Lá pelos anos de 1955, quando o autor destas linhas era um jovem repórter de 17 anos e fazia a cobertura dos trabalhos legislativos da Câmara Municipal de São Luís para o Jornal do Dia (sucedido por este O Estado do Maranhão), conheci e passei a admirar um vereador de 22 anos, que proferia discursos eloquentes. Era o Sálvio Dino. Sempre que havia oportunidade, eu o entrevistava, destacando a sua brilhante atuação parlamentar. Com o tempo, ficamos mais próximos e só assim tive a coragem de solicitar, por seu intermédio, a ajuda da Câmara para a publicação de um livro de lindos versos, da autoria do poeta barra-cordense Luís Pires, portador de hanseníase, homiziado do Hospital-Colônia do Bomfim.
Imediatamente, o jovem edil abraçou o preito e, como o Legislativo municipal não dispunha de recursos para promoção cultural, ele mesmo, do próprio bolso, financiou a compra do papel viabilizando a publicação da obra do bardo doente, livro intitulado Farrapo, ainda existente nos arquivos da Biblioteca Benedito Leite.
Daí em diante, consolidou-se a amizade do parlamentar com este humilde repórter, que acompanhou o seu brilhante trabalho na Assembleia Legislativa, onde pontificara ao lado de outros grandes oradores como os deputados Evandro Sarney e José Bento Neves. Fui testemunha de sua ascensão literária como jornalista e escritor. Li todos os seus livros, inclusive a sua cuidadosa pesquisa sobre a nossa Faculdade de Direito da rua do Sol e a obra biográfica sobre o historiador Parsondas de Carvalho; rejubilei-me com seu merecido ingresso na Academia Maranhense de Letras, apreciava as suas crônicas em “Hoje é dia de...”, publicada neste jornal, em saudável parceria com outros grandes cronistas - José Chagas, Ubiratan Teixeira, Jomar Morais e Ivan Sarney. Tive a honra de merecer sua presença, vindo de João Lisboa, no lançamento, em Imperatriz, do meu livro Ao Sabor da Memória e estivemos sob sua liderança, junto com Macatrão, Vavá Melo e outros, nas reuniões preparatórias para a fundação da Federação das Academias de Letras do Maranhão, criada graças à sua dinâmica inspiração.
Como deputado, teve seu mandato parlamentar interrompido, cassado que fora pela Revolução de 1964, mesmo sendo reconhecido como um patriota de nobres ideais, defensor entusiasta da democracia e da liberdade.
Nos últimos anos de sua fértil existência, Sálvio Dino passou a residir no município de João Lisboa, no Sul do Maranhão, e ali se tornou, seguindo a sua irreversível vocação, um destacado líder político e por duas vezes elegeu-se prefeito criterioso e dinâmico daquela urbe.
Ainda naquela região tocantina, foi colaborador assíduo do principal jornal de Imperatriz e, sempre empreendedor, foi cofundador da Academia Imperatrizense de Letras e ajudou a consolidá-la como intelectual atuante e benquisto pelos seus pares.
Nascido na cidade de Grajaú, Sálvio Dino era filho do eminente desembargador Nicolau Dino de Castro e Costa, também escritor e pesquisador emérito, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, autor, entre outros trabalhos notáveis, do livro biográfico Visconde Vieira da Silva, que retrata a vida e a obra desse maranhense benemérito, senador do Império. Os filhos do desembargador seguiram-no, honrando a nobre descendência.
Em suma, pelo seu caráter e honradez, pela sua participação ativa na gestão pública e cultural do Maranhão, principalmente no campo das letras, o dr. Sálvio Dino, parlamentar, advogado, jornalista e escritor merece, hoje e sempre, todas as homenagens.
Falecido no dia 24 de agosto do corrente ano, aos 88 anos, Sálvio Dino deixa uma lacuna irreparável em nosso sentimento, no seio de sua família, nas academias e outras instituições a que pertencia, na comunidade cultural e em todos aqueles que reconhecem suas excelsas qualidades.
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