Artigo

Bolívia querida

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

Quando o primeiro hidroavião, que cruzava as Américas, amerissou (pousou no mar) na nossa querida São Luís do Maranhão, em dezembro de 1922, causou tamanho alvoroço que tanto o seu nome, Sampaio Corrêa II, como as cores das camisas dos pilotos - um brasileiro, vestia camisa verde e amarelo. O outro, americano, trazia consigo uma camisa “encarnada” - influenciaram a criação, no ano seguinte, de um dos maiores clubes de futebol do nosso estado: Sampaio Corrêa. As cores das camisas dos pilotos passaram a ser as cores do time. Os torcedores do Sampaio poderiam se chamar sampainos ou sampaianos, por exemplo, mas não. Devido à similaridade com as cores da bandeira do nosso vizinho país andino, os torcedores foram denominados de Bolivianos, e é assim até hoje.

É muito comum por aqui sermos, de súbito, espantados por cumprimentos entre os torcedores em locais públicos com aquele grito: “fala boliviano”. Nos meus exercícios de dedução cheguei a imaginar que pelo menos o nome Sampaio Corrêa fosse de algum Boliviano nato que passou pelo Brasil, mas a história registra que esse nome que batizou o hidroavião era de um senador carioca que o havia doado para a missão do voo inédito e se chamava José Mattoso de Sampaio Corrêa.

O outro time de destaque daqui é o Moto Clube, do qual sou torcedor de coração. Dividi esse sentimento com meu amado pai, Seu Nunes. Muitos de nós, motenses, costumamos dar apoio, em torcida, ao Sampaio nas suas batalhas nacionais quando o Moto não está na disputa. Sempre que o nosso estado se destaca nas disputas nacionais, nos ombreamos aos bolivianos.

O Maranhão que é um pouco Jamaica, um pouco França, um Pouco Portugal, também é um pouco Bolívia, país que acabou de realizar uma surpreendente eleição. O grupo político do qual faz parte o ex-presidente Evo Morales, venceu de maneira avassaladora a eleição para a presidência da República com o candidato Luís Arce, que foi ministro no governo de Morales e concorreu pelo partido MAS, Movimento ao Socialismo.

Evo Morales venceu a eleição anterior e foi reeleito, mas depois foi “enxotado” do seu país por militares que organizaram um golpe de estado e o exilaram alegando fraude naquela eleição, sem haver nenhum indício de que isso tenha ocorrido. Entregaram o poder para uma senadora da oposição que comandou o país no processo eleitoral de agora, mas que precisou desistir de concorrer à eleição atual por conta das pesquisas que a colocavam em quarto lugar. Resolveu apoiar outro candidato, visando derrotar Luís Arce.

Arce obteve mais votos ainda do que Evo havia obtido na eleição anterior. Venceu no primeiro turno com 55,1% contra 28,8% do seu principal concorrente. A participação da população foi a maior de toda a história: 87%, apesar da pandemia. O povo boliviano mostrou que os protestos de rua, quando fecharam várias rodovias do país durante o golpe de estado, tinham de fato grande enraizamento popular. Mas ninguém esperava uma vitória tão retumbante, logo no primeiro turno.

Elon Musk, o bilionário do ramo de carros elétricos, de olho nas reservas de lítio da Bolívia, em manifestação feita em julho apoiando os EUA, que era acusado de orquestrar o golpe, disse: “Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso”. Agora teve de engolir a derrota e se tornou chacota na internet com a hastag “chora elon musk”.

A eleição boliviana me trouxe a lembrança do nosso time maranhense e de seus torcedores. Mais especificamente do início do seu hino que de alguma forma se parece com uma homenagem à Bolívia e seu povo, quando diz: “Sampaio Corrêa, a Bolívia querida...”

Steffano Silva Nunes

Médico veterinário e estudante de Economia

E-mail: steffanonunes@gmail.com

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.