ESTADOS UNIDOS - Enquanto Joe Biden estreita o caminho para chegar aos 270 delegados, fica mais claro o quanto sua possível vitória está também atrelada à força do trumpismo, que sai vivo destas eleições. Não adianta seguir em frente depreciando o extenso e profundo fosso que o presidente Trump explorou sabiamente com o objetivo de demarcar o país em dois campos bem definidos.
Num discurso de vencedor, sem cravar a vitória, o democrata prometeu que sob sua presidência não haverá estados azuis ou vermelhos, apenas os Estados Unidos da América. “Para progredir, precisamos parar de tratar nossos oponentes como inimigos. Não somos inimigos.”
Os resultados preliminares e a batalha voto a voto em estados divididos, contudo, expuseram de forma contundente as visões antagônicas dos americanos sobre o controle da pandemia, das mudanças climáticas, da economia.
Biden soube explorar a negligência do presidente diante da pandemia de Covid-19 e o seu autoritarismo face aos protestos deflagrados pela histórica divisão racial do país, que deram o tom da campanha eleitoral deste ano.
Mudanças
Imprimiu o discurso moderado e conciliatório que foi tão esvaziado pelo mandato de Trump. O ex-vice-presidente de Obama agradou ao campo ávido por mudanças e por restaurar instituições democráticas e a liderança dos EUA no mundo. Mas isso a esperada onda azul, com o comando de democratas na Casa Branca e no Congresso, não se concretizou.
As cédulas eleitorais mostraram que o outro lado do fosso sobrevive, é competitivo e não virou as costas para o presidente. Ele persiste em corresponder às queixas da América rural refletida na mesma coalizão de homens brancos e religiosos que o elegeu em 2016.
Esta aliança acredita que a eleição foi fraudada e demonstra simpatia ao QAnon, a teoria conspiratória pró-Trump e antidemocrata. Encara Biden e a vice Kamala Harris como uma dupla travestida de socialistas, como prega o presidente. Sob esse aspecto, mesmo que Trump tenha sido derrotado, ele triunfou.
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