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Maradona: seu adeus e suas lições

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

Ainda no mês de novembro, ao lado do neurocirurgião Leopoldo Luque, Diego Maradona "assinou sua alta" para iniciar em casa a reabilitação da dependência do álcool, após procedimento cirúrgico para tratar do hematoma no cérebro ocasionado, não por quedas, e sim pela combinação de dependências dos psicotrópicos, uso de álcool e abuso de cocaína, consumo iniciado aos 24 anos, e durante toda a sua vida e principalmente após sua aposentadoria dos campos de futebol.

Reconhecido como "El Dios" por argentinos e fãs do futebol como um dos melhores de todos os tempos, Maradona deixará com seu adeus o saudosismo da sua genialidade com a bola, o seu jeito violento, machista e irreverente de ser, mas também a imagem de uma pessoa que cometeu erros, embora os tivesse encobertados pelas elites, que não lhe deram limites e tampouco reduziram o sentimento de solidão e perdão pelas suas atrocidades.

Contudo, pergunto: será que driblaremos o contexto da sua morte, evitando fixar o que existiu ao longo da vida, os sofrimentos psíquicos, os conflitos familiares, sexuais e comorbidades psiquiátricas? Como diz o locutor Silvio Luiz: "Olho no lance ... confira comigo o replay”.

O amigo e advogado Matias Morla afirmou que a situação de Maradona era delicada e clara, precisava "estar em paz com seus parentes e que eles se respeitem, que eles possam coordenar visitas, porque neste caso o Diego tem que reabilitar e para isso precisa de paz e unidade".

Infelizmente, no último dia 25 de novembro ele veio a falecer aos 60 anos de idade, por edema agudo pulmonar e parada cardiorrespiratória, antes de ser socorrido por profissionais da saúde. Creio que sua trajetória de vida deve ser apresentada e compreendida por todos os novos e atuais atletas e pela sociedade, que reproduzem um cenário de sucesso onde se tem uma bola, uma criança...

A jogadora Paula Dapena, de 24 anos, do Viajes Interrías, clube que disputa a segunda divisão do Campeonato Espanhol, se negou a fazer um tributo pelo falecimento de Maradona, durante um minuto de silêncio. Ela, diferente das demais parceiras do time, sentou-se no gramado e justificou: "Há poucos dias lutamos contra a violência de gênero e esses gestos não foram feitos. Não guardaram minuto de silêncio para as vítimas, e não estou disposta a fazer para um agressor."

Na vida real, alguns craques se perdem por doping e poucos conquistam troféus, mas a maioria devido à falta de suporte familiar, apoio educacional e emocional permanecem imaturos, ao mesmo tempo em que a sociedade, preocupada com o capital do espetáculo futebolístico, continua desatenta com as crianças e jovens ao desarticular as políticas públicas e permitir o consumo abusivo do álcool e de outras drogas, e associar as ideologias mercadológicas ao invés de tirar lições com os erros e desenvolver uma nova cultura de Saúde Mental.

Maradona foi o primeiro fenômeno da globalização do futebol que a mídia hoje o rotula como “herói trágico”, repleto de escândalos que vão além da sua vida e das manifestações que repudiam a suas condutas. Ele, que não desejava ser um exemplo, disse: "Eu errei e paguei, mas a bola não se mancha" e "Se eu morrer, quero nascer de novo e ser jogador de futebol.”

Ruy Ribeiro Moraes Cruz

Psicólogo CRP 22/00582 da Escola de Saúde Pública SES-MA

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