Homenagem

São Luís e outras vacinas

José Ewerton Neto *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Pôr do sol de São Luís
Pôr do sol de São Luís (por do sol)

E a Pandemia chegou. Sem vacina o recurso de defesa foi um só, o mesmo de sempre: todo mundo correr para suas casas e rezar. Como se não bastasse, a seguir, veio o lock-down com o cancelamento das atividades não essenciais.

Em São Luís, coincidentemente ou não, a pandemia se iniciou em plena estação invernosa, ou das chuvas, que, por aqui, se confundem. É nessa estação que mais proliferam gripes, resfriados e doenças típicas do pulmão.

Mas, como se fosse de repente, por volta de meados de julho eis que ressurge o sol: o sol, o sol, o sol, o bendito sol mais intenso, e o calor. E, assim (mesmo que a OMS não diga, e que não o digam quem deveria dizer) coincidentemente ou não, o ataque do vírus e as contaminações começaram a arrefecer.
Milagre? Medidas sanitárias? Certamente, mas o sol, o sol, o sol!

São Luís é uma cidade privilegiada por seu clima estável e sem grandes variações a maior parte do ano. Seus cidadãos reclamam vez por outra do calor intenso, principalmente aqueles que sofrem de viralatice (complexo de vira-lata) de que falava Nelson Rodrigues e que significa submissão e adoração a tudo o que vem de fora, em detrimento ao que existe em sua própria cidade. Esses ‘viralatólogos’ adoram posar nas redes sociais em suas viagens a exterior, exibindo-se encolhidos em seus capotes de frio, trêmulos até a alma, e comportando-se – para consumo externo -como se estivessem no paraíso, batendo palmas para montanhas de gelo ou escórias de neve.

Quando em minha infância morava em Guimarães, uma senhora canadense, freira de uma missão que realizava trabalhos filantrópicos de educação e catequese religiosa, uma vez surpreendeu a todos colocando às 10 horas da manhã uma cadeira no centro da praça Luís Domingues e sobre ela sentando-se, lá permanecendo, isolada. Intrigados, alguns cidadãos nativos, seus amigos, a ela se dirigiram, querendo saber do que se tratava. Ela, extasiada sorriu, mas com uma ponta de tristeza no olhar respondeu: “Gente, me deixem ficar aqui mais um pouco. Estou apenas curtindo pela última vez um sol tão forte como este, porque viajo amanhã e, tão cedo, não verei sol bonito assim!”
Enquanto isso, os maranhenses contaminados de Viralatice ( Vírus-latice, também pode ser) fazem de conta que não se apercebem da fortuna que sua cidade possui, como outras vacinas, tão benfazejas quanto o sol e o clima, capazes de curar doenças transmitidas por outros vírus.

1.Vacina contra depressão.
Que Prozac, que nada! São Luís é dotada de vacinas naturais anti- depressivas. Praias, céu azul, rios e muito mar, pores-do-sol fantásticos etc. Que depressão sobrevive à contemplação, seja da beira-mar ou da Praia Grande do marzão ao longe, indomável, mas calmo, coroado de azul e brisa?

2.Vacina contra raiva.
Como todos sabem a pior raiva não é a transmitida pelos cães, mas pelos humanos. E o ludovicense, ainda que não queira, volta e meia é assolado pela raiva transmitida por alguns de seus administradores ineptos.

E haja engarrafamentos quilométricos, blitz extorsivas em horário e locais inconvenientes, ruas esburacadas, calçadas intransitáveis, ausência de sinalização etc. etc.

Mas São Luís contrapõe a essas doenças o dom de ser farta em uma vacina que protege os habitantes que residem acima de sua superfície contra esse tipo de raiva: a poesia.

A poesia que só não inspira quem não quer, quem é ruim da cabeça ou doente do pé, como disse o baiano. E que inaugurou desde a Atenas Brasileira o mito do poeta ambulante, a estátua de Gonçalves Dias que se move, consumando a maior concentração de poeta por metro quadrado que há no mundo, tanto assim que, ao fim, não constitui exagero dizer que se uma ilha é uma porção de terra cercada de água por todo os lados o poeta nascente da ilha, geograficamente falando, é aquela porção de carne e osso, cercada de poesia por todo os lados.

3.Vacina contra a debilidade e o mal-estar.
Que debilidade, anemia ou fraqueza resiste a um bom prato de Jussara com camarão seco? Ou a sucos e vitaminas de Sapoti, Bacuri, Jacama, Murici ou Bacuri? Com franqueza, basta o primeiro gole dessa vacina para esquecer toda fraqueza que há no mundo (se me perdoam o trocadilho).

4.Vacina contra febre.
Sim, até contra febre São Luís tem vacina natural. Contra a febre da violência, da ignorância, da grosseria e da falta de educação. A cidade não fala, mas produz naturalmente essas vacinas, que são as belas mulheres que nascem na Ilha.

A quem, no dia de seus aniversários ( 8 de setembro também já que são cidades-ilhas), estendo esta homenagem!

*José Ewerton Neto é membro da AML é autor do livro O ABC bem-humorado de São Luís.

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