Artigo

Ajuste de contas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

No segundo turno da eleição para prefeito de São Luís, o governador do Estado, Flávio Dino, ordenou a um bando (bando no sentido, conforme o Houaiss, de ajuntamento de pessoas ou de animais como, no exemplo “um bando de puxa-sacos) de pessoas ligadas politicamente a ele; ou, definição alternativa do mesmo Houaiss, integrantes de um partido ou facção), ordenou, eu dizia, que se candidatassem a prefeito no primeiro turno.

Vários momentaneamente obedeceram. Como adversário único no turno inicial, iriam ter Eduardo Braid, deputado federal. A ideia era cada membro desse pelotão tirar uma certa quantia de votos de Braid, forçando a realização do segundo turno Pobre coitado. O adversário solitário iria ser massacrado pelas hostes de Flávio, batizada jocosamente como consórcio, na igreja do cáustico humor popular, por semelhança com o sistema de venda de automóveis e outros bens duráveis, em que cada um dos consorciados paga o preço total, aos poucos, durante longo tempo. Neste caso, o preço seria a obediência irracional às ordens do chefe, pelo tempo de sobrevivência deste nos embates políticos.

Não funcionou o truque, dada a vitória de Braid, nem funcionaria sob qualquer condição, mesmo o agora eleito tendo toda a estrutura do governo contra e o empenho de gente de Dino e, principalmente do próprio governador. A razão não é difícil de ser percebida. Sem um comando autêntico nada funciona. A concepção de liderança do governador tem como fundamento a ideia de que liderar é se postar altaneiro com um chicote na mão, ofertando chicotadas a torto e a direito em criaturas equivocadamente chamadas de aliadas. Quem desse um ai, seria imediatamente castigado com a expulsão do círculo de apóstolos do dinismo, como ocorreu em alguns casos, desde o primeiro dia dele entre os leões amestrados do palácio.

Aliás, a mais evidente característica de Flávio Dino é afastar antigos companheiros ousados o bastante para expressar suas próprias ideias. Seu ideal é o de apenas conservar por perto gente sem pensamento próprio. Isso, desejar ouvir apenas quem o elogia, tornará sua carreira política curta. O certo é isto: para ir longe na política, quem nela milita deve estar disposto a agregar e não desagregar; juntar pessoas e não empurrá-las para bem longe. No entanto, é desse tipo a liderança do governador. De fato, falta a ele a vocação de verdadeiro político, do conciliador interessado na obtenção do possível para o povo e não a satisfação de sua vontade de déspota não esclarecido.

Falar em carreira curta, me faz lembrar uma carreira longa, a de José Sarney. Este, ao contrário do outro, sempre procurou trazer gente capacitada a dar contribuição ao Estado, muitas vezes antigos adversários. Eis uma das razões de sua hegemonia política no Maranhão por tanto tempo. Por isso, despertou em Dino Sauro o desejo de emulação dos seus feitos; de desejo da presidência da República, de exercício de uma liderança autêntica, de, enfim, de igualdade com seu modelo sem ter qualidades para tais façanhas.

Outras eleições virão em 2022. Há entre os dinistas cobras criadas prontas a engoli-lo. A arrogância, a empáfia, a soberba sem limites, o desprezo por quem o ajudou a se eleger, a ingratidão, tudo o aguardará novamente.

O governador tornou-se um procurado, pois sumiu das redes sociais. Os eleitores, porém, são pacientes e esperarão a próxima oportunidade de encontrá-lo.

Lino Raposo Moreira

PhD, economista, membro da Academia Maranhense de Letras

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