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Senadores

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

Na semana passada fiz uso deste nobre espaço para falar de sua excelência, ou sua excrescência, como queiram, senador Chico Rodrigues. Retomo o tema, pois não saiu de pauta. Chico Rodrigues pediu licença de 121 dias para fugir do Conselho de Ética do Senado, que nada mais é do que uma confraria de amigos, por constranger seus pares, que o forçaram a se afastar.

Como o suplente de Chico é o próprio filho, escancarou outra anomalia travestida de normalidade. O episódio do dinheiro nas entranhas do senador Chico Rodrigues levantou o debate sobre os suplentes, já que o indigitado tem seu filho como segundo e que deve assumir a vaga com seu afastamento. Uma vergonha. Mas, indo um pouco mais fundo, não seria hora de discutir para que serve o Senado Federal? Talvez assim se possa entender porque o Amapá (751 mil habitantes) tem o mesmo número de senadores de São Paulo (44 milhões de habitantes). Davi Alcolumbre, por exemplo, teve 131.695 votos, enquanto o major Olímpio foi eleito com o sufrágio de 9.039.523 paulistas.

É vergonhoso, acintoso e perdulário o nosso Congresso Nacional; como alguns de nossos políticos não têm qualificação e nem condições morais para estar lá nos representando, mesmo eleitos democraticamente pelo voto, somos obrigados a arcar com esse peso.

O engenheiro civil, Lidio Lima, enviou e-mail que sintetiza de forma cabal o triste momento que estamos vivendo em nosso país:

“Presidente Fernando Collor de Melo foi afastado da presidência da República por 8 anos por denúncia de corrupção. Anos depois foi inocentado de todos os seus crimes pelo STF. José Guimarães (PT-CE), após ter um assessor pego com o dinheiro na cueca, foi promovido a líder do PT no Congresso. Agora o senador, pego com dinheiro na bunda, se afasta voluntariamente, debochando de todo mundo e ainda se dizendo inocente. Fernando Collor retornou à vida pública como senador da República por Alagoas, e já responde processos por corrupção. José Guimarães foi reeleito para mais um mandato de deputado federal pelo Ceará. Agora o Senador afastado, Chico Rodrigues, quem sabe retornará algum dia como Ministro do Tribunal de Contas. Vamos aguardar”.

Em contraponto, faço o registro da belíssima despedida de José Mojica, senador vitalício do Uruguai, ex-presidente da República de 2010 a 2015, que aos 85 anos, renunciou ao mandato de senador, por causa da pandemia. Abraçado a José Maria Sanguinetti, 84 anos, também senador e ex-presidente do Uruguai, por dois mandatos, 1985 a 1990 e 1995 a 2000, adversários políticos, encerraram suas carreiras políticas juntos, e selaram o encontro com forte abraço, contrariando o protocolo de distanciamento. Uma cena comovente e civilizada, como deve ser entre pessoas de bem, que lutam por ideias e ideais.

Fico com as palavras de Pepe Mojica, na despedida: “No meu jardim faz décadas que não cultivo o ódio, porque aprendi uma dura lição, o ódio acaba idiotizando, nos faz perder objetividade”.

Quantas diferenças entre o senador uruguaio José Mojica, e o nosso Chico Rodrigues, em cujas entranhas escondeu dinheiro desviado de propina do combate à Covid-19. Pepe Mojica deixa um legado de sobriedade e sabedoria para um mundo cada vez mais consumista, corrupto, irracional, desumano, dividido e idiotizado.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro agrônomo, palestrante e viajante, já visitou 143 países em todos os continentes

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