Atemporais

Obras literárias atemporais

Conheça três obras escritas por ludovicenses que marcaram a literatura brasileira ao longo dos anos

Bárbara Lauria / Equipe O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Aluisio Azevedo escreveu " O Mulato"
Aluisio Azevedo escreveu " O Mulato" (aluisio azevedo)

São Luís – o encanto da ilha do amor não é fruto apenas de suas inúmeras lendas, pôr do sol e arquitetura colonial que carrega dentro de si a memórias de mais de quatro séculos, mas também do berço que deu à luz a ilustres escritores maranhenses, que não só usaram as famosas ruas como cenário para suas histórias, como também fizeram grandes mudanças no mundo da literatura. E, para comemorar o aniversário da Grande ilha, indicaremos três livros de autores ludovicenses que marcaram a literatura nacional.

Cantos à Beira-Mar

Campeia indolente no leito gentil,
Cercada das vagas amenas, danosas;
Das vagas macias, quebradas, cheirosas
Do salso Bacanga, do fértil Ani
Maria Firmina dos Reis - Minha Terra

Ao falar de Maria Firmina dos Reis, muitos de imediato pensam na obra “Úrsula”, porém, essa não é a única grande obra que a escritora maranhense realizou ao longo de sua vida.

Dedicado à memória da mãe de Maria Firmina dos Reis, Cantos à Beira-mar foi publicado originalmente em 1871, e possui cinquenta e seis poesias dedicadas a memória da terra em que sua mãe nasceu e a própria autora foi criada.

Tendo a cidade litorânea Guimarães como pano de fundo de suas memórias afetivas, o livro aborda temas lugar de beleza, meditação ou melancolia, desesperança com a vida, o sofrimento, o desejo da morte, os amores não correspondidos e outros temas semelhantes, refletindo o cenário do movimento romântico do séc. XIX. Contudo, diferente de um comum livro do romantismo, Maria Firmina usa de sua voz para abordar temas sobre opressão patriarcal e racismo, além de retomar ao nacionalismo e o indianismo, exaltando sempre os povos de sua terra e a cultura local.

Maria Firmina dos Reis (1822 – 1917) foi uma mulher negra e escritora ludovicense. Filha de mãe branca e pai negro, registrada sob o nome de um pai ilegítimo, a escritora ficou conhecida principalmente por seus romances abolicionistas “Úrsula” e “A escrava”. A autora foi ativa na imprensa maranhense e publicou outras obras ao longo de sua carreira envolvendo sua terra natal.

O Mulato

Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem-cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes.Aluísio Azevedo - O Mulato

Marcando o início do naturalismo, o famoso romance de Aluísio de Azevedo é passado nas eternas ruas de São Luís. A obra foi publicada 1881 e atraiu graves críticas daqueles que não concordaram com uma abordagem tão realista sobre os problemas da sociedade ludoviscence do século XIX, garantindo a Aluísio o apelido de “Satanás da cidade”.

O romance aborda temas de preconceitos e racismo ao contar a história de Raimundo, o mulato, filho da escrava Domingas com José Pedro da Silva. Após a morte de seus país Raimundo é mandado para Portugal, onde se forma em direito. Contudo, ao voltar a São Luís, ele se apaixona por sua prima que estava já estava prometida dando origem a um trágico enredo. Além de temas sobre preconceito perante os negros, a obra também aborda anti-clericalismo, crítica social, sensualidade e triunfo do mal.

Nascido em São Luís, MA, em 14 de abril de 1857, Aluísio Azevedo foi caricaturista, jornalista, romancista e diplomata, com bastante participação em jornais da época. O autor faleceu em Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913.

Os tambores de São Luís

Até ali os Tambores da Casa-Grande das Minas tinham seguido seus passos, e ele via ainda os três tamboreiros, no canto esquerdo da varanda, rufando forte os seus instrumentos rituais, com o acompanhamento dos ogãs e das cabaças, enquanto a nochê Andreza Maria deixava cair o xale para os antebraços, recebendo Toi-Zamadone, o dono do lugar.Josué Montello - Tambores de São Luís

Em uma lista de escritores ludovicenses Josué Montello não poderia faltar, e ele que é o autor da famosa obra que foi publicada em 1975. Narrada em apenas uma noite, a obra conta uma história de três séculos de lutas e insurreições abordando mais de 400 personagens, entre bispos, padres, governadores, boêmios, raparigas, estudantes, professores, oradores populares, negros de ganho, artistas, tipos de rua, tentando reconstituir toda a complexa vida de uma cidade, misturando o presente ao passado.

Além da abordagem épica da história da capital maranhense, Josué Montello também tratou sobre a saga do negro, desde a sua origem africana, sua viagem nos navios negreiros, até a chegada em nossa terra, e mostra também o seu martírio sob a escravidão no Brasil. A história se desenvolve a partir do o encontro de um homem negro assassinado dentro de um bar, numa noite de 1915.

Tendo as famosas ruas e bairros históricos de São Luís como pano de fundo, a obra relembra a história maranhense de forma cômica abordando tema que, desde Maria Firmina, são representados e denunciados em obras maranhenses.

Ocupante da cadeira 29 da acadêmia de letras, Josué de Sousa Montello nasceu em São Luís do Maranhão, em 21 de agosto de 1917, local que utilizou como cenário e inspiração para suas obras ao longo de sua vida. O autor faleceu no Rio de Janeiro em 15 de março de 2006.

CITAÇÃO: “Até ali os Tambores da Casa-Grande das Minas tinham seguido seus passos, e ele via ainda os três tamboreiros, no canto esquerdo da varanda, rufando forte os seus instrumentos rituais, com o acompanhamento dos ogãs e das cabaças, enquanto a nochê Andreza Maria deixava cair o xale para os antebraços, recebendo Toi-Zamadone, o dono do lugar.”

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