Carreira política

Joe Biden será o presidente americano mais velho a assumir

Democrata passou dos 270 votos votos no colégio eleitoral, segundo projeções, e venceu a disputa com Trump. Biden perdeu mulher e filha em acidente de carro nos anos 70, além de outro filho que não resistiu a câncer. Desde jovem ele atua na política

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
O presidente eleito tem vida pública desde 1969, quando iniciou a carreira política como vereador
O presidente eleito tem vida pública desde 1969, quando iniciou a carreira política como vereador (Joe Biden)

WASHINGTON - Joe Biden completa 78 anos em 20 de novembro. Dois meses depois, ele vai assumir a presidência dos Estados Unidos e será a pessoa mais velha a ocupar o cargo, segundo indicam projeções dos veículos de imprensa.

O presidente eleito tem vida pública desde 1969, quando iniciou a carreira política como vereador de um condado do estado do Delaware. Três anos depois, em 1972, aos 29 anos, ele venceu eleições para o Senado do país pela primeira vez e se tornou uma das pessoas mais jovens a ocupar o cargo de senador nos EUA. O presidente era Richard Nixon, e o país ainda estava a três anos de sair da Guerra do Vietnã.

Depois disso, Biden se reelegeu outras cinco vezes, até assumir o cargo de vice-presidente na chapa de Barack Obama, em 2008. Ele teve cargos como deputado eleito entre 1969 e 2017.

Esses 48 anos ininterruptos foram um de seus trunfos durante a campanha vitoriosa. Ele se colocou como um candidato com a experiência que as atuais circunstâncias exigem.

Biden criticou seu adversário, Donald Trump, pela forma como o republicano conduziu a resposta à pandemia de Covid-19, que ele classificou como lenta. O democrata sugeriu, por exemplo, aumentar a quantidade de testes, não cobrar por eles e fornecer uma eventual vacina de graça.

A pauta da saúde foi central para Biden, que foi vice de Obama quando foi aprovada a lei de atendimento acessível à saúde, que democratizou os serviços médicos nos EUA.

Oficialmente, sua vida como um político de projeção nacional começou em um hospital, mas por um motivo trágico.

Em 1972, Biden já tinha sido eleito senador, mas ainda não havia tomado posse quando sua mulher se envolveu em um acidente de carro em Delaware. Os filhos do casal estavam no carro. Biden perdeu a esposa e a filha mais nova, de 18 meses.

O democrata já disse que, na época, pensou em não assumir o posto, mas, no fim, decidiu que iria mesmo ser senador. Ele foi empossado no quarto de hospital onde um de seus filhos estava internado.

Durante décadas, ele viajou diariamente de trem entre Washington DC e Delaware para estar com os filhos à noite. Ele ganhou, inclusive, o apelido de "Amtrak Joe" por causa dessa rotina - Amtrak é o nome da empresa de trem.

Biden, nascido na Pensilvânia em 1942, em uma família católica (os EUA são de maioria protestante), se casou de novo em 1977, com Jill Tracy Jacobs, e teve outras crianças.

Ele enfrentou uma segunda tragédia pessoal quando Beau Biden, seu filho mais velho, foi diagnosticado com um tumor cerebral em 2013 e morreu dois anos depois.

A campanha de 2020

Biden teve um começo de campanha ruim. O Partido Democrata escolhe seu candidato em um processo chamado de primárias. Há votações em etapas entre pré-candidatos que tentam a nomeação. Além de Biden, Kamala Harris, a próxima vice-presidente, também concorreu.

Nas três primeiras rodadas, Biden conseguiu, no máximo, um segundo lugar distante do primeiro colocado.

A corrida começou a virar para ele no estado da Carolina do Sul. Biden ficou em primeiro, bem à frente dos demais pré-candidatos.

A partir desse momento, o número de pré-candidatos diminuiu, até que ficaram somente ele e Bernie Sanders, que também desistiu de sua candidatura e declarou apoio.

A Carolina do Sul, onde começou a virada, é um estado onde o eleitorado negro tem uma representação significativa, e Biden é associado a Barack Obama, de quem foi vice-presidente.

Quando Obama venceu as primárias em 2008, ele não tinha experiência em política externa. Fazia sentido nomear um vice que pudesse trazer isso à chapa.

Durante o período em que ocupou o cargo de senador, Biden se notabilizou por fazer parte de comitês de política externa. Ele é visto até hoje como um político com bom conhecimento de temas internacionais.

Obama entra na vida de Biden

Obama, que ajudou Biden na reta final da campanha, era um "senador júnior" em 2008. Ele era considerado muito jovem para ser o nomeado do Partido Democrata naquele ano, mas venceu outros pré-candidatos com mais tradição, como o próprio Biden e também Hillary Clinton.

Para Obama, fazia sentido ter como companheiro de chapa um político experiente e com tradição no Partido Democrata, e Biden se encaixava no perfil.

O atual candidato democrata sempre foi visto como um moderado dentro do partido. A revista "The Economist" fez um levantamento sobre seu histórico de votações com base no espectro esquerda e direita, e Biden está praticamente no centro.

Depois de passar pelo escrutínio de Obama para ser seu vice, Biden, no entanto, não aceitou a proposta de imediato. Dada a pouca experiência de Obama, Biden tinha receio do que poderia acontecer com o "Biden brand" (a marca Biden, em tradução literal), de acordo com o livro "Game Change", dos jornalistas John Heilemann e Mark Halperin. Ele acabou aceitando, e se tornou um vice leal e próximo ao presidente, um "obamista".

Obama e Biden têm estilos diferentes e complementares, de acordo com reportagens da mídia americana. O ex-presidente, formado em direito em Harvard, é tido como um homem aplicado, estudioso, inteligente e sagaz.

Biden também estudou direito, mas em uma universidade de pouco prestígio, Syracuse, e é um político clássico, que dialoga muito, se esforça para negociar com adversários.

Os dois tinham almoços semanais durante os oito anos de Obama na presidência. As famílias dos dois políticos se aproximaram e são amigas.

Durante o período de Biden como vice, ele foi especialmente importante em dois momentos. Um deles foi a aprovação do estímulo fiscal de 2009. Na prática, os EUA passaram a injetar dinheiro na economia por um processo de nome "quantitative easing".

O outro momento foi quando ele resolveu a crise de orçamento de 2013. Foi Biden quem negociou com os republicanos para que os parlamentares aprovassem a regra que permitia que o país pudesse se endividar. Por razões de regimento, isso era uma grave ameaça ao governo, que poderia simplesmente ser impedido de funcionar.

Polêmicas do passado

Em 1991, o presidente dos EUA, George Bush, apontou Clarence Thomas, um juiz negro, para a Suprema Corte do país. Antes de ele ser confirmado pelo Congresso americano, surgiu uma denúncia de assédio sexual de uma advogada chamada Anita Hill.

Hill foi ouvida por um comitê de parlamentares presidido por Biden, que na época era senador. A audiência foi considerada um momento histórico polêmico porque os senadores questionaram Hill de forma agressiva, colocando em xeque a intenção dela - um senador afirmou que Hill havia se inspirado no livro "O Exorcista" ao relatar os incidentes de assédio sexual.

Pouco antes de lançar a candidatura em 2020, Biden telefonou para Hill. Ele afirmou à advogada que se sente mal pelo que aconteceu em 1991, mas não se considerava o responsável.

Durante décadas, o próprio Biden foi criticado por abraçar, beijar e ter proximidade física com mulheres, algumas delas que ele mal conhecia.

A ex-deputada pelo estado de Nevada Lucy Flores, por exemplo, ficou incomodada quando Biden lhe deu um "beijo grande e lento" na cabeça enquanto ela esperava para falar num comício realizado há seis anos.

"Para mim, a política sempre foi ter conexões, mas terei mais consciência em respeitar o espaço pessoal no futuro. Esta é a minha responsabilidade e vou fazer isto", prometeu Biden no ano passado.

A cruzada

Nos EUA, as cidades são divididas em bairros onde os moradores têm predominantemente uma raça. Para integrar mais as sociedades, foi implementada uma política conhecida como "busing" (levar de ônibus). Algumas crianças de bairros majoritariamente negros iam estudar em escolas que ficavam em bairros de brancos, e vice-versa.

Uma parcela da população branca não aprovava a política, e, nos anos 1970, Biden se opôs à integração com os ônibus também.

Essa foi uma crítica que Kamala Harris, a vice na chapa, fez a ele durante um debate durante as primárias. Ela foi uma das beneficiadas pela política nos anos 1970, já que era uma menina preta e indiana.

Biden respondeu que não se opunha à política em si, mas, sim, ao fato de ela ser feita por uma ordem judicial.

Aneurismas e operação no cérebro

O democrata já havia participado de outras primárias para a nomeação do Partido Democrata. A primeira vez foi no fim dos anos 1980. Ele desistiu da candidatura depois de um escândalo em que ficou claro que ele havia plagiado um discurso de um político inglês.

Pouco tempo depois de desistir, ele descobriu que tinha dois aneurismas cerebrais severos. Ele foi operado no cérebro. Como piada, ele costuma dizer que seus problemas durante a campanha durante as primárias em 1988 foram causados pela doença.

A segunda disputa nas primárias foi em 2008, quando ele teve resultados muito ruins e desistiu rapidamente. Foi quando Obama conquistou a nomeação e também a eleição.

No fim dos anos Obama, Biden chegou a ponderar se deveria se candidatar. No entanto, ele ficou com receio de enfrentar os Clinton, que já tinham o apoio de Obama. Além disso, a morte de Beau Biden era muito recente. De acordo com uma reportagem do "Financial Times", Biden chorava sempre que se lembrava do segundo filho que perdeu.

O outro filho e o impeachment de Trump

Hunter Biden é o único filho vivo do primeiro casamento de Joe Biden. Ele foi expulso da Marinha dos EUA porque um exame detectou que ele havia usado cocaína e fundou empresas quando o pai era vice-presidente do país.

Hunter Biden também se tornou membro do conselho de administração de uma empresa da Ucrânia.

Donald Trump pressionou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para que o país investigasse os Biden.

Trump foi acusado e condenado pelos deputados por ter usado o auxílio militar dos EUA em troca da investigação. Durante o processo de impeachment, usou-se a expressão latina Quid pro quo, ou seja, na prática, Trump teria vinculado o auxílio militar à Ucrânia a uma possibilidade de abertura de investigação contra Hunter Biden.

O Senado, de maioria republicana, absolveu Trump no dia 5 de fevereiro, quando as primárias para a nomeação do Partido Democrata já aconteciam.

O assunto do filho de Biden voltou ao noticiário porque um jornal, o "NY Post", publicou uma reportagem sobre documentos que teriam sido encontrados em computadores que Hunter esqueceu em uma loja de assistência técnica.

A volta de Obama

Na prática, as primárias acabaram quando o senador Bernie Sanders desistiu de concorrer, no início de abril. Sanders foi mais combativo e demorou mais para abandonar a candidatura em 2016, quando Hillary Clinton foi a nomeada.

O site Politico ouviu um ex-assessor de Clinton que afirmou que a habilidade de Biden para cultivar relações pessoais lhe rendeu um benefício. Para Sanders, Biden era uma das poucas pessoas que o levavam a sério antes de 2016. Ele não insistiu tanto como fez contra Hillary.

Obama se manteve distante durante as primárias, mas, na reta final, entrou na campanha com críticas a Trump.

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