Eu Faço o Bem

Fazer o bem: um olhar para os invisíveis em projeto na capital

Após luta contra as drogas e reabilitação, ex-dependente química cria projeto que ampara e dá oportunidade para 400 crianças

Bárbara Lauria / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

[e-s001]São Luís – “Fazer o bem sem olhar a quem”. Esse é o lema que move aqueles que se dispõem todos os dias a tornar a existência do próximo em um pouco menos difícil. Em meio à rotina corrida, trabalho, contas para pagar, família e tantos outros afazeres, observar o outro e compreender suas necessidades é um ato de amor e compaixão suplicado pela sociedade. E é tendo esse pensamento que algumas pessoas ainda se reúnem para apoiar os fragilizados e tentar fazer a diferença.

São pessoas que não são vistas pela sociedade as que mais precisam desses cuidados, quem vive em situação de rua, que sofre com vícios, que adentra a criminalidade por não enxergar outra oportunidade de sobrevivência. Todos aqueles que, por fragilidades e questões sociais, foram marginalizados e acabaram se tornando invisíveis em sua essência e vistos apenas por um estereótipo.

Foi pensando nessas mazelas sociais que o projeto “Eu Faço o Bem” foi criado. Voltado, principalmente, às crianças de comunidades, o projeto que já existe há dois anos e meio promove aulas de dança, esportes e reforço escolar, entre outras atividades, para dar oportunidade a elas, que desde cedo estão expostas a crueldade do dia a dia.

Com sede na Vila Progresso, periferia carente da Grande São Luís, ao lado do Recanto dos Vinhais, o projeto já agrega cerca de 400 crianças e oito comunidades da Ilha, e oferece aulas de balé, futebol e capoeira. Além das crianças, o projeto faz trabalhos voltados para pessoas em situação de rua, dependentes químicos e palafitados.

E como o projeto tem dado tão certo? Ele foi idealizado e é coordenado por Lidiana Lindberg, ex-dependente química e conhecedora, melhor do que ninguém, das dores que a rua e a falta de uma mão amiga podem causar.

[e-s001]Superação e recuperação
As provações da vida não são fáceis e, muitas vezes, para se sair de uma fase ruim e chegar em um bom lugar é preciso de um apoio, atenção e afeto. E foram esses atos de amor que deram uma nova perspectiva para Lidiana Lindberg.

“Eu sou ex-dependente química, fui usuária de crack durante seis anos, cheguei a viver em situação de rua, a morar na Deodoro, mas para honra e Glória do Senhor, Ele me resgatou e Ele botou esse presente no meu coração. Não foi fácil. Eu também não acreditava que seria capaz de sair das drogas”, contou.

Mas ao contrário do que ela pensava, com amor, apoio e a ajuda necessária, foi resgatada e conseguiu encontrar seu caminho no mundo. “Recebi muita comida, doação, sopão, mas não foi essa fome que me fez sair de lá. A fome que eu sentia, a sede que eu sentia, era de Deus, era de amor, de atenção, de um abraço”, lembrou.

Dois anos depois de tanta luta, Lidiana Lindberg começou a sentir uma inquietação em seu peito, como relatou. Por ter vindo da periferia, ela sabia como a infância era crucial para garantir um bom futuro e, por isso, queria garantir que nenhuma criança ao seu alcance passasse pelo mesmo que a coordenadora.

Um novo dia a dia
A falta de escolas, creches, atividades culturais e esportes pode afetar a vida de uma criança de diversas maneiras, pois ela é vulnerável ao que acontece nas ruas, e foi essa preocupação que movimentou Lidiana Lindberg.

“Eu via que aquelas crianças ficavam na rua, à mercê do tráfico, do ‘aviãozinho’, das drogas, da prostituição. Então, quando surgiu, foi esse o objetivo do projeto, retirar as crianças das ruas, para darmos aulas e reforço escolar”. Mas o projeto não ficou reduzido apenas às aulas. Com apoio de voluntários e da Igreja Base, o projeto foi se expandindo para oferecer atividades esportivas e recreativas.

Atendendo cerca de 400 crianças, hoje o projeto tem balé, com 115 inscritos, que acontece três vezes na semana; a escolinha de futebol, que já possui cinco turmas, por causa da grande procura; e a capoeira, duas vezes por semana, com a participação do contramestre 'Pescoço', em aula online, realizada na França.

“Eu olho para essas crianças e vejo que o sonho delas é o balé, que é o quarto esporte mais caro. Para fazer uma matrícula hoje é de R$ 300 a R$ 400, e elas têm essa oportunidade de aula duas vezes na semana, com um professor profissional, para realizarem seus sonhos. E isso me emociona todos os dias”.

O projeto hoje tem seis voluntários fixos, incluindo os professores, e a coordenadora e conta com o apoio da Igreja da Base e novos voluntários que queiram participar da iniciativa. “O que mais a gente precisa são voluntários. São pessoas para estarem junto com a gente, para ajudar, saber conversar na parte psicológica também, porque nós temos crianças que têm problemas com a família, com pai, mãe. Então temos essa dificuldade”.

[e-s001]Fome de amor
Além das crianças, o projeto “Eu Faço o Bem” tem trabalhos voltados para pessoas em situação de rua, com a entrega de comida, o alimento para o corpo, e afeto, o alimento da alma.

“No nosso trabalho com moradores de rua, levamos o alimento, mas o nosso trabalho maior é levar a palavra, o alimento que realmente serve, porque eu digo por experiência própria, pois morei na rua. Então o trabalho que fazemos é de levar a palavra, de louvar, de sentar com eles e conversar. Às vezes é um abraço o que eles precisam. Às vezes estou conversando com um morador de rua, o alimento chega e alguns preferem ficar escutando a gente do que ir até lá. Então nosso trabalho é de evangelizar, de levar a palavra, porque, assim como quando eu estava lá, eu recebi muita comida, doação, sopão, mas não foi essa fome que me fez sair de lá. A fome que eu sentia, era do amor. As pessoas precisam ver que somos visíveis, porque para a sociedade, eles são invisíveis”.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.