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Eleições nos EUA: como Trump mudou o mundo

Na próxima terça-feira, 3, os americanos vão decidir se dão a Trump mais quatro anos de governo ou se escolhem outro presidente;pesquisa revela que o presidente não ajudou muito melhorar a imagem do país no exterior

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Trump já mudou o mundo em seus quatro anos na Casa Branca.
Trump já mudou o mundo em seus quatro anos na Casa Branca. (Trump)

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos não é apenas o líder do país, ele é provavelmente a pessoa mais poderosa do mundo. Suas decisões mudam a vida de todos. E Donald Trump não é exceção.

Em 3 de novembro, os americanos vão decidir se dão a Trump mais quatro anos de governo ou se escolhem outro presidente. Mas, ganhando ou não um segundo mandato, Trump já mudou o mundo em seus quatro anos na Casa Branca.

O presidente Trump repete com frequência que os EUA são "o maior país do mundo". Mas, de acordo com uma recente pesquisa do Pew Research Center feita em 13 países, Trump não ajudou muito melhorar a imagem do país no exterior.

Em muitos países europeus, a porcentagem do público com uma visão positiva dos EUA está em seu nível mais baixo em quase 20 anos. No Reino Unido, 41% tiveram uma opinião favorável do país, enquanto na França a opinião positiva foi de 31%, a menor desde 2003. Na Alemanha, apenas 26% das pessoas têm uma visão positiva dos EUA.

A resposta dos EUA à pandemia do coronavírus foi um fator importante — apenas 15% dos entrevistados sentiram que os EUA lidaram bem com a pandemia, de acordo com dados de julho e agosto.

É difícil dizer exatamente o que o presidente Trump pensa sobre as mudanças climáticas, porque ele chamou o fenômeno tanto de "um trote que saiu caro" quanto de um "assunto sério" que seria "muito importante" para ele.

Os fatos são que após seis meses no cargo ele consternou os cientistas ao anunciar a retirada dos EUA do acordo climático de Paris, nos qual quase 200 países se comprometeram a tomar medidas para tentar manter o aumento da temperatura global abaixo de 2ºC.

Os EUA são o segundo maior emissor de gases do efeito estufa, atrás apenas da China, e pesquisadores alertaram que, se Trump for reeleito, pode ser impossível controlar o aquecimento global.

Acordo de Paris

Rejeitando o acordo de Paris, o presidente afirmou que este "teria prejudicado produtores americanos com excessivas restrições regulatórias". Trump removeu uma série de regulamentações contra poluição para cortar o custo de produção de carvão, petróleo e gás.

Várias minas de carvão dos EUA tiveram de fechar mesmo assim, pressionadas pela competição do gás natural mais barato e pelos esforços de Estados para apoiar a energia renovável. Números do governo mostram que as fontes renováveis ​​geraram mais energia do que o carvão nos EUA em 2019, pela primeira vez em mais de 130 anos.

A saída dos EUA do acordo climático de Paris entra formalmente em vigor em 4 de novembro, um dia após a eleição presidencial. Joe Biden prometeu colocar o país no pacto se ganhar.

Os temores de que a retirada dos EUA causaria um efeito dominó não se concretizaram, embora alguns observadores acreditem que isso facilitou o caminho para Brasil e Arábia Saudita bloquearem o progresso na redução das emissões de carbono.

Fronteiras fechadas para alguns

O presidente Trump deu os primeiros passos de sua política para a imigração apenas uma semana após sua posse, fechando as fronteiras dos EUA para viajantes de sete países de maioria muçulmana. Atualmente, 13 nações estão sujeitas a rígidas restrições de viagens.

O número de estrangeiros que vivem nos EUA era cerca de 3% maior em 2019 do que em 2016, no último ano do mandato do presidente Barack Obama. Mas o perfil dos imigrantes mudou.

A porcentagem de residentes nos EUA nascidos no México diminuiu constantemente durante o mandato de Trump, enquanto o número de pessoas que se mudaram de outras partes da América Latina e do Caribe aumentou.

Também tem havido uma redução no número de vistos que permitem às pessoas se estabelecerem permanentemente nos EUA — principalmente para familiares de pessoas que já vivem no país.

Se há algo que simboliza a política de imigração do presidente Trump é certamente o muro que ele prometeu construir na fronteira com o México. Em 19 de outubro, a Alfândega e o Serviço Proteção de Fronteiras dos EUA afirmaram que 597 km de muro foram construídos — quase todos eles substituindo cercas que já existiam.

O muro, no entanto, não diminuiu a onda de pessoas desesperadas para se mudar aos EUA. O número de migrantes detidos na fronteira EUA-México atingiu seu nível mais alto em 12 anos em 2019, estimulado por um pico nas chegadas durante a primavera. Mais da metade eram famílias, principalmente da Guatemala, Honduras e El Salvador, onde a violência e a pobreza estão levando as pessoas a buscar asilo e uma nova vida em outro lugar.

Voltando-se para os refugiados, Donald Trump fez cortes no número de pessoas que podem se reestabelecer no país. Os EUA receberam quase 85 mil refugiados no ano fiscal de 2016, que caíram para menos de 54 mil pessoas no ano seguinte.

Em 2021, o máximo será de 15 mil pessoas — o menor número desde o programa de refugiados lançado em 1980.

Notícias falsas

"Acho que um dos melhores termos que eu criei é fake news (notícias falsas, em inglês)", disse Donald Trump em uma entrevista em outubro de 2017.

Embora o presidente definitivamente não tenha inventado o termo fake news, é justo dizer que ele o popularizou. De acordo com postagens de mídia social e transcrições de áudio monitoradas por Factba.se, ele usou a frase cerca de 2 mil vezes desde a primeira vez que a tuitou, em dezembro de 2016.

Se você pesquisar no Google por fake news hoje, obterá mais de 1,1 bilhão de resultados em todo o mundo. Em gráficos ao longo do tempo, você pode ver como o interesse dos EUA aumentou no inverno de 2016-17 e atingiu o pico na semana em que o presidente fez o que chamou de "Fake News Awards", uma lista de notícias que considerou falsas.

Durante as eleições de 2016, fake news significavam literalmente notícias falsas, como uma mentira muito compartilhada que dizia que o papa Francisco endossou Trump para a presidência. Mas à medida que caiu no uso popular, o termo deixou de ser apenas uma forma de se referir a desinformação.

O presidente frequentemente usa o termo para atacar as notícias das quais não gosta ou que enxerga como prejudiciais a ele. Em fevereiro de 2017, ele foi além, rotulando vários veículos de comunicação de "inimigos do povo americano".

O termo hoje é usado por líderes na Tailândia, Filipinas, Arábia Saudita e Bahrein, entre outros, e alguns usam o suposto combate à "divulgação de notícias falsas" como desculpa para justificar a repressão e processos contra ativistas e jornalistas da oposição.

Grupos da sociedade civil dizem que, ao usar o termo para atacar reportagens confiáveis, os políticos minam fundamentalmente a democracia, que depende de um conhecimento das pessoas sobre os fatos reais.

As 'guerras sem fim'

Em um discurso em fevereiro de 2019, o presidente Trump prometeu retirar as tropas dos EUA da Síria, dizendo que "as grandes nações não lutam em guerras sem fim."

Mas, meses depois, Trump decidiu manter cerca de 500 soldados na Síria para proteger os poços de petróleo. O presidente reduziu a presença que herdou no Afeganistão e, até certo ponto, no Iraque e na Síria. Mas as forças americanas ainda estão em todos os lugares em que estavam no dia em que ele assumiu o cargo.

Existem medidas que podem ter impacto no Oriente Médio sem o uso de tropas, é claro. O presidente Trump transferiu a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém em 2018, reconhecendo a cidade, incluindo seu leste ocupado, como a capital de Israel. No mês passado, ele saudou o "amanhecer de um novo Oriente Médio", quando os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein assinaram acordos que normalizam as relações com Israel — uma medida que os EUA ajudaram a intermediar.

Retórica à parte, esta foi talvez a conquista diplomática mais significativa da administração Trump. Os dois Estados do Golfo são apenas a terceira e a quarta nações árabes no Oriente Médio a reconhecer Israel desde que o país declarou sua independência em 1948.

A arte do acordo

O presidente Trump parece desprezar negócios que não negociou pessoalmente. Em seu primeiro dia no cargo, ele abandonou a Parceria Trans-Pacífico, um acordo comercial de 12 nações aprovado pelo presidente Obama, após classificá-lo como "horrível". A retirada beneficiou principalmente a China, que tinha visto o acordo como uma tentativa de conter sua influência na região Ásia-Pacífico. Mas, nos EUA, o fim do acordo foi saudado por críticos que diziam que o acordo comprometeria empregos americanos.

Trump também renegociou o Nafta (acordo de livre comércio da América do Norte) com o Canadá e o México, que ele tinha chamado de "talvez o pior acordo comercial já feito". Sua substituição não mudou muito, mas endureceu as disposições trabalhistas e as regras sobre o fornecimento de peças automotivas.

A verdadeira fixação do presidente tem sido em como os EUA se beneficiam no comércio mundial. O resultado foi uma guerra comercial amarga com a China, na qual as duas maiores economias do mundo impuseram centenas de bilhões de dólares em impostos sobre os produtos uma da outra.

A guerra comercial tem sido uma dor de cabeça para os produtores de soja dos EUA e para as indústrias de tecnologia e automotiva. A China também foi afetada, na medida em que empresas transferiram sua produção para países como Vietnã e Camboja para reduzir seus custos.

Para 2019, o déficit comercial dos EUA em bens com a China ficou ligeiramente abaixo do nível de 2016. As empresas americanas importaram menos para evitar as tarifas de Trump.

No entanto, apesar da pandemia de coronavírus influenciar fortemente as tendências para 2020, os EUA ainda importam mais produtos do que exportam.

Conflitos com a China

Em 2 de dezembro de 2016, Trump (então presidente eleito) deu o passo altamente incomum de falar diretamente com o presidente de Taiwan rompendo com um precedente criado em 1979, quando as relações formais foram cortadas. Carrie Gracie, então editora da BBC para a China, previu que a medida geraria "alarme e raiva" em Pequim, que vê Taiwan como uma província da China e não um Estado independente.

A atitude de Trump foi a primeira em uma disputa multifacetada entre os grandes rivais geopolíticos, que levou a relação entre os países ao ponto mais crítico em anos.

Os EUA irritaram a China ao chamar de ilegais suas reivindicações territoriais no Mar da China Meridional; ao cobrar tarifas sobre seus produtos; ao proibir downloads dos aplicativos TikTok e WeChat e ao impor sanções à gigante das telecomunicações chinesa Huawei — que os EUA afirma ser uma ameaça à segurança nacional.

Mas as tensões não começaram com Trump e são impulsionadas em parte pelas próprias ações da China. O presidente Xi Jinping, no poder desde 2013, aprovou uma lei de segurança nacional altamente controversa sobre Hong Kong e determinou a prisão em massa de membros de uma minoria muçulmana na China.

O presidente Trump levou a disputa ideológica para diversos campos, insistindo em chamar o coronavírus de "vírus chinês", em uma tentativa de escapar de questionamentos sobre sua própria resposta à pandemia.

No entanto uma mudança na liderança dos EUA não significaria necessariamente um tom mais conciliador com a China. O candidato democrata Joe Biden chamou o presidente Xi Jinping de "bandido" e afirmou que o líder chinês "não tem um osso [democrático] em seu corpo".

Uma quase guerra com o Irã

"O Irã será totalmente responsável por vidas perdidas ou danos incorridos em qualquer uma de nossas instalações. Eles pagarão um PREÇO muito GRANDE! Isso não é um Aviso, é uma Ameaça", escreveu Trump em uma postagem no Twitter na véspera de Ano Novo de 2019 . "Feliz Ano Novo!", continuou.

Dias depois, os EUA assassinaram Qasem Suleimani, o general mais poderoso do Irã e o homem que liderou suas operações militares no Oriente Médio. O Irã retaliou, disparando mais de uma dúzia de mísseis balísticos contra duas bases americanas no Iraque. Mais de 100 soldados americanos ficaram feridos e analistas consideraram as nações à beira da guerra.

Não houve guerra, mas civis inocentes morreram: poucas horas depois dos ataques com mísseis do Irã, seus militares abateram por engano um jato de passageiros ucraniano, matando todas as 176 pessoas a bordo.

Como a relação dos países chegou a isso? Uma série de erros de cálculo mútuos contra um pano de fundo de desconfiança.

Os EUA e o Irã estão em desacordo desde 1979, quando o xá (seu monarca) apoiado pelos EUA foi deposto e 52 americanos foram feitos reféns dentro da embaixada dos EUA.

Em maio de 2018, Trump aumentou as tensões ao abandonar um acordo nuclear de 2015, no qual o Irã concordou em limitar seu programa nuclear em troca do levantamento das sanções econômicas. Trump então implementou o que a Casa Branca chamou de "o regime de sanções mais duras já imposto" — com o objetivo de obrigar os líderes do Irã a um acordo mais do seu agrado.

Teerã se recusou a se dobrar. As sanções levaram a economia do Irã a uma recessão severa e, em outubro de 2019, o custo dos alimentos aumentou 61% com relação ao ano anterior e o preço do tabaco, 80%. Iranianos realizaram protestos generalizados um mês depois.

Embora a crise do coronavírus tenha absorvido a atenção política em ambos os países, seus canais diplomáticos permanecem poucos e seus pontos de conflito numerosos.

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