História de São Luís

O Largo da década de 1940 e o rejuvenescimento da Praça

Registrou-se o "renascimento" de um dos pontos mais emblemáticos da cidade; o Largo do Carmo e Praça João Lisboa representam um dos espaços mais importantes de São Luís

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

[e-s001]São Luís - Com a consolidação da Proclamação da República, o sistema de administração dos estados no país registra modificação. Por se tratar de um período de transição, era inevitável que os gestores à época priorizassem outras questões em detrimento de investimentos mais maciços no Maranhão, em especial.

Em São Luís, não foi diferente. A cidade viveu uma espécie de hiato na aplicação de recursos, por exemplo, para a execução de melhorias. Além da falta de interesse, a colocação em prática de obras públicas esbarrava em duas dificuldades: divergências políticas entre os governadores em torno da estipulação das prioridades à população e carência na aquisição de materiais para construção.

Então interventor, Antônio Martins de Almeida nomeou Alexandre Bayma como prefeito de São Luís. Martins de Almeida, na edição do Diário Oficial do dia 1º de março de 1935, abordava a questão de obras urbanísticas em território ludovicense. Disse o gestor: “Queremos fazer um apelo aos capitalistas e proprietários de São Luís, no sentido de que empreguem os seus capitais em edificações ou reconstruções, modificando esse deplorável aspecto da cidade colonial”.

Quando Almeida cita a necessidade de investimento privado na cidade, ele praticamente exime qualquer responsabilidade do poder público em melhorias. Um dos locais mais atingidos com esta política é o antigo Largo do Carmo que, neste período, não recebe a atenção devida da administração.

O prefeito Antônio Bayma, nomeado por Almeida, corrobora o pensamento almeidístico e cita que, para facilitar o tráfego, era necessário retirar algumas árvores da Praça João Lisboa, sob a justificativa de que por serem grandes e frondosas, contribuíram negativamente para a segurança pública, pois poderiam servir supostamente como “esconderijo” para meliantes.

Recuperação do Largo: a tentativa de rejuvenescimento
Na década de 1940, a esperança renasce. Se o mineiro Martins de Almeida pregava ações radicais, conforme explicita artigo do acadêmico Benedito Buzar, para desfigurar a cidade, evitando que a administração municipal “se visse livre de problemas urbanísticos”, o maranhense Paulo Ramos – que assume a gestão da cidade, seguia outro caminho.

Em Diário Oficial datado de 19 de agosto de 1938, Paulo Ramos explicitava os obstáculos para a execução de obras públicas em São Luís. Cita o documento que “a construção” e intervenções urbanísticas são consideradas “caras e quase inexequíveis”. Ainda de acordo com Ramos, “o tijolo, a cal, a telha, a areia grossa e outros materiais atingiram preços excepcionais, havendo verdadeiros lances de leilão”.

Segundo o pesquisador reconhecido César Marques, o interventor Paulo Ramos não se abateu por estas e outras questões que o estado enfrentava na área da construção. Uma das medidas para superar o problema foi utilizar, até então, a “considerada boa arrecadação da máquina” e o aporte de recursos federais para fazer alterações mais bruscas na capital.

Com isso, Paulo Ramos realizou algumas intervenções, como na atual Pedro II (um dos nascedouros da cidade) e ainda no Largo do Carmo (que já recebeu à época a denominação de Praça João Lisboa). Além de recuperação no calçamento e outras reformas, uma medida também tomada foi a mudança de local da estátua de João Lisboa, fixada no Centro desde os primeiros anos do século XX.

Era o “renascimento” de um dos pontos mais emblemáticos da cidade. “O Largo do Carmo ou Praça João Lisboa representam espaços importantes e tradicionais da cidade. Foi ali por exemplo que São Luís começa a crescer e a construir a sua malha urbana”, disse o historiador Euges Lima.

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Curiosidades do Largo do Carmo
Antes da recuperação na década de 1940 (pequenos reparos na verdade) no Largo do Carmo, o local – mediante representação da Igreja do Carmo – recebeu eventos e outros fatos importantes. Registro de “Pacotilha” de janeiro de 1910 atestou que houve a inauguração no período de um trecho de “locomotiva” do “Rozário” até o Carmo.

A locomotiva, neste caso, deve se referir – conforme conclusão de O Estado – ao bonde cujas linhas eram comuns em determinados períodos da cidade de São Luís. Outro fato marcante foi registrado e rememorado por “O Combate”, no dia 16 de julho de 1929.

Segundo o periódico, na data (uma terça-feira) completava 25 anos que o ex-bispo do Maranhão, dom Xisto Albano, presidiu a sagração da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, que segundo o jornal se “orienta ao Centro” da praça de seu nome. Na época, a congregação fora entregue ao superior dos capuchinhos, frei Estevam Sexto.

A Igreja do Carmo também receberá, antes da reforma anterior – na década de 1940 (uma intervenção específica) atos familiares de lembrança de entes queridos. Um destes aconteceu no dia 9 de julho de 1928, conforme atesta o jornal “O Combate” de dias antes.

Os abrigos que não existem mais...
O Estado
de 28 de julho de 2018, traz em suas páginas material acerca da história dos abrigos da João Lisboa. Construído a partir do ano de 1951 e inaugurado no ano seguinte, durante as gestões de Eugênio Barros (governador do Maranhão) e Alexandre Costa (prefeito de São Luís), o chamado “abrigo novo”, abrigo dois ou popularmente conhecido como abrigo da João Lisboa (em referência à praça de mesmo nome) foi entregue com 10 boxes como uma opção para aquisição de lanches e posto de carros na região.

De acordo com informações do Arquivo Público do Estado do Maranhão e da obra “Becos e Telhados”, do historiador e pesquisador Antônio Guimarães, a estrutura foi concebida pela construtora Brito Passos, cujo mentor morou em um imóvel na rua do Sol (onde atualmente funciona a sede do Sindicato dos Bancários do Maranhão).

À época, o abrigo da João Lisboa estava incluído em um projeto de revitalização da Superintendência Regional do Instituto Nacional de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O primeiro ocupante do abrigo dois foi, conforme citado em “Becos e Telhados”, um homem identificado como Jorge Pereira da Silva, que seria natural da cidade de São Bento.

Após isso, o local virou referência em localização urbana. Era comum a permanência de taxistas no entorno da estrutura, consumindo os pratos feitos em especial pelas cozinheiras que usavam os abrigos para a preparação de seus alimentos.

Reforma
Ainda em 2018, o Iphan informou a O Estado que o projeto para a recuperação dos abrigos estava “em fase final de elaboração” e as obras estavam orçadas em aproximadamente R$ 4,9 milhões. No entanto, os recursos para os serviços ainda estavam sendo angariados. A direção do Iphan foi consultada e afirmou que não há mais projeto para reconstrução dos abrigos.

De acordo com o superintendente do Iphan no Maranhão, Maurício Itapary, por se tratar de uma estrutura antiga, a mesma precisava ser demolida. “Como havia problemas estruturais, foi necessária a demolição da estrutura”, afirmou. Ficam neste caso apenas as lembranças de quem passou alguns momentos nos emblemáticos abrigos da João Lisboa.

[e-s001]Trilhos no entorno da Praça

Durante as obras de recuperação do Largo do Carmo e seu entorno, O Estado registrou fato histórico e marcante. A retirada dos trilhos usados pelos bondes que outrora faziam o trecho do Centro e adjacências e passavam no entorno do espaço público foi feita e acompanhada pelo periódico. O fato registrado sob o olhar e as lentes do repórter fotográfico José de Jesus é um selo e um marco na transição entre o aspecto ainda envelhecido do local e o atual, rejuvenescido.

[e-s001]Frequentadores gostam da nova praça

O Estado conversou com moradores de São Luís que deram suas impressões acerca do espaço. A maioria gostou do resultado da reforma. Jovens e adultos em geral disseram que os reparos abrilhantaram um local que merecia essa intervenção. “Gostei bastante, quando venho para o Centro, venho correndo. A gente não tem muito tempo para parar e observar a beleza deste ponto. Realmente valorizou um cenário que merecia isso”, disse a técnica de Enfermagem, Bianca Castro, que esteve em uma agência bancária próxima para resolver um problema na conta corrente e aproveitou para descansar em um banco da praça.

A dona de casa Marisa Sousa também, em companhia da jovem Bianca, elogiou o espaço reformado. “Realmente o poder público está de parabéns, sem dúvida”, afirmou.

Até mesmo os tradicionais senhores que sentam em seus bancos nos fins de manhã e tarde em especial na João Lisboa foram agraciados.

[e-s001]Visão dos visitantes
Os turistas paulistas Sebastião Vital e Geny Beloti estiveram na tarde de quinta-feira (26) visitando a Praça João Lisboa e adjacências. Pela primeira vez na Ilha, eles teceram críticas à ausência de atrações, segundo eles, no Centro Histórico (Praia Grande). Porém, adoraram saber acerca da história de João Lisboa e da praça. “Existem poucos locais no nosso Estado com essa rica histórica. E é importante saber que aqui há uma preocupação em se preservar, ou se recuperar, aquilo que já foi ou ainda é fundamental para a preservação da história local”, disse Vita

Requalificação recente

Recentemente, a Prefeitura de São Luís entregou à população o espaço revitalizado. O novo Largo do Carmo (Praça João Lisboa) teve recuperada toda a parte elétrica e foi feita a inclusão do relógio emblemático do Carmo reformado. Foram incluídas no projeto as galerias para escoamento da água das chuvas e instaladas novas luminárias, lixeiras e bancos. Além do relógio, o busto do Frei Capuchinho Carlos Olearo – uma das referências da Província de Nossa Senhora do Carmo (ligada à Igreja do Carmo) foi inserido no espaço rejuvenescido. A estátua de João Lisboa foi restaurada, sem precisar ser transferida, ganhando a cor original do cobre do qual é feito o monumento. Os serviços no Largo do Carmo (João Lisboa) fizeram parte do programa “São Luís em Obras”, tiveram recursos próprios e englobam um pacote de obras da região central que incluem as praças Deodoro, Pantheon, Pedro II e Rua Grande. Além destes locais, também já passaram por reforma a Praça da Alegria, Praça dos Pescadores, Fonte das Pedras e Fonte do Ribeirão.

No entanto, O Estado observou algumas pendências importantes no projeto original do Largo do Carmo. Com base em depoimentos dos usuários da área, faltam opções por exemplo para consumo de alimentos ou mesmo para tomar um simples café curtindo um cair de sol na tarde da Ilha. Outro fato é a ausência de uma arborização mais maciça no trecho. Sem as árvores, o calor reflete no terreno e eleva a temperatura para quem passa pelo local diariamente. “Aqui em especial no início das tardes, não há a menor condição de você minimamente sentar no banco perto mais da igreja. Perto da estátua de João Lisboa é um pouco menos quente”, disse o autônomo Henrique Matos, que passa pelo Centro diariamente.

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