Congresso

Verbas para prefeitos viram manobra para eleição do comando da Câmara

Na hora marcada para votação, no início da noite de ontem, a sessão foi cancelada para a busca de uma saída meio termo para o impasse.

Estadão Conteúdo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
Congresso tenta superar impasse causado por Maia no fim de seu mandato na Câmara Federal
Congresso tenta superar impasse causado por Maia no fim de seu mandato na Câmara Federal (Congresso Nacional)

BRASÍLIA - Na última sessão do ano, a votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que aumenta o repasse de verbas federais para os prefeitos via Fundo de Participação dos Municípios (FPM) se transformou em instrumento de manobra para medir as forças das eleições para o comando da Câmara.

A inclusão da PEC na pauta chegou a ser classificada por integrantes do governo como uma "pauta bomba" no final do ano, justamente em meio à disputa pela sua sucessão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Único candidato já declarado à sucessão da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) tem a predileção do Palácio do Planalto e mantém interlocução com o ministro da Economia, Paulo Guedes. O grupo ligado a Maia deve lançar um candidato até hoje.

Na hora marcada para votação, no início da noite de ontem, a sessão foi cancelada para a busca de uma saída meio termo para o impasse. O aumento do repasse do FPM pode ficar para 2022. A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) avisou, porém, que vai continuar trabalhando para a proposta entrar em vigor no ano que vem.

De um lado da disputa, Maia quis surpreender a base governista e incluiu na pauta de votação a proposta, adormecida há um ano depois de ter sido aprovada em primeiro turno em dezembro de 2019. A estratégia em jogo era forçar a liderança do governo a reconhecer o impacto para as contas públicas e trabalhar para retirar a proposta da proposta da pauta, o que desagradaria os prefeitos que têm força de pressão na Casa.

No campo oposto, a articulação política do Palácio do Planalto que resolveu apoiar ontem a PEC para não perder apoio ao seu candidato nas eleições, Lira, mesmo atropelando a equipe de Guedes, que na véspera alertara para o risco fiscal da perda permanente de R$ 4 bilhões por ano, sendo R$ 1 bilhão no primeiro ano. A PEC aumenta em 1% o repasse do FPM, que é feito com base na arrecadação de tributos do governo.

Para não ser derrotado numa aprovação dada com certa, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, apoiou à PEC com a defesa de que ela tem o DNA da política do presidente Jair Bolsonaro de "Mais Brasil e Menos Brasília" de maior divisão do bolo de arrecadação com Estados e municípios. Barros tentou jogar a responsabilidade para o colo de Maia, que sempre teve apoio do mercado financeiro com a marca de protetor do ajuste fiscal. O líder, inclusive, minimizou o impacto da medida afirmando que era de R$ 700 milhões em 2021.

Estopim

Segundo apurou o Estadão, o estopim da reviravolta na estratégia do governo foi o manifesto dos partidos de esquerda, que apoiaram Maia na sucessão, contra a pauta neoliberal do governo, inclusive as privatizações. Para integrantes do governo, a aliança de Maia com a esquerda para não privatizar seria uma prova de que o presidente da Câmara atuou para que a venda das estatais não avançasse nos últimos dois anos.

Silêncio

Guedes, que é desafeto de Maia e não quer que a esquerda tenha influência na pauta econômica em 2021, ficou em silêncio e não defendeu publicamente que os deputados não votassem a PEC que aumenta os repasses aos prefeitos, apesar do alerta do secretário do Tesouro, Bruno Funchal, de que aprovação colocaria em xeque a reorganização do equilíbrio fiscal. O secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, em entrevista, tergiversou e não defendeu a retirada da proposta.

Para Maia, o governo Bolsonaro deixou de ser "popular" para virar "populista". Nas palavras dele, o governo fez um "cruzamento" entre os prefeitos, que pressionam pela aprovação da proposta, e a Faria Lima, em referências a economistas que manifestam preocupação com o impacto fiscal da medida. "Qual é a posição do governo, contra ou a favor? O governo vai liberar (o posicionamento dos deputados)? Eles vão desmoralizar o Paulo Guedes?", provocou Maia.

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