Vida ciência

Estamos sós? - Parte II

Nesta edição, a página Vida Ciência, pela segunda vez, fará uma reflexão sobre um assunto muito instigante, que sempre foi motivo de especulações e povoa até hoje o imaginário de muitas culturas ao longo da história das civilizações: a vida extraterrestre

- Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

SÃO LUÍS- Dentro desse imaginário uma pergunta persiste em nós e sempre permanece enquanto dúvida latente: existe vida fora da Terra? A princípio, poderíamos afirmar que sim e por várias razões, especialmente considerando o número de estrelas que há no universo.

Estima-se que, somente na nossa galáxia, a Via Láctea, existam cerca de 200 bilhões a 400 bilhões de estrelas, e, se estabelecermos como referência o Sistema Solar, só na Via Láctea, teremos cerca de um trilhão de planetas, luas e outros corpos rochosos. Outro parâmetro que amplia essa possibilidade é o fato de que o sistema solar tem em média 5 bilhões de anos, e o universo, próximo de 14 bilhões. Esses fatos nos levam a pensar em uma probabilidade bem realista, em especial quando se fala na possibilidade de Vida em condições extremas.

Um exemplo que torna esta probabilidade factível é a bactéria Deinococcus radiodurans, que se destaca por resistir a doses altíssimas de radiação, ao vácuo, à dessecação e à temperatura, o que a torna ideal para testar a viabilidade de seres vivos fazerem uma viagem interplanetária sem a proteção de uma aeronave.

Estudos internacionais, feitos inclusive pela NASA, vêm testando a expectativa de vida no espaço com bactérias que se protegem formando uma carapaça, como se fossem múmias (cistos). Também podemos afirmar que basta a proteção de um grão de poeira para que a bactéria sobreviva em condições espaciais, bem como que bactérias super-resistentes sobreviveriam a viagens pelo espaço, agarradas a minúsculos fragmentos de poeira. Na ficção, o livro Pictures don’t lie, de 1951, de Katherine MacLean, retrata que uma nave alienígena entra em contato com a Terra e pede permissão para pousar. Mas, quando os visitantes chegam, os anfitriões e os extraterrestres não conseguem se ver. Na verdade, os seres visitantes eram microscópicos, e eles estavam buscando em uma escala errada na mesma dimensão.

Figura 1 - Estereótipo do que seria uma Alienígena (Science Photo Library)
Figura 1 - Estereótipo do que seria uma Alienígena (Science Photo Library)


A função planeta Terra é uma função complexa que depende de parâmetros físicos e químicos. É uma função da distância, da velocidade orbital (rotação), da velocidade tangencial (translação), de sua massa, da pressão, da temperatura, entre outras, e de sua atmosfera. Por definição, a Terra é um sistema formado por milhões de organismo vivos, que possui um detalhado processo para a manutenção da vida. A existência da vida é uma das características que a diferencia de outros planetas do sistema solar, sendo o terceiro mais próximo do Sol, dos oito planetas que o compõem.

Figura 2 - Sistema Solar
Figura 2 - Sistema Solar

Com a tecnologia de hoje, buscamos vida em qual lugar? Inicialmente, precisamos procurar em zonas habitáveis com a presença de atmosfera, água e estabilidade para gerar vida, em especial para surgimento de vida complexa. Depois, planetas com função equivalente ao do planeta Terra.

As primeiras descobertas de vida fora da Terra provavelmente estão mais perto do que imaginamos, mas não serão homenzinhos verdes em naves espaciais, e, sim, alguma espécie de plâncton ou de alga.
Existe muita água no Sistema Solar, e é quase certo que existam oceanos de água salgada sob as conchas geladas das luas de Júpiter, Europa e Ganímedes, assim como na lua de Saturno, Enceladus. A água é mantida líquida pela gravidade intensa dos planetas gigantes.

Enceladus, a sexta maior lua de Saturno, com um oceano profundo de seis milhas, tem fontes hidrotérmicas na base, semelhantes às que abrigam vida na Terra.

Em Ganímedes, a maior lua de Júpiter (e do Sistema Solar), acredita-se que exista um grande oceano de água salgada. E Europa, sexta lua mais próxima de Júpiter, e a menor das cinco principais luas, têm nuvens de gelo no polo sul. Outros alvos promissores e fora do sistema solar estão de 30 a 50 anos-luz de distância da terra. Em fevereiro de 2016, um novo sistema com 7 planetas chamou a atenção da comunidade científica desde que foi descoberto, em fevereiro do ano passado, por todos terem dimensões parecidas com as da Terra. Os pesquisadores do Instituto de Ciência Planetária (PSI - Tucson, Arizona) montaram modelos matemáticos que indicam a possibilidade de seis deles possuírem água, líquida ou congelada, com um oceano global possível em um dos exoplanetas (planetas fora do sistema solar). O trabalho foi publicado na revista “Astronomy & Astrophysics. Esse sistema fica a 39 anos-luz distante da Terra e recebeu o nome de TRAPPIST-1.

Figura 3 - Júpiter e as luas Galileanas (Europa, Ganímedes, Io e Calisto)
Figura 3 - Júpiter e as luas Galileanas (Europa, Ganímedes, Io e Calisto)
Figura 4 - Sistema Solar Trappist. Abaixo a tamanho relativo da Terra em relação aos exoplanetas. 39 anos-luz distante da Terra.
Figura 4 - Sistema Solar Trappist. Abaixo a tamanho relativo da Terra em relação aos exoplanetas. 39 anos-luz distante da Terra.

Segundo Sergio Brenha (Vida Ciência, janeiro de 2018), a Astrobiologia ou Biologia Astronômica estuda a distribuição do fenômeno chamado Vida, desde a sua origem até a sua dispersão atual, com ênfase na Terra e em planetas vizinhos, mas destacando a importância dos cometas e asteroides na dispersão por lito-panspermia de vida microscópica em todo o sistema solar. Essa meta-disciplina utiliza toda a ciência útil produzida e descoberta em qualquer lugar deste planeta, essencialmente sob o ponto de vista prático e desenvolvendo pesquisas complexas de forma colaborativa, e se propõe a finalmente responder às questões: De onde viemos? Para onde vamos? Estamos sozinhos? Três questões fundamentais que a humanidade vem se fazendo há milênios.

Figura 5 - Astrobiologia
Figura 5 - Astrobiologia

Liderada por astrônomos da Universidade de Cardiff, no País de Gales, em parceria com outros cientistas no Reino Unido, nos EUA e no Japão, recentemente, uma pesquisa identificou a presença de moléculas de fosfina em Vênus por meio de ondas de rádio pelo telescópio James Clerk Maxwell, no Havaí. Foram confirmadas por um conjunto de 45 das 66 antenas que formam uma espécie de telescópio gigante no importante observatório Alma, que fica no deserto do Atacama, no Chile. Devido à acidez do planeta, não era esperado encontrar fosfina, pois imaginava-se que a acidez levaria à degradação da molécula. A evidência de fosfina foi divulgada como um indicador de um novo processo inorgânico ou um indicador de atividade biológica microbiana.

Figura 6 - A fosfina foi detectada na superfície de Vênus. (JAXA/ISAS/AKATSUKI PROJECT TEAM)
Figura 6 - A fosfina foi detectada na superfície de Vênus. (JAXA/ISAS/AKATSUKI PROJECT TEAM)


Segundo o estudo, o gás fosfina foi observado nas latitudes médias do planeta, a aproximadamente 50 km a 60 km de altitude. A concentração é pequena, eles formam apenas de 10 a 20 partes em cada bilhão de moléculas atmosféricas. Mas, nesse contexto, isso é bem significativo.

O gás é a fosfina ou hidreto de fosforo (PH3), uma molécula composta de um átomo de fósforo e três átomos de hidrogênio. Na Terra, a fosfina está associada à vida — é produzida por micro-organismos que vivem nas entranhas de animais (como pinguins) ou em ambientes pobres em oxigênio, como pântanos. É um gás tóxico e tem um cheiro forte.

Figura 7 – Molécula do Gás Fosfina. Átomo de Fósforo, dourado, Hidrogênios, brancos.
Figura 7 – Molécula do Gás Fosfina. Átomo de Fósforo, dourado, Hidrogênios, brancos.

Em 2009, um estudo publicado no periódico Icarus (www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0019103509001328) descreveu a existência de fosfina nas nuvens de Júpiter e de Saturno. No entanto, para a produção da fosfina, é necessária uma grande quantidade de energia.

O estudo conclui que a produção dessa molécula é devida aos vórtices polares ciclônicos quentes, o que inclui as grandes manchas existentes no planeta Júpiter, em especial, a mancha vermelha. Essa mancha é uma tempestade de grandes dimensões e com caráter mais ou menos permanente em que cabe mais de uma Terra em seu interior.

Figura 8 - Planeta Júpiter e a grande mancha vermelha.
Figura 8 - Planeta Júpiter e a grande mancha vermelha.

O porquê da nossa existência remete-nos a filósofos e teólogos: se vamos sobreviver no futuro e certamente não somos o único planeta habitado em todo o Cosmo. A nossa história já existe no passado e não pode ser apagada, é só uma questão de tempo para sermos conscientes de tudo. Para explorar os outros mundos do nosso sistema solar, estamos usando substitutos robóticos, e a exploração está bastante avançada em Marte. Ptolomeu de Alexandria foi o primeiro astrônomo a estimar o tamanho do Universo, com 130 milhões de quilômetros de raio, pouco menor que a órbita terrestre.

O filósofo italiano Giordano Bruno propôs, em 1584, que as estrelas eram outros sóis distantes com seus planetas habitados por seres vivos como os terrestres, e é considerado o primeiro astrobiólogo. Deixando de lado aspirações com os avistamentos dos OVNIs e realizando experimentos científicos sérios, a Astrobiologia surge como uma ciência de vanguarda, acompanhada de descobertas científicas confiáveis, mostrando quanto já sabemos sobre o assunto.

Para a referência desde artigo consulte o Vida Ciência, janeiro de 2018.

Para concluir terminamos este artigo com a frase do grande Cientista e Divulgador de Ciência Carl Sagan, criador da série para TV Cosmos “O que é mais assustador? A ideia de extraterrestres em mundos estranhos, ou a ideia de que, em todo este imenso universo, nós estamos sozinhos? ”l

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