Editorial

A violência voltou a crescer

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

Os números impressionam: o país registrou 25.712 casos de violência nos primeiros seis meses deste ano, um aumento de 7,1% em relação ao mesmo período de 2019, segundo as informações das secretarias de segurança pública dos estados divulgadas na segunda-feira, 19, pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Em outras palavras: a violência voltou a crescer no Brasil, após dois anos de queda, mesmo em tempos de pandemia de coronavírus, que, por um tempo, reduziu a circulação de pessoas, mas não foi suficiente para reduzir a agressividade.

Os números frustram as expectativas não apenas por conta de haver menos gente circulando as ruas, mas porque o índice vinha baixando nos últimos anos: em 2019, as mortes violentas intencionais tiveram uma redução de 17,7% em relação a 2018: caindo de 57.574 casos para 47.773.

Para Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esse aumento é a maior tradução de que o Brasil perdeu uma enorme oportunidade de continuar com o movimento de queda nos homicídios. E avalia: “Não fizemos a lição de casa, de estudar o que teria motivado a queda e colocar ações em prática”.

No entendimento do especialista, o Sistema Único de Segurança Pública, o projeto unificado de compartilhamento de dados da segurança, poderia ter ajudado a evitar a escalada nos números da violência. Aprovado em junho de 2018, ele ainda não entrou em vigor efetivamente por questões “políticas e ideológicas.

Os autos de resistência aumentaram 6% no mesmo período: saíram de 3.002 registros (2019) para 3.181 (2020). A letalidade policial é um dos maiores problemas do Brasil, segundo Renato Sérgio. Muitos acham essa informação positiva, mas revela a completa falência da ação pública frente ao crime. Os dados da violência crescem, e o padrão de enfrentamento é sempre o mesmo, colocando o policial na ponta, tendo que decidir entre a vida e a morte diante do confronto. É um padrão que estimula a busca pelo inimigo.

Os números revelam ainda que uma pessoa foi assassinada a cada 10 minutos entre janeiro e junho deste ano. No mesmo período, 110 policiais também morreram em serviço, o que também aponta elevação 19,6% nos registros de homicídios contra profissionais da segurança. Além disso, 3.101 pessoas morreram durante intervenções policiais.

Ao contrário dos crimes contra a vida, os atos criminais contra patrimônio apresentaram redução neste ano. Roubos a transeuntes caíram 34%, contra veículos, 22,5% e de carga 25,8%. Ao mesmo tempo, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou aumento de 25% nas apreensões de cocaína e 128,3% na de maconha.

O aumento das mortes ocorrem em meio a políticas de afrouxamento do acesso a armas de fogo pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. Diversas alterações na legislação facilitam o acesso ao armamento, como a exclusão da necessidade de se apresentar justificativa para obter armas em regiões mais violentas e a permissão de até quatro armas por cidadão.

Considerando-se também que o número de registros de armas de fogo em poder de colecionadores, atiradores e caçadores no Brasil mais do que dobrou em 2020. Na comparação com o ano anterior, houve um aumento de 120%. Trata-se do modelo de registro usado por atiradores esportivos, como os pais da jovem que diz ter atirado acidentalmente na adolescente Isabele Ramos, morta com um tiro no rosto em um condomínio de luxo em Cuiabá no dia 12 de julho.

O total de armas registradas no sistema da Polícia Federal, onde são incluídas aquelas compradas por cidadãos comuns, sem registro de colecionador ou prática esportiva, também cresceu: de 2017 para 2019 houve um crescimento de 65,6% nos registros ativos.

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