Dezembro Vermelho

Casa Sonho de Criança: quase 30 anos de história e desafios

Mesmo com a pandemia a instituição se manteve funcionando; atualmente, o abrigo é responsável fixamente por 10 crianças

Kethlen Mata/ Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
Casa Sonho de Criança. Foto: De Jesus
Casa Sonho de Criança. Foto: De Jesus

São Luís – A Casa Sonho de Criança, situada no bairro Fé em Deus, é um desmembramento do Lar Irmã Mônica, que por sua vez, é fruto do Grupo “Solidariedade é Vida”, que já atua há quase 30 anos na cidade. Ambos os abrigos recebem pessoas que vivem e convivem com o Vírus da Imunodeficiência humana (HIV). O Estado, conversou com Iara Filha, professora da instituição, para entender como funciona a casa e como ela vem se mantendo na pandemia.

Em uma tarde de quarta-feira, por volta das 15h, a equipe de reportagem foi recebida na casa, prontamente, a professora se dirigiu para uma sala, onde começou a explicar o projeto. No caminho até o cômodo, foi possível ver algumas das crianças brincando, porém resguardadas – dos visitantes curiosos e do movimento diferente –, pois o cuidado com os protocolos de prevenção da Covid-19 ainda está sendo respeitado no local.

Primeiramente, foi esclarecido, o porquê da necessidade de duas casas diferentes, Iara, contou que com o tempo, foi necessário fazer a divisão entre os adultos e as crianças. Os pequenos, possuem uma demanda totalmente diferente.

“As mães vêm do interior e ficam na casa de adulto e as crianças ficam aqui. Acima de três já ficam sozinhas”, ressaltou, Iara. É importante frisar esse ponto, a Casa Sonho de Criança atende todo o Maranhão, e até mesmo migrantes de outros estados.

Entidade abriga atualmente 10 crianças
Entidade abriga atualmente 10 crianças

A casa

Hoje, a casa dispõe de quartos, tanto para os pequenos quanto para as mães dos menores de três anos, refeitório, espaço de convívio – com brinquedos –, amplo pátio, e uma cozinha. Atualmente, o grupo mante dez crianças judicialmente. “Nós estamos com crianças de 6 meses até 18 anos, essas que já concluíram 18 que anos estão no processo de desligamento da instituição”, pontua.

“Então, a casa se tornou moradia, mas a casa também é rotativa. As pessoas vêm do estado todo, e ficam hospedadas aqui de acordo com sua necessidade”, disse.

A professora, conta que são diversas situações, às vezes, a pessoa vai para o abrigo por problemas pessoais e acaba descobrindo o HIV, ou então descobre em outro estado, mas não quer ficar lá, por conta da família.

Convivência com o vírus

Muitas pessoas, acabam entendendo que a casa abriga, apenas crianças infectadas com HIV, no entanto, a realidade não é essa. A maioria delas, teve um contato de forma indireta com o vírus.

“Todo o caso das crianças daqui é envolvido com HIV. Cada um tem uma realidade, uns porque perderam seus pais, por conta do HIV, casos de abandono de incapaz, outros por questão de uso de drogas, ou seja, cada um tem uma realidade diferente e, de acordo, com essa realidade nós vamos acolhendo, porque o histórico é de HIV, não é necessariamente a criança ter HIV”Iara Filha

Desde que chegam na casa, as crianças são acompanhadas, e recebem medicamento. Hoje, elas convivem com o vírus. E, desde cedo, recebem orientação.

“Quando a criança chega aqui a gente faz um trabalho voltado para a alimentação, da vitamina, da medicação, para que ela entenda o porquê de tomar essa medicação, o porquê de ela estar nesse abrigo, qual a importância de ela estar aqui, a importância dessa medicação para ela. De acordo com a idade, a série escolar, trabalha para que a criança possa entender essa nova realidade que ela se encontra”, destaca a professora.

Educação Sexual

Conforme a conversa com Iara se adiantava para o fim, ela relembrou um ponto importante: a educação sexual, especialmente nas escolas.

Para ela, o tema deveria ser trabalhado de forma fixa e regularizada nas escolas, porém, se atentando para a faixa etária das crianças. Iara, comenta que essa é a maior discussão no que se refere a educação sexual nas escolas.

“Muitas escolas pensam que nós estamos tentando levar o sexo para lá, não. A gente está querendo levar o entendimento, a partir do seu corpo, da sua sexualidade, da sua descoberta, para que a criança, o jovem, entenda essa questão de como é que ele pode conduzir o seu próprio corpo, seus próprios sentimentos, suas próprias emoções. Seria bom se todas as escolas aderissem esse trabalho, mas infelizmente a gente entende que a religião ainda é um tabu, a religião ainda influencia muito em um novo caminhar que a sociedade está traçando”Iara Filha

Situação do Maranhão

Recentemente, O Estado, publicou matéria mostrando que enquanto o Brasil apresenta queda na média geral de óbitos pelo vírus, o Maranhão segue uma contramão. Isso foi levado até a conversa com a professora Iara Filha.

Segundo ela, um dos fatores que possibilita essa tendência é a pobreza de grande parte da população.

“É a pobreza, e a pobreza em todos os aspectos, inclusive o afetivo. O que os jovens ainda pensam é: “não acontece comigo, só acontece com outro”. E nesse mundo de beleza, de vaidade, de conquistas, de “pega” é muito propício para que haja essa contaminação, porque o preservativo fica para depois. A pobreza afetiva da população carente é tão grande, que o único momento que ainda conseguem sentir prazer é através da relação, então, “ainda vou ter que usar preservativo? ”.

Ela fala do trabalho de conscientização que existe no abrigo, um trabalho longo, e que nem sempre chega aonde deveria chegar, seja por fatores educacionais, financeiros, familiares.

A Pandemia

A Casa Sonho de Criança, representa um exemplo de resiliência em um período extremamente crítico. Mesmo com os problemas trazidos pela pandemia do novo coronavírus, a instituição se manteve de pé, e em pleno funcionamento.

A explicação de Iara, é que a instituição já possui uma base sólida. Vale ressaltar, que a casa é totalmente mantida, através de doações.

“Apesar de toda a tristeza que a pandemia nos traz, o medo, a insegurança, as pessoas ainda assim conseguem pensar um pouquinho no outro. Teve um impacto aqui na instituição, mas ele não foi tão pesado. Mudou a qualidade, mas não deixou de ter. Diminuiu a quantidade da entrega de cada doador, mas não deixaram de fazer”.

Doações, como fazer?

São diversas as formas de ajudar no funcionamento desse projeto, seja por doação de alimentos (perecíveis ou não), produtos de limpeza, roupas de cama, roupas para as crianças, livros, materiais didáticos móveis, e utensílios domésticos (novos ou usados).

Além disso, a ajuda também pode ser feita, através de trabalhos voluntários na instituição. Doações em dinheiro podem ser feitas, por meio da conta bancária abaixo:

Banco do Brasil

Agência: 1612-8

Conta: 17746-6

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