Livro

O retorno à poesia

Pergentino Holanda se prepara para relançar, em 2021, a obra poética "Existencial de agosto", revista e ampliada

Salgado Maranhão / Especial para o Alternativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
O repórter PH com um exemplar do livro "Existencial de Agosto"
O repórter PH com um exemplar do livro "Existencial de Agosto" (PH)

São Luís - Com mais de cinco décadas dedicadas à imprensa, Pergentino Holanda é hoje o mais laureado jornalista maranhense. Remanesce de um tempo de grandes próceres do jornalismo da velha São Luís. Um tempo em que, apesar da Ditadura Militar, também a poesia jorrava pelos becos da cidade, no fogo prometeico da palavra iluminada. “Existencial de agosto”, seu livro de estreia, de 1972, traz o vigor dessa adrenalina criativa.

Traz a atmosfera de agitação libertária dos anos 70, da busca de novos horizontes e sonhos inaugurais ("Meus pés se perdem/num caminho sem margem"), onde a palavra era, ao mesmo tempo, música e açoite. Esse seu ressuscitar "de uma outra tarde", de um jogo que "parou antes do tempo", esplende uma lírica resguardada a conectar-se em perfeita sintonia com as vozes poéticas do presente.

Distinto do jornalismo, o tempo da poesia é o da contemplação. As falas não envelhecem porque os fatos não são apenas fatos, são possibilidades atemporais, relâmpagos acesos na sintaxe. Por esta razão é que o livro de Pergentino Holanda, distando tantos anos de sua publicação primeira, permanece inteiramente vivo.

Não me cabe aqui sondar os motivos pelos quais o poeta republica esta obra escrita há mais de quatro décadas e deixada ao limbo do quase esquecimento. Porém, posso inferir que, a "inútil tortura do verso" – no dizer de Dante Milano –, jamais nos abandona uma vez que nos alcance. Creio ser este o seu caso, nessa retomada do "caminho de volta", pela noção do "inútil nas velhas oficinas/de um jornal que eu construí na mente".

Para João Mohana, prefaciador de “Existencial de agosto”, Pergentino Holanda é daqueles "que passam pelo mundo com a missão de mostrar os sorrisos do Criador", através da arte de "semear diamantes".

Que esta sua memória revivida, numa hora tão desidratada de beleza e ética, lhe assevere nesse caminho de girassóis. No que toca à implacável curiosidade, o vício da poesia se irmana ao jornalismo: na sanha de investigar o real; na ousadia de desconfiar das soluções arranjadas. Assim sendo, a poesia, aparentemente adormecida na trajetória do PH, de certo modo, sempre esteve a se expressar por outra via. Além do mergulho em seu próprio "vasto mundo", o poeta é o agente secreto das vivências e emoções alheias.l

* Salgado Maranhão é poeta

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