estado, conversou com líderes religiosos de cinco doutrinas distintas, e tentou entender, como cada uma se adaptou ao “novo normal”, sem perder o contato com os seus fiéis. Foram entrevistados para a reportagem, um Padre, o líder espiritual de um Tambor de Mina, uma testemunha de Jeová, um líder espírita e um pastor protestante.

A Pandemia e as Testemunhas de Jeová

O porta-voz local das Testemunhas de Jeová, Diogo Maluf, também falou sobre a importância da sua doutrina em um contexto de pandemia. Segundo ele, as Testemunhas de Jeová consideram a proteção à saúde individual e coletiva um assunto de extrema importância, e que, por isso, estão tomando medidas firmes para prevenir a disseminação do novo coronavírus.

“Desde o dia 14 de março de 2020, todas as visitas à sede das Testemunhas de Jeová do Brasil, em Cesário Lange, SP, foram suspensas. Também todas as assembleias e congressos, onde normalmente há uma aglomeração maior de pessoas, foram canceladas. Além disso, para seguir as recomendações das autoridades municipais, estaduais e federais de saúde, as congregações das Testemunhas de Jeová cancelaram suas reuniões nos Salões do Reino e em outros locais públicos. Quando possível, estão realizando essas reuniões por meio de videoconferência ou streaming”, explicou, Diogo.

Celebrações tiveram que se reinventar na pandemia. Divulgação/Testemunhas de Jeová
Celebrações tiveram que se reinventar na pandemia. Divulgação/Testemunhas de Jeová

As Testemunhas de Jeová, são conhecidas pelo seu trabalho de casa em casa, mas pelo cenário atual, precisaram suspender essas visitações.

Estamos nos adaptando às novas circunstâncias. Alguns ligam para os contatos nos seus celulares ou fazem chamadas por vídeo para conhecidos, parentes ou vizinhos. Outros enviam e-mails e alguns preferem escrever cartasDiogo Maluf

Para Diogo, a pandemia afetou a vida das pessoas de uma maneira inesperada, e por isso, houve uma maior aceitabilidade de pessoas que ficaram sozinhas e/ou isoladas.

“Isso tem feito as pessoas estarem mais receptivas e temos percebido isso, por exemplo, nas nossas reuniões por videoconferência, a média de assistências às reuniões aumentou durante esse período de pandemia”, concluiu.

A Pandemia e a doutrina protestante

Uma das ações apoiadas pela Base Igreja Cristã. Divulgação/Arquivo Pessoal
Uma das ações apoiadas pela Base Igreja Cristã. Divulgação/Arquivo Pessoal

O pastor Davi Araújo, na Base Igreja Cristã, acredita que a doutrina bíblica traz a certeza da soberania e controle divino sobre todas as coisas, ou seja, essa seria uma forma de descansar o coração em tempos difíceis. Para ele, o contexto em que nos encontramos revelou a fragilidade dos sistemas humanos, mas fortaleceu ainda a fé.

“Uma das principais características do cristianismo é a comunhão. Este é um princípio elementar da fé. Mas o bom senso também o é. Por isso precisamos considerar as normas de segurança sanitária e nos afastarmos nos momentos mais críticos da pandemia. Durante esse tempo nos apropriados ainda mais das novas tecnologias. Recursos que já eram utilizados foram explorados de maneira mais intensa, levando reflexões, ensinos e, de alguma forma, mantendo essa comunhão ativa”, destacou, Davi Araújo.

O pastor, destacou durante a entrevista, a mensagem do cristianismo e, especialmente, a forma como a procura por essa mensagem continuou a mesma na pandemia.

Ela não muda. É atemporal e supracultural. Por isso, pessoas de todos os contextos buscaram sentido e resposta para sua vida e esta é a mensagem do Evangelho, das Boas Novas. Por isso, muitas pessoas que antes não criam em nada, ou que estavam afastadas da fé, buscaram esse alimento espiritualDavi Araújo

A Pandemia e a Igreja Católica

O Padre Jadson Borba, agregou nesta reportagem, falando sobre a realidade da fé católica nesta pandemia. O padre, acredita que o Cristianismo, por natureza, traz um germe de esperança, uma mensagem de alegria.

Padre Jadson Borba. De Jesus/ O Estado
Padre Jadson Borba. De Jesus/ O Estado

“A história não é conduzida simplesmente pelos homens, mas é conduzida por Deus. A experiência cristã nos faz entender que, a vivência do sofrimento, da dor, faz parte da condição humana. Nós precisamos compreender e fazer uma experiência profunda de Deus, mesmo quando estamos em sorrisos e mesmo quando estamos em lágrimas”, argumentou o clérigo, que reconhece que o momento é de desafio, porém, segundo ele, a fé cristã é uma esperança em meio ao contexto de pandemia.

Ao pensar em igreja católica, o que, geralmente, vem na cabeça um espaço adornado e repleto de pessoas juntas cantando e adorando, no entanto, com o distanciamento, essa realidade foi posta de lado, pelo menos por um momento.

Hoje, já retomamos grande parte das nossas atividades, mas seguindo todas as restrições e orientações sanitárias do Governo do Estado. Nós tivemos que nos reinventar, utilizamos as redes sociais, fizemos livePadre Jadson Borba

Para ele, o momento possibilitou que a comunidade pudesse imergir na realidade virtual, que antes não era tão lembrada ou explorada. “Nós percebemos que muitas paróquias não tinham canais nas redes sociais”. O clérigo, coloca na história a explicação para uma procura maior da fé em tempos de dificuldade. Segundo ele, essa realidade já aconteceu outras vezes antes.

A Pandemia e a doutrina espírita

Quem conversou com a reportagem sobre a fé espírita, foi o presidente da Federação Espírita do Maranhão (FEMAR), Osmir Freire. Ele explicou que em qualquer crise, a sua doutrina colabora ao revelar os princípios da lei de Deus aos seus seguidores.

Osmir Freire, presidente da FEMAR. Divulgação/Arquivo Pessoal
Osmir Freire, presidente da FEMAR. Divulgação/Arquivo Pessoal

“As crises, os flagelos, não aparecem por acaso, mas para acelerar o progresso moral das criaturas humanas. O homem já avançou consideravelmente no campo intelectual, entretanto, pouco se adiantou nos valores morais. Isto justifica o nível de violência que ainda se observa, o desprezo pela natureza, a indiferença para com o sofrimento e as dificuldades do próximo, especialmente os que vivem sem proteção do Estado, a mercê apenas da caridade alheia”, afirmou.

Assim, como será perguntado aos outros entrevistados, O Estado, questionou sobre a ressignificação dos encontros presenciais. Osmir, conta que a Federação investiu em encontros virtuais. “Obedecendo às recomendações constantes dos protocolos elaborados pelos governos, com base nas orientações das autoridades da área da saúde”, citou. Com as reuniões virtuais, a participação do público se multiplicou nas atividades realizadas pela FEMAR.

“As casas espíritas fecharam as portas físicas, mas outras se abriram para o mundo, aumentando as possibilidades de comunicação, permitindo que as pessoas, no modo virtual, participem de quase todas as atividades desenvolvidas presencialmente. Enquanto se falava antes para um público em média de 100, 200 pessoas, hoje os participantes são em termos de milhares. E ainda com os eventos gravados e colocados à disposição para quem desejar ver posteriormente. Sendo, assim o número dos que assistem aumenta a cada dia, com esses acessos”, ressaltou, o líder espírita.

O presidente da FEMAR, comentou ainda, que o isolamento fez com que as pessoas buscassem mais a religião, pois, segundo ele, o medo da morte faz o homem buscar o transcendente.

Apesar do isolamento social, nunca o movimento espírita trabalhou tanto quanto agora. Acreditamos que o mesmo esteja ocorrendo com outras instituições religiosasOsmir Freire

O líder espírita, também falou sobre o período de encerramento de ciclo, no caso de 2020. “Já é normal esse período de fim de ano e início de ano novo, favorecer e muito o sentimento de amor ao próximo, de esquecimento das ofensas, a facilidade de se conceder o perdão e de auxiliar o irmão em dificuldade. Então, que nesta época possamos manter a fé e a confiança em Deus e na vida, renovar as esperanças em dias melhores, que certamente virão, fortalecidos que estamos pelas vibrações positivas que o pensamento em Deus e em Jesus nos proporciona”, finalizou.

A Pandemia e o Tambor de Mina

Ritual de Tambor de Mina durante a pandemia. Divulgação/Arquivo Pessoal
Ritual de Tambor de Mina durante a pandemia. Divulgação/Arquivo Pessoal

Cicero Centriny, é Vodunsi Ohunjai, iniciado no Tambor de Mina. Ele também foi entrevistado pela reportagem, e contou os desafios da manifestação da sua fé, durante uma crise mundial de saúde. Ele acredita, que a religião é colaborativa, porque, segundo ele, existe uma preocupação muito grande das lideranças religiosas, das religiões afro-brasileiras, com a saúde em geral das comunidades de terreiro, e, consequentemente, da população negra.

Estamos seguindo todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Inicialmente suspendendo todas as nossas atividades que pudessem gerar aglomerações, mas como é comum existir um grupo já mora nos terreiros, esses grupos resumidos assumiram as atividades e os rituais internos foram realizados sem problemasCicero Centriny

Cicero, não acredita que houve uma busca maior pela sua religião. “Até porque a recomendação era ficar em casa, então a frequência nos terreiros caiu, consideravelmente. Então, para um aconselhamento e outras demandas, foi usado muito o telefone e as redes sociais”, afirmou.

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