Homenagem

Waldemiro Viana e Milson Coutinho

Benedito Buzar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
(milson e waldemiro)

A Academia Maranhense de Letras é uma instituição que reúne figuras da intelectualidade, com o objetivo defender as tradições culturais de nossa terra.

Quem se elege para aquele sodalício, seja através de eleição disputada ou consensual, sabe que vai fazer parte de uma confraria sustentada na solidariedade, na fraternidade e no respeito às individualidades.

Desde que ingressei na Casa de Antônio Lobo, a 10 de agosto de 1990, portanto, há trinta anos, jamais assisti algum ato praticado por um confrade afrontoso à instituição ou para macular o relacionamento reinante entre os seus integrantes.

Por conta desse clima saudável e fraterno, os acadêmicos cultuam dois sentimentos nobres, que fazem a grandeza da instituição e dos que a ela pertencem. Um, é o da alegria e ocorre quando um novo confrade é empossado em solenidade festiva para fazer parte da confraria. O outro, é o da tristeza e se verifica no momento em que a vida mostra que deixamos de contar com a presença física e intelectual de um membro que parte para a eternidade.

Na semana passada, a Academia Maranhense de Letras foi invadida de maneira arrebatada pelo sentimento da tristeza ao perder de uma só vez dois de seus mais destacados representantes: Waldemiro Viana e Milson Coutinho, os quais, em vida, honraram a Casa a que pertenciam e a ela deram valiosas contribuições literárias, que enriqueceram a cultura maranhense.

Lembrando Waldemiro

Antes de conhecê-lo mais de perto, sabia ser filho do meu querido e inesquecível amigo, Fernando Viana, ex-deputado estadual, médico e poeta, com o qual mantive uma relação de franca amizade.

Por conta desse relacionamento com o pai, não foi difícil a minha aproximação com Waldemiro, do qual recebi o precioso voto para entrar na Casa de Antônio Lobo, onde construímos uma amizade cordial e respeitosa.

No meu segundo mandato, de presidente da Academia Maranhense de Letras, escolhi Waldemiro para compor a chapa e ocupar o cargo de vice-presidente da diretoria, no biênio 2012 a 2014, gestão em que prestou inestimável colaboração e sempre pronto a ajudar com a sua valiosa participação.

Waldemiro, além das qualidades de romancista, contista e poeta, era uma figura humana alegre, afetuosa e festiva, a ponto de gostar de promover em sua residência, ao lado de sua fiel e idolatrada esposa, Iara, invariavelmente aos sábados, saborosos almoços, nos quais aproveitava para soltar a voz e cantar canções que o tempo se encarregou de perenizá-las.

Recordando Milson

Se a minha amizade com Waldemiro Viana foi forjada nos meios acadêmicos, com Milson Coutinho, o nosso afetuoso relacionamento aflorou nos meados dos anos 1960, quando ele fazia parte do corpo redacional do Jornal Pequeno, e eu integrava a equipe de colunistas do Jornal do Dia, à época, de propriedade do empresário Alberto Aboud.

Lembro que quando comecei a escrever a coluna Roda Viva, o fazia sob o pseudônimo de J. Amparo, tarefa que ele se encarregou de descobrir e de divulgá-la como se tivesse ganho um prêmio jornalístico.

A repercussão do aniversário

Nós nunca esquecemos um episódio quando eu cumpria o mandato de deputado estadual, nos idos de 1963, como integrante da bancada de oposição ao governador Newton Bello, na Assembleia Legislativa.

Para ser mais preciso, ocorreu no dia nove de março, aniversário de Milson, quando apresentei no plenário um requerimento de conteúdo puramente provocativo e para deixar a bancada governista em polvorosa: o envio de congratulações ao jornalista, que não poupava o chefe do Executivo, com artigos inflamados, pelas páginas do Jornal Pequeno.

Para não desagradar ao governador, a bancada que o apoiava, resolve suspender a sessão legislativa e sondar o Palácio dos Leões se podia ou não apoiar o requerimento da minha autoria. Depois de algumas horas de expectativa, veio a resposta: a moção de aplausos pelo aniversário do vibrante jornalista não deveria ser aprovada pela maioria governista.

O deselegante ato praticado pela Assembleia Legislativa, foi o bastante para, no dia seguinte, o Jornal Pequeno não perdoar o governador Newton Bello e os deputados que o apoiavam.

O orador da solenidade

Anos depois, quando me candidatei à Academia Maranhense de Letras, para a vaga do querido e saudoso professor da Faculdade de Direito, Fernando Perdigão, Milson Coutinho imediatamente abraçou a minha postulação e caiu em campo para eu ser eleito e sem concorrente.

Com a ajuda dele e de Jomar Mores, elegi-me no primeiro escrutínio. Nos preparativos da minha posse, não vacilei em convidar o meu colega de jornalismo para saudar-me, na solenidade de 10 de agosto de 1990, oportunidade em que, de sua brilhante inteligência, emergiu um discurso que me deixou emocionado e fez a plateia aplaudi-lo efusivamente.

Devo dizer que no seu pronunciamento, Milson, recordou, com muita verve e alegria, o episódio protagonizado por mim e ocorrido na Assembleia Legislativa, no dia de seu aniversário.

O presidente da AML

No final de 2009, na sucessão de Lino Moreira à presidência da Academia Maranhense de Letras, Milson, já aposentado e livre dos encargos de desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão, elege-se consensualmente presidente da Casa de Antônio Lobo, para o biênio 2010-2011.

Numa prova de indiscutível amizade, ele aponta o meu nome para compor a sua chapa no cargo de vice-presidente.

A inesperada renúncia.

No seu do primeiro ano de mandato, no comando da Academia Maranhense de Letras, começa a percorrer os caminhos sofridos da vida. Problemas de saúde, passaram a lhe atormentar, que o levaram várias vezes a se hospitalizar em São Luís e São Paulo.

Para minha surpresa, no dia 30 de dezembro de 2010, dele recebo uma inesperada comunicação, dando conta de que “a partir de 1º de janeiro de 2011, produz eficácia plena a minha renúncia ao honroso cargo de dirigente máximo de nossa veneranda AML, gesto que peço seja dado ciência aos integrantes da Casa do teor desta carta”.

A partir daquele dia, ele, um confrade assíduo e sempre sintonizado com as coisas e os assuntos da Academia Maranhense de Letras, por causa dos problemas de saúde e de sua debilidade física, deixa de frequentá-la, para tristeza dos amigos.

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