Transtornos

Fiocruz aponta impactos da pandemia na rotina dos adolescentes

Levantamento constatou as mudanças na rotina, nos estilos de vida, nas relações com familiares e amigos, nas atividades escolares, nos cuidados à saúde e no estado de ânimo dos adolescentes entre 12 a 17 anos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Saúde mental dos adolescentes precisa de atenção no isolamento.provocado pela pandemia de Covid-19
Saúde mental dos adolescentes precisa de atenção no isolamento.provocado pela pandemia de Covid-19 (Saúde mental dos adolescentes)

BRASÍLIA - Durante a pandemia, 48,7% dos adolescentes do país têm sentido preocupação, nervosismo ou mau humor, na maioria das vezes ou sempre. Houve aumento no consumo de doces e congelados, bem como no sedentarismo: o percentual de jovens que não faziam 60 minutos de atividade física em nenhum dia da semana antes da pandemia era de 20,9%, e passou a ser de 43,4%. Setenta por cento dos brasileiros de 16 a 17 anos passaram a ficar mais de 4 horas por dia em frente ao computador, tablet ou celular, além do tempo das aulas online. Além disso, 23,9% daqueles entre 12 e 17 anos começaram a ter problemas no sono, e 59% sentiram dificuldades para se concentrar nas aulas a distância. Estes são alguns dos resultados da ConVid Adolescentes – Pesquisa de Comportamentos, realizada com jovens do Brasil todo, de junho a setembro de 2020.

O trabalho investigou as mudanças na rotina, nos estilos de vida, nas relações com familiares e amigos, nas atividades escolares, nos cuidados à saúde e no estado de ânimo dos adolescentes entre 12 a 17 anos. Foi coordenado pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e realizado de forma online: 9.470 adolescentes responderam a um questionário virtual, entre os dias 27 de junho e 17 de setembro. Esta é a segunda etapa da ConVid, que em abril e maio abordou os
estilos de vida dos adultos durante a pandemia.

“A falta de atividade física entre os adolescentes foi um dos resultados que mais se destacou. Em geral, os jovens brasileiros praticam mais atividades coletivas, como aulas de danças e jogos com bola. Com as medidas de restrição social, tornou-se mais difícil para eles manterem a prática de exercícios”, aponta a pesquisadora do Icict Celia Landmann Szwarcwald, coordenadora do trabalho. “Chama muita atenção também o estado de ânimo desses jovens, que relataram tristeza, ansiedade e a ausência de amigos”.

Diferenças regionais
A pesquisa também abordou aspectos mais diretamente ligados à pandemia, como medidas de prevenção e diagnóstico. O percentual de adolescentes que se declarou como tendo recebido o diagnóstico de Covid-19 foi de 3,9%. Enquanto a Região Sul registrou a menor proporção de jovens com Covid-19, com um percentual de 2,1%, a Região Norte registrou 6,1%.

A grande maioria dos adolescentes (71,5%) aderiu às medidas de restrição social, com 25,9% em restrição total e 45,6% em restrição intensa, ou seja, saindo só para supermercados, farmácias ou casa de familiares. Considerando a restrição intensa e a total restrição de contatos com outras pessoas, a maior proporção ocorreu na Região Sul, de 74,1%, enquanto o menor percentual ocorreu no Norte (66,1%).

“A Região Norte se destacou em ter maior número de adolescentes diagnosticados com a Covid-19 e menor adesão às medidas de restrição social. Foi um padrão que se repetiu entre os adultos também, como apontado na primeira etapa da pesquisa”, compara Celia.

Piora na saúde física e mental

A piora da saúde na pandemia é outro ponto de destaque: foi apontada por 30% dos jovens. Diferenças foram encontradas por sexo e faixa de idade, com as meninas relatando maior proporção de piora do estado de saúde (33,8%) do que os meninos (25,8%), e os adolescentes mais velhos (37,0%) do que os
mais novos (26,4%).

O percentual de adolescentes que relataram piora na qualidade do sono durante a pandemia foi de 36%, sendo que 23,9% começaram a ter problemas com o sono e 12,1% relataram que tinham problemas e eles pioraram. A qualidade do sono foi mais afetada entre as meninas, e nos adolescentes com 16 a 17 anos, em relação aos mais novos.

Sentir-se preocupado, nervoso ou mal-humorado foi descrito por 48,7% dos adolescentes, na maioria das vezes ou sempre. Entre as meninas, o percentual foi de 61,6%. Os adolescentes de 16-17 anos de idade relataram esse sentimento mais frequentemente (55,3%) do que os de 12-15 anos (45,5%).

“Também é importante destacar a piora na qualidade de sono e os problemas no estado de ânimo. Há um conjunto de fatores como sentimento de tristeza, nervosismo, isolamento, insegurança, medo por familiares, que está afetando diretamente a saúde dos jovens. Não é à toa que 30% deles identificam uma piora em seu estado de saúde”, salienta a pesquisadora.

Hábitos alimentares

O consumo de alimentos não saudáveis em dois dias ou mais por semana aumentou: 4% para pratos congelados e 4% para os chocolates e doces. Mais de 40% dos adolescentes não praticaram atividade física por 60 minutos em nenhum dia da semana durante a pandemia. O percentual de jovens que não faziam 60 minutos de atividade física em nenhum dia da semana antes da pandemia era de 20,9%, e passou a ser de 43,4%.

No período, mais de 60% dos adolescentes relataram ficar por mais de 4 horas em frente às telas de computador, tablet ou celular como lazer, além do tempo para as aulas a distância. Entre os adolescentes de 16-17 anos, o percentual alcança 70%. “Esses dispositivos tornaram-se um meio de eles se conectaram com os amigos via redes sociais ou jogando, mas esse excesso de tempo em frente às telas é preocupante”, aponta Celia.

Muita dificuldade em acompanhar as aulas de ensino a distância foram citadas pelos adolescentes: 59% relataram falta de concentração, 38,3% falta de interação com os professores, 31,3% falta de interação com amigos. Em relação ao entendimento do conteúdo das aulas de ensino a distância, 47,8%dos adolescentes relataram estar entendendo pouco, e 15,8% disseram não estar entendendo nada. Apenas 1 em cada 4 adolescentes de 16-17 anos relatou estar entendendo tudo ou quase tudo das aulas presenciais.

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