Artigo

Lives. A epidemia da pandemia

José Ewerton Neto/Autor de O ABC bem humorado de São Luís

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

Lives. Taí uma epidemia que não havia antes do malfadado advento do Covid-19 e que, de repente, se espalhou mais do que notícia ruim em rede social. Quando surgiu, suspeitando-se de um surto, não chegava a ser bem uma doença, já que apresentava alguns sintomas iniciais favoráveis. Só depois é que proliferou como praga, contaminação, mania, vício.

Esse tipo de vírus chamado Exibid-19, moderno e muito curioso, com predileção inicial por atacar apenas celebridades, apareceu inicialmente em versão chique, portanto. O principal sintoma detectável do seu ataque é o exibicionismo que toma conta da pessoa atingida e, daí para frente, circula através do sangue para todos os órgãos do corpo humano.

A coisa desandou quando pessoas comuns, atingidas também pelo Exibid-19, assim que viram as celebridades fazendo lives começaram a achar que bastava fazer lives para virar celebridades também. E haja as lives tomarem conta do cotidiano nacional a ponto do trânsito na net ficar engarrafado, de tanta live pra lá e pra cá. Se você é daqueles que tem um milhão de amigos, como Roberto Carlos, e a toda hora é solicitado por lives e mais lives de amigos para assistir, a única maneira de não faltar com seu dever de amigo passou a ser possuir uma multidão de celulares para se fazer presente a todas os eventos e exibições.

Em pouco tempo a epidemia se espalhou até chegar ao ponto em que você, de tanto assistir lives, começou a sentir também a sua vida esvaziando (a repetição de tanta live idiota causa essa mórbida sensação) até se ver na iminência de fazer urgentemente uma live com sua marca. Se você pensou: “A vida se foi, mas se faço live, logo existo”. nesse ponto o vírus acabou de lhe contaminar, já não havendo remédio nem salvação à vista e você está à mercê do vírus, ao que tudo indica, para sempre.

O certo é que, como a todo vírus que se preza, também sobre o Exibid-19 a OMS não sabe de onde veio nem surgiu. O que se sabe é que no Brasil se espalhou mais do que música ruim. Cantores, atores, noveleiros, jornalistas, políticos, médicos, empresários, filósofos, pagodeiros, jogadores de futebol, escritores, poetas e até papagaios, foram contaminados. Outro dia vi no Facebook a reprodução em vídeo da live de um papagaio que gritava “Fora Bolsonaro” e que teve mais audiência do que o Fantástico, talvez por dizer a mesma coisa com muito menos palavras. A doença se disseminou tanto que já tem macumbeiro dizendo que mortos contaminados no além, estão fazendo lives e cobrando 50 pilas pela participação. O dinheiro, pago ao macumbeiro, é transmitido para os liveiros do além, via PIX, segundo informações.

Durante a pandemia, se viu lives de Feira de Livros (sem livros) lives de eleição (sem votos) e lives de consulta médica (sem receitas) o que induz à certeza de que o próximo Carnaval será feito por lives, as passistas desfilando em casa mesmo.
A grande vantagem será que as poposudas, desta vez, não precisarão sequer usar fio dental, tatuagens ou pinturas para esconder suas grandes e pequenas vergonhas, já que ninguém poderá lhes acusar de falta de decoro por desfilarem completamente nuas. Afinal de contas, qualquer um tem o direito de andar nu em sua própria casa.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.