AIDS/HIV

Aids: índice de mortalidade cai no Brasil, mas aumenta 9,6% no MA

De acordo com último boletim do Ministério da Saúde, o Maranhão está na contramão do cenário de queda de casos de Aids/HIV no Brasil; pessoas com o vírus ainda sofrem com estigmas e preconceitos

Kethlen Mata /O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

[e-s001]SÃO LUÍS - De 2009 a 2019 o coeficiente de mortalidade pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e/ou pela Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), caiu 29,3% no Brasil, no entanto, seis estados caminharam na direção contrária. O Maranhão está entre eles. Em 2009, o estado apresentou um coeficiente de 5,2 por 100 mil habitantes, já em 2019, apresentou 5,7 óbitos por 100 mil habitantes, ou seja, um aumento de 9,6%. Esses dados correspondem ao boletim especial HIV/Aids 2020, do Ministério da Saúde.

Quanto aos casos de Aids, da década de 1980 – quando teve início a pandemia – até 2019, já foram notificados mais de 1 milhão. O Nordeste, representou 16% desse número. A média anual de casos no Maranhão (entre 2015 e 2019), é de 9 mil.

A taxa de detecção de casos de Aids no Brasil, vem caindo nos últimos anos. Em 2011, essa taxa foi de 22,2 casos por 100 mil habitantes; em 2015, de 20,1; em 2017, passou para 18,6; e em 2019, chegou a 17,8 casos por 100 mil habitantes. Em um período de 10 anos, a taxa de detecção apresentou queda de 17,2%.

No Nordeste, a tendência foi de aumento, em 2009 a taxa era de 14,1, já em 2019 foi de 15,7. O Maranhão também seguiu essa linha. De 16,7 em 2009, o estado foi para 18,3 em 2019, ficando acima da média nacional (17,8).

HIV e Aids é a mesma coisa?
HIV é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST). Sendo assim, a principal forma de contágio é a via sexual. Essas infecções são causadas por micro-organismos como fungos, bactérias e vírus. No caso do HIV, a infecção é causada por um vírus denominado vírus da imunodeficiência humana.

Mesmo que ainda não exista cura para essa infecção, o tratamento, chamado de terapia antirretroviral (TARV), é imprescindível para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com o vírus. Além, de contribuir para diminuir as chances de transmissão e evitar que a Aids seja desenvolvida.

Uma pessoa que foi infectada pelo HIV, pode ficar anos sem desenvolver sintomas. Sendo assim, se diz que uma pessoa está vivendo com o vírus. A Aids, é um estágio avançado dessa infecção, e surge quando o indivíduo apresenta infecções oportunistas, ou seja, que se aproveitam da fraqueza do organismo, devido à baixa imunidade ocasionada pelo vírus.

Casos de HIV
Agora que a diferença entre HIV e Aids foi explicada, é mais fácil compreender porque os dados das notificações são separados. Sendo assim, entre 2007 e junho de 2020, foram notificados 342.459 mil casos de infecção pelo vírus HIV, sendo 65.106 mil no Nordeste (19%).

Os mais acometidos pelo HIV são os homens, com 69% (237.551 mil) do número de caos, já as mulheres, são 30%, (104.824 mil). Em 2019, a média de infecção pelo vírus, foi de 26 homens para cada mulher.

Casos em gestantes
De 2000 até junho de 2020, foram registrados 134.328 casos de HIV em gestantes, 18%, apenas no Nordeste. Somente em 2019, foram 8.312 novos casos da infecção.

Em um período de 10 anos (2009 a 2019), houve um aumento de 21,7% na taxa de detecção de HIV em gestantes. O aumento pode ser explicado, em parte, pela ampliação do diagnóstico no pré-natal e a melhoria da vigilância na prevenção da transmissão vertical do HIV.

A tendência de aumento também se verifica em todas as regiões do Brasil, sendo que as regiões Norte e Nordeste foram as que apresentaram maiores incrementos na taxa, ambos de 83,3% nos últimos dez anos.

Menos de cinco anos
Todas as regiões apresentaram queda na taxa de detecção de Aids em menores de cinco anos na comparação entre 2009 e 2019. A redução observada na região Nordeste foi de 43,3%. No Maranhão, entre 1980 até junho de 2020, foram 390 casos notificados de Aids, em crianças com menos de 5 anos.

PERSONAGEM DA NOTÍCIA

[e-s001]“Eu enfrento o preconceito”

O ator Thiago Ferrer, 27, cinco meses após o diagnóstico, se tornou indetectável (intransmissível). Ele contou um pouco da sua história com o HIV a O Estado.

“Eu recebi o diagnóstico em março de 2017, e foi um choque, mesmo tendo o mínimo de instrução a respeito. Porém, esse choque foi apenas no primeiro dia, porque fui pego de surpresa, mas desde o momento do diagnóstico, já pensei em como tornar isso mais leve para mim. Uma das formas que eu encontrei foi, de imediato, contar para minha família e amigos. A minha intenção desde o primeiro dia era fazer o possível para desconstruir o estigma de viver com HIV. Tenho HIV e agora? Eu tinha duas opções: continuar sofrendo, ou buscar reverter esse quadro. No dia seguinte eu comecei a mudar tudo que podia. Mudei meus hábitos alimentares, abandonei vícios lícitos e comecei a lidar com o vírus de uma forma que esse processo não fosse um martírio para mim. Então, comecei a convidar amigos para fazerem os testes, a conversar sobre isso sempre que tinha a oportunidade. Desde o primeiro exame, após o início do tratamento, consegui chegar ao resultado indetectável e desde então tenho uma saúde melhor do que tinha antes do diagnóstico”, relembrou, Thiago.

Ele também tratou sobre o preconceito, e explicou que é explícito e implícito, quando se trata do HIV.

“O estigma não está em torno só de quem vive com o HIV, está em toda a sociedade. Ainda existem pessoas que ignoram a possibilidade de se instruir a respeito e destilam repulsa e ódio. Assim como há as pessoas que não têm instrução e não buscam, pelo simples fato de ainda ser considerado um tabu. Essas pessoas evitam falar a respeito ou evitam as pessoas HIV+, não pela repulsa, mas pelo medo causado pela desinformação”.

Por fim, Thiago Ferrer explanou sobre políticas públicas para tirar o Maranhão da ascendência no número de casos.

“Faltam políticas públicas, falta pensar fora dessa caixa ultrapassada de que campanha de combate ao HIV é apenas prevenção com hashtag #usecamisinha. Não é só isso. Essas campanhas existem há tanto tempo e os números não mudam. É uma epidemia que vive abafada. Existem várias outras formas de prevenção, além do uso da camisinha, que não são divulgadas pelos órgãos públicos. Existem milhares de pessoas que já vivem com HIV e que precisam de atenção também. Melhor uma campanha onde se estimula a prevenção pela empatia do que pelo medo!”, finalizou.

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