Investigação

França: ex-cirurgião acusado de pedofilia é julgado por crimes sexuais

Joel Le Scouarnec é acusado do estupro e de agressões sexuais em quatro menores de 15 anos, nos anos 1990

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Advogados se preparam para julgamento de Joel Le Scouarnec a portas fechadas no tribunal de Saintes, no oeste da França
Advogados se preparam para julgamento de Joel Le Scouarnec a portas fechadas no tribunal de Saintes, no oeste da França (Advogados se preparam para julgamento de Joel Le Scouarnec a portas fechadas no tribunal de Saintes, no oeste da França)

SAINTES - O Tribunal do Júri da cidade de Saintes, no sudoeste da França, retomou ontem, 30, o julgamento do ex-cirurgião gastroenterologista Joel Le Scouarnec, 69 anos. Ele é acusado do estupro e de agressões sexuais em quatro menores de 15 anos, nos anos 1990.

O caso veio à tona em 2017, após a denúncia de uma menina de 6 anos, filha de um dos vizinhos do médico francês. Na época, ele vivia em Jonzac, no sudoeste do país, onde trabalhou entre 2014 e 2017. O depoimento da garota levou à abertura da investigação.

Durante a operação de busca e apreensão, a polícia encontrou um caderno na casa do ex-cirurgião, guardado há cerca de 30 anos, onde ele havia anotado o nome de 300 vítimas – a maior parte crianças e adolescentes.

Os investigadores também encontraram diários com detalhes das agressões. Scouarnec vivia sozinho, cercado de bonecas. Os policiais apreenderam na época mais de 300 mil imagens de pornografia infantil.

O ex-cirurgião francês, que trabalhou em dois hospitais, acabou sendo acusado pelo estupro da vizinha e de uma sobrinha, ocorridos nos anos 1990, em Loches, no centro da França. Ele também foi indiciado por agressões sexuais em outra sobrinha e uma paciente, na época com 4 anos, que diz não se lembrar dos fatos.

Scouarnec reconhece os abusos, mas nega os estupros – crime cuja pena pode chegar a 20 anos de reclusão. "Ele não nega o que fez", disse em março o advogado do acusado, Thibault Kurzawa.

Muitos dos crimes prescreveram, mas a descoberta do diário revelou um dos maiores escândalos de pedofilia da França. Desde então, Scouarnec está preso. A polícia identificou 250 vítimas potenciais do ex-cirurgião e recebeu 184 queixas.

O julgamento que recomeça nesta segunda-feira teve início em 13 de março e foi interrompido no segundo dia, por conta do lockdown imposto pelo governo francês contra a epidemia de coronavírus. As audiências acontecerão a portas fechadas, a pedido das vítimas e de várias testemunhas.

O veredito deve ser anunciado na próxima quinta-feira (3), dia do aniversário de 70 anos do acusado. O júri, escolhido por sorteio, é formado por seis titulares, quatro homens e duas mulheres, e outros dois suplentes. "O que esperamos é que ele possa enfim falar e dizer a verdade", disse a advogada da vizinha de Scouarnec, Francesca Satta, antes do início da audiência.

O atual processo é apenas uma primeira etapa para esclarecer os crimes cometidos por Scouarnec. O ex-cirurgião foi novamente indiciado em outubro por denúncias de fatos que teriam ocorrido em Lorient, na Bretanha, onde o médico é suspeito de estupro e agressões sexuais em outras 312 vítimas maiores e menores.

Os crimes ocorreram entre 1986 e 2014 e foram revelados graças à análise detalhada dos arquivos secretos do acusado.

Quem é Scouarnec?

Para as advogadas da associação francesa Inocência em Perigo, Nathalie Bucquet e Marie Grimaud, o processo deverá revelar quem era Scouarnec em sua vida privada. Os peritos que avaliaram sua personalidade o descreveram como um "manipulador, fascinado pela pedofilia, sem empatia".

Em 2017, diante do juiz, o ex-cirurgião declarou que as agressões para ele acabaram "se tornando algo normal". Ele diz nunca ter se preocupado com possíveis denúncias, apesar de uma condenação, em 2005, a quatro meses de prisão, por consulta a imagens de pornografia infantil na internet.

Sua mulher, segundo ele, "sabia de tudo", e sua irmã, mãe de duas vítimas, chegou a questioná-lo sobre seu comportamento, mas o segredo foi mantido em família. Ambas devem depor no tribunal e seus testemunhos são aguardados com impaciência pelas vítimas.

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