Artigo

Por que me odeiam?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

Um humilde apelo

“Por que eles me odeiam? Serei triste, serei feia? Serei incômoda? Serei bandida, cruel, assassina? Sou uma pedra no caminho de quem?

Vá lá que minha aparência não seja a ideal, afinal de contas, tenho anos de labuta, também canso. Fissuras aparecem em meu corpo, minhas cores esmaecem, perder o brilho é inevitável. Mas, como todos sabem, recuperar a beleza e as cores, hoje é muito simples. Para isso existem tintas, pequenas cirurgias, botox, enchimentos de pele e de casco, antiferrugens. Por que eu seria diferente?

Juro que não entendo. Sempre busquei ser otimista e alegre, malgrado as dificuldades. Jamais neguei informação a quem quer que seja, uma dica aqui outra ali sobre o trânsito, nome de ruas, até guarda-sol cedo, quando chove ou faz muito sol. Idéias para um bate papo, sempre tive aos montes, sempre repassei conhecimento à vontade sobre política, sociedade, cinema e literatura. Livros sim. Sempre fiz de minha vida um sacerdócio à leitura, com disponho de bons livros os coloco à disposição! Além disso, forneço recursos para aprendizado de estudantes e crianças.

Os leitores mais sagazes a essas alturas já sacaram que aparento algo que lembre uma biblioteca. Certamente, uma espécie de bibliotecária, vá lá, uma moça que, ao invés de rodar bolsinha, como dizem que fazem as prostitutas, roda livros, revistas e jornais. E nem preciso indagar ao povo que passa: quem quer comprar? Todos se aproximam como de uma vendedora de flores a quem não se pode ver tão florida sem que se pergunte se as flores estão à venda. Estão sim, e juro que não são caras. Sim, porque conhecimento e informação nunca foram caros

Por que então começaram a me rejeitar e a execrar de certo tempo para cá? Quem explica?

Não faz tanto tempo assim que eu admirada pelos que mandam na cidade, pelas autoridades, pelos juízes, pelos políticos. Podia ficar no meu canto, exibindo o melhor de mim, como já disse. Mas de repente, de uns 7 anos para cá tudo mudou. Vi-me escorraçada dos parques, das avenidas, das praças e das ruas. Como se eu estivesse contaminando o mundo com um vírus...Isso mesmo, um vírus certamente pior que o Covid-19.

Ora, como entender essa aleivosia se eu só irradio benfeitorias, se meu corpo é poesia, se meu esqueleto é cultural. Será que esses homens têm o receio de serem contaminados por mim? Sentir-se-ão doentes diante de um livro, de um jornal, de uma revista?

Imagino que a essas alturas, muita gente já saiba o meu nome. Antes que comecem as especulações digo logo que me chamo Banca. Isso mesmo, Banca. Não, não é Bianca, nome muito bonito, mas esse outro, mais popular: banca, sem o a. Meu sobrenome é De Revistas, mas podem me chamar também De jornais, o importante para mim é servir. Como vêem tenho um nome nobre, histórico, de uma família que prestou tantos serviços à sociedade.

Agora que já sabem quem sou talvez façam idéia do que consiste meu desespero em lançar este apelo. Creiam, nada é mais doloroso que a sensação de ser rejeitada sem culpa e sem dano causado!

Então que as autoridades desta cidade me expliquem. Por que tanto ódio gratuito, beirando a implicância, contra minha pessoa?”

José Ewerton Neto

Autor de O entrevistador de lendas

E-mail: ewerton.neto@hotmail.com

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