Coronavírus

Fiocruz alerta sobre possibilidade de colapso no atendimento a Covid-19

De acordo com nota técnica elaborada por especialistas da Fundação Oswaldo Cruz, essa probabilidade é real e poderá acontecer nas próximas semanas, agravada pela chegada das festas de fim de ano e das férias

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Profissionais de Saúde em atendimento a paciente com Covid-19; número de casos pode aumentar
Profissionais de Saúde em atendimento a paciente com Covid-19; número de casos pode aumentar (Casos de Covid)

RIO - O aumento dos casos e internações por Covid-19 em vários estados que vem sendo registrado com tendência de alta desde o início de novembro está encontrando um sistema de saúde menos preparado para atender à demanda por leitos de enfermarias e UTIs, não só nas regiões metropolitanas, mas principalmente nas cidades menores do interior. A possibilidade de colapso do atendimento aos novos casos é real e poderá acontecer nas próximas semanas, agravada pela chegada das festas de fim de ano e das férias.

A Nota Técnica "O fim do ciclo de interiorização, a sincronização da epidemia e as dificuldades de atendimento nos hospitais" , desenvolvida pela equipe de pesquisa do MonitoraCovid-19, alerta que no fim do ano a maior movimentação de pessoas “sem cuidados devidamente adequados e sem manutenção do isolamento social”, agravará um quadro composto por “desmobilização de leitos extras dos hospitais de campanha; a ocupação de leitos por outros problemas de saúde que ficaram represados durante o avanço da epidemia de Covid-19; a maior circulação de pessoas; as dificuldades de identificação de casos e seus contatos devido à baixa testagem; e o relaxamento dos cuidados de distanciamento social, uso de máscaras e higiene”.

Epidemia

“No início da epidemia no Brasil, tivemos uma demanda grande nas regiões metropolitanas, e só depois veio a interiorização, num momento em que a incidência da Covid-19 já apresentava sinais de estabilidade nas cidades maiores. Agora, a Covid-19 está fortemente presente tanto nas regiões metropolitanas quanto nas cidades do interior. E a epidemia está sincronizada, não começa mais nas metrópoles para depois ir para o interior. Um novo aumento dos casos pressionará a capacidade do atendimento à saúde das regiões metropolitanas, reduzindo também seus recursos para atender a pacientes vindos do Interior. Na maioria dos lugares a assistência à saúde deverá ser incapaz de atender à demanda”, alerta Diego Xavier, epidemiologista do Icict/Fiocruz e um dos autores do estudo.

Segundo a Nota Técnica, as regiões metropolitanas (RMs) compreendem apenas 177 do total de 5.570 cidades existentes no Brasil. Porém, sua população total é de cerca de 70 milhões de habitantes, representando 33% da população nacional. Até o final de maio, cerca de 67% dos óbitos por Covid-19 no Brasil foram registrados nas regiões metropolitanas.

Com a interiorização da doença, no último dia de outubro essa proporção se inverteu: “As RMs passaram a representar somente 33% do total de óbitos registrados no país, demonstrando o que pode ser considerado como o fim do processo de interiorização”, diz a Nota Técnica.

Desassistência
Um importante indicador da dessasistência de saúde está nos números de óbitos fora da UTI. Segundo a Nota Técnica, a “falta de UTI foi ainda mais expressiva nos municípios do Interior, sobretudo pela dificuldade de acesso e as longas distâncias que devem ser percorridas em busca de atendimento”.

Segundo dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SivepGripe), no Interior o total de mortos fora das UTIs é proporcionalmente maior do que nas regiões metropolitanas em quase todo o país (a única exceção é a Região Sul), o que indica que a desassistência aos enfermos por Covid-19 é mais significativa nas cidades menores. Em nível nacional, 36% morreram de Covid-19 fora das UTIs no Interior, contra 31% nas RMs. Há também os registros sem informação sobre o local da morte (9% no Interior e 13% nas regiões metropolitanas), que podem elevar esses números.

Os estados que registraram maiores índices de mortes no Interior fora da UTI são Amapá (82%), Roraima (73%), Amazonas (66%), Pará (59%), Sergipe (58%), Tocantins (50%), Acre (46%) e Ceará (45%). Já nas regiões metropolitanas, os estados que tiveram mais óbitos fora da UTI foram Roraima (63%), Sergipe (53%), Amazonas (47%), Rio Grande do Norte 42%), Minas Gerais (38%), São Paulo (36%), Distrito Federal (35%) e Ceará (38%).

Mais
Dimensão territorial

No Brasil, a dimensão territorial do país dificulta o acesso geográfico ao atendimento. Some-se a isso a concentração de recursos em áreas metropolitanas e capitais mais densamente povoadas. A circulação das pessoas no período de festas de fim de ano e férias deve acelerar a disseminação do vírus, que já circula com bastante velocidade e volta a ocupar os leitos hospitalares. A movimentação das pessoas tende a aumentar a necessidade de atendimento por outros agravos de saúde como os acidentes de trânsito, por exemplo.

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