A doença em São Luís

Casos de AIDS caíram 67,4% em cinco anos em São Luís

Situação se dá pela mudança na política de assistência, que se baseia no "tratar" e testar, e acompanhamento contínuo; ainda assim, a cada 48 horas há um novo caso

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

[e-s001]São Luís - Desde o início do registro da doença no país, na década de 1980, a AIDS ainda requer atenção específica e implantação de políticas públicas que reforcem a importância da prevenção. Dados da Secretaria Municipal de Saúde (Semus) obtidos com exclusividade por O Estado apontam que os casos da doença, de 2014 para 2019, registraram queda de 67,4% em São Luís.

Várias são as razões que explicam a redução, dentre elas, a mudança na estratégia de atendimento da coordenação do Programa de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) da pasta municipal. No entanto, os responsáveis alertam: é preciso investir mais na massificação de postos de atendimento para assistência, acolhimento, testagem e, principalmente, acompanhamento dos infectados.

Ainda de acordo com a Semus, no ano passado, foram 179 casos, o que notabiliza um caso confirmado a cada 2 dias. Apesar de ser um dado ainda preocupante, o saldo é bem inferior ao registrado há sete anos por exemplo. Em 2013, a capital terminou dezembro com 540 casos de AIDS confirmados na população adulta.

O índice de óbitos relacionados à doença também caiu. Enquanto que em 2015, foram 136 mortes relacionadas à AIDS como causa básica, em 2019 (ano mais recente do último fechamento completo da estatística), foram 109 casos. Segundo especialistas, a solução foi estimular a testagem para o diagnóstico mais precoce e assim “tratar” desde cedo.

O tratamento instituído de forma oportuna, ainda de acordo com os responsáveis pelo setor IST na capital, evita o “adoecimento” por AIDS, contribuindo para a redução nas mortes e oportunizando uma melhor “qualidade de vida” para as pessoas que estão com HIV em seus organismos.

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Além de mostrar um panorama da doença na capital, esta reportagem vai traçar metas, analisar a eficácia das atuais políticas, citar o que vem sendo feito para o controle epidemiológico e, principalmente, ouvir casos de pessoas que conseguem conviver de forma pacífica com o vírus.

Para entender o atual cenário da AIDS na capital, é fundamental lembrar do estágio da doença no Brasil ao longo dos anos.

A história da AIDS no Brasil: uma doença que “nos persegue” desde 1980
Até meados do início da década de 1980, período em que surgiram os primeiros casos da doença no Brasil e em outras partes do mundo, a AIDS era vista como uma doença atrelada aos casais homossexuais. Eram vários os registros de periódicos nacionais à época que definiam a doença como “Peste Gay”, em claro tom pejorativo e demonstrando, à época, total desconhecimento com o poder de infecção da doença.

Cronologia pesquisada por O Estado aponta que 1980 é o ano em que o boletim epidemiológico reporta o primeiro caso de AIDS no Brasil. Neste ano, também houve o primeiro óbito, de paciente masculino e cuja forma de infecção fora via sexual.

Dois anos após o primeiro registro no país, relatos de institutos internacionais apontavam que 14 países já contabilizavam casos de AIDS entre suas populações. No dia 12 de julho de 1983, em importante veículo de comunicação do país, é relatada a primeira notícia de caso de AIDS no Brasil sob o seguinte título: “Brasil registra dois casos de câncer gay”.

Em 1985, ocorre a primeira conferência internacional de AIDS, na cidade norte-americana de Atlanta. Na ocasião, 51 países anunciam ter casos da doença entre suas populações. Já no ano de 1987, o mundo estava mais espantado e assolado com a doença, pois 62.800 casos foram registrados até aquele ano em 127 países, de acordo com relatos da Organização Mundial de Saúde (OMS).

O esforço em prol da doença vira campanha anual, com a instituição do 1º de dezembro como o “Dia Mundial de Luta contra a AIDS”. Na oportunidade, o tema foi “Junte-se ao esforço mundial”, em clara alusão à mobilização necessária em prol da doença, em especial nos países de terceiro mundo.

Em 1990, novos dados da OMS apontam que mais de 307 mil casos da doença eram registrados até o citado ano. No entanto, novas estimativas falavam em um crescimento de pouco mais de um milhão de casos. Era o descontrole da doença em visão perceptível. O inimigo invisível havia se espalhado pelo mundo, apesar das tentativas frustradas até então de tratamento das grandes potências, como Estados Unidos e União Soviética.

[e-s001]Panorama atual e trajetória da doença
Levantamento do último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde (MS) aponta que 982.129 casos de AIDS foram detectados no Brasil, entre os anos de 1980 e junho de 2018. Destes, 24% eram considerados do perfil jovem entre 15 e 24 anos. Segundo dados do Ministério da Saúde, o primeiro caso da doença é registrado no Brasil, no estado de São Paulo (SP).

À época, adotou-se temporariamente o nome “Doença dos 5H”, representando os homossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e hookers (denominação em inglês para as profissionais do sexo). Sem o conhecimento pleno da doença, como forma de contágio, é reconhecido entre médicos e outros especialistas o fator de possível transmissão por contato sexual, uso de drogas ou exposição a sangue e derivados.

Alguns fatos históricos da AIDS entre 1980 e 1990

1980
Ano em que o boletim epidemiológico reporta o primeiro caso de AIDS no Brasil e o primeiro óbito

1982
14 países relatam ter casos de AIDS

1983
No dia 12 de julho, é publicada a seguinte manchete acerca de caso de AIDS no país: “Brasil registra dois casos de câncer gay”

1985
Ocorre a primeira conferência internacional de AIDS em Atlanta (EUA): 51 países anunciam ter casos de AIDS entre suas populações

1987
62.811 casos de AIDS em 127 países são relatados à OMS

1988
Instituído o 1º de dezembro como Dia Mundial de Luta contra a AIDS, com o tema: “Junte-se ao esforço mundial”

1990
Mais de 307 mil novos casos de AIDS são reportados à OMS; estimativas falam em quase 1 milhão de casos

Fonte: Ministério da Saúde (MS)

Casos diagnosticados de AIDS (entre 2014 e 2019)* na capital

2014 – 475 casos
2015 – 527 casos
2016 – 443 casos
2017 – 519 casos
2018 – 483 casos
2019 – 179 casos

*Resultados de 2020 somente no fim do primeiro semestre de 2021

Óbitos ocasionados de forma comprovada por AIDS em São Luís

2015 – 136 óbitos
2016 – 121 óbitos
2017 – 100 óbitos
2018 – 88 óbitos
2019 – 109 óbitos

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde (Semus)


NÚMEROS

982.129 casos de AIDS foram detectados no Brasil, entre os anos de 1980 e junho de 2018
24% dos infectados eram considerados do perfil jovem entre 15 e 24 anos

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