Artigo

Os limites da ciência e a filosofia

José Pio Martins/Economista, reitor da Universidade Positivo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

A palavra “filosofia” vem da junção de duas palavras gregas: philo (amizade, amor) e sofhia (saber, sabedoria). Logo, filosofia é o amor ao saber. O surgimento da filosofia data, pelo menos, de 700 anos antes de Cristo, quando uns tantos homens na Grécia demonstraram insatisfação com as explicações dadas sobre a natureza, os acontecimentos da realidade, a vida, a morte, o homem e sua capacidade de conhecer.

Desde fatos normais do cotidiano, como o dia e a noite, o calor e o frio, a claridade e a escuridão, o sol e a chuva, até ocorrências mais espantosas como a existência do homem e dos animais, a vida e sua origem, a morte, provocaram admiração e espanto, e alguns gregos começaram a fazer perguntas e buscar respostas. Com a filosofia, surgiu a crença de que o mundo, os seres humanos, os eventos naturais e os acontecimentos sociais podem ser conhecidos pela razão, e que a própria razão e a capacidade de conhecer podem ser conhecidas pela razão.

Os gregos então se deram conta de que, com a força da razão, seria possível conhecer a natureza e seus eventos, e o homem e suas ações. Ou seja, era o fim - pelo menos parcial - dos mistérios e dos segredos, pois, por meio de operações mentais do raciocínio, a verdade poderia ser conhecida. E aí começa a ciência das perguntas - a filosofia - e o esforço para o conhecimento da verdade por meio do raciocínio desenvolvido pelo domínio da linguagem, dos números, dos símbolos e das operações do intelecto.

Não é por outra razão (no sentido de “motivo”) que Kant (1724-1804) disse que “o homem é o único animal que precisa ser educado”, e Ortega y Gasset (1833-1955) afirmou que “a vida nos é dada, mas não nos é dada pronta”. Mas, no século 19, o desenvolvimento espantoso da ciência e da técnica, sobretudo após a invenção da eletricidade, levou os próprios filósofos a suporem que, no futuro, haveria somente as ciências e que estas dariam todas as explicações e revelariam todos os conhecimentos. E a filosofia então poderia desaparecer, pois, como ciência das perguntas, ela perderia a razão de ser.

Uma palavra sobre a “invenção” da eletricidade se faz necessária. Embora haja documentos históricos mostrando que há 2.750 anos antes de Cristo já se conheciam alguns efeitos da eletricidade - caso do peixe-elétrico, que desferia choques ao ser tocado -, a eletricidade se manteve incipiente até por volta de 1600. Somente em 1875 é instalado um gerador na Gare du Nord, Paris, para ligar as lâmpadas de arco da estação, e a primeira hidrelétrica foi construída somente em 1886, nas cataratas do Niágara, na divisa entre Canadá e Estados Unidos.

Porém, não demorou muito e já no início do século 20 perceberam-se defeitos sérios no método científico, e os filósofos começaram a demonstrar que as ciências não detêm princípios e métodos totalmente certos, seguros, rigorosos e infalíveis em sua tarefa de investigação. Disso decorrem resultados precários, falhos, incertos e, muitas vezes, errados. Houve momentos em que a comunidade científica foi acusada de fraudes e falta de fundamento.

O filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), um gênio reconhecido, passou a propor que a filosofia se ocupasse em fazer estudos rigorosos sobre a própria possibilidade de conhecimento científico e estudar os fundamentos, os métodos e os resultados da ciência. Kant, em sua Crítica da Razão Pura, já havia tratado das circunstâncias e das condições nas quais o homem adquire o conhecimento, como também Hegel (1770-1831), um filósofo complexo, questionava sobre a real capacidade de o homem, como sujeito do conhecimento, ser capaz de apreender e conhecer a realidade exterior.

Foram os limites da ciência que promoveram o renascer da filosofia em seus fundamentos mais sofisticados, como os estudos de lógica dialética e lógica matemática. Nos tempos atuais, a palavra filosofia passou a ser usada em diversos contextos, alguns superficiais e levianos. Mas a filosofia que renasceu é aquela das operações complexas do intelecto e da razão, da que estuda os limites do sujeito do conhecimento em sua capacidade de apreender a realidade exterior, além dos instrumentos e dos métodos da ciência.

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