Artigo

Em algum lugar do passado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

Certa vez li que é preferível ter apenas na lembrança tudo que já vivemos, sem tentar ver como essas vivências estão ou são no presente; a razão é que a realidade acaba por decepcionar e destruir essas lembranças. Foi o que aconteceu comigo.

Sempre tive por Caxias, onde nasci há mais de 85 anos, o maior carinho. Sou, portanto, com alguns anos de interrupção, testemunha ocular da sua história. Foi lá que cresci e alcancei a adolescência numa época em que a cidade experimentava o seu apogeu industrial e comercial, também educacional, e os homens que a governavam, ajudados pelos industriais, comerciantes e educadores, tinham e faziam história. Tenho muito orgulho e saudades dessa época. E os que vieram depois, certamente, pensaram da mesma forma.

Em várias oportunidades procurei demonstrar esse carinho em busca de uma alternativa econômica para a cidade, que já possuiu várias fábricas de tecidos e, em apenas uma delas, a Manufatura, empregava diretamente mais de 300 pessoas. E, agora, essa cidade não consegue despertar o interesse devido das autoridades constituídas nem dos políticos que lhes são mais ligados, com as exceções de praxe, e não consigo compreender o que está acontecendo com o seu patrimônio histórico.

A tradição cultural de Caxias é inegável. Ao resgate dessa tradição foram feitos apelos e constituídas ações, e implementadas várias tentativas em relação ao Teatro Fênix e Fábrica Manufatura, por exemplo, aproveitando a visita a Caxias do então ministro Gilberto Gil, durante a administração da prefeita Márcia Marinho.

Na década de 40, o Centro Cultural Coelho Neto movimentou a cidade com suas sessões de declamadores, cantores, oradores. Em 1997, fundaram a Academia Caxiense Letras, que espero ainda possa resgatar essas tradições e, já que reúne o que há de mais representativo entre os seus intelectuais, influenciar no encaminhamento e solução dos problemas da cidade; também existe o Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, de igual importância.

O patrimônio histórico da cidade já foi muito significativo; hoje, quase nada mais existe e, o que sobrou, encontra-se desfigurado. Foi o que aconteceu, entre outros prédios (inclusive com o prédio do Cassino ‘novo’) com o antigo Cassino Caxiense, na praça Gonçalves Dias, razão das minhas lembranças destruídas e motivo desta crônica.

Pertencente a particulares, assim como o prédio ‘novo’, na rua Aarão Reis, a diversos sócios, o município não teve condições de evitar a destruição interna desse prédio sobrando apenas, para enganar, a fachada; naquele dia, após mais de cinco décadas, jamais deveria ter desejado entrar naquele prédio.

Pensei que ainda fosse encontrar, no ‘velho’ Cassino, sua escadaria de madeira de lei, seus dois salões assoalhados com taboas de cores diferentes, seu coreto central onde o maestro Josino Frazão e sua orquestra deleitavam a mim e tantos outros jovens de então; seu espaço avarandado e, ao fundo, o serviço de bar. Doce ilusão, nada mais existe. Tudo destruído! A escadaria de cimento, bem como o piso dos seus salões, dividido em verdadeiros cubículos destinados a aluguel.

De quem é a culpa?

Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Economista, membro Honorário da ALL e da ACL, filiado à IWA e ao Movimento ELOS Literários

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