Artigo

Vírus que caem do céu

Mario Eugenio Saturno, Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

Nunca ouvi alguém especular sobre chuva de vírus, jamais conheci alguém que imaginasse ser possível tal coisa. Mas um estudo de cientistas da Universidade da Colúmbia Britânica e que foi publicado na Revista da Sociedade Internacional de Ecologia Microbiana (International Society of Microbial Ecology Journal), foi o primeiro a contar o número de vírus que caem no planeta. A pesquisa, no entanto, não foi projetada para estudar a gripe ou outras doenças, mas para obter uma melhor noção da “virosfera”, a parte da atmosfera que contém os vírus no planeta.

Os cientistas partiram da suposição que há um fluxo de vírus circulando o planeta, acima dos sistemas climáticos do planeta, mas abaixo do nível das viagens aéreas. Muito pouco se sabe e é por isso que o número de vírus depositados surpreendeu a equipe na Espanha.

No alto das montanhas da Sierra Nevada, na Espanha, uma equipe internacional de pesquisadores montou quatro baldes para reunir uma chuva de vírus caindo do céu. Eles calculavam que todos os dias cerca de 800 milhões de vírus caem em cada metro quadrado do planeta.

A maioria dos vírus que circulam o globo é lançada no ar por “spray” marítimo, e um número menor por tempestades de poeira. Sem impedimentos de atrito com a superfície da Terra, é possível percorrer grandes distâncias e, portanto, viajar de um continente para outro.

Geralmente, supõe-se que esses vírus se originem no planeta e sejam varridos para cima, mas alguns pesquisadores teorizam que os vírus realmente podem se originar na atmosfera e um pequeno grupo de pesquisadores acredita que os vírus podem chegar também do espaço sideral, teoria conhecida como “panspermia”.

Embora os vírus sejam os seres que mais abundam no planeta, a equipe de cientistas encontrou oitocentos milhões de vírus por metro quadrado, eles contaram também dezenas de milhões de bactérias naquele mesmo espaço.

Os vírus são considerados os principais agentes infecciosos, mas são muito mais que isso, eles são essenciais para tudo, desde o sistema imunológico ao microbioma intestinal, aos ecossistemas terrestres e marítimos, à regulação climática e à evolução de todas as espécies. Os vírus contêm uma vasta gama de genes desconhecidos e os espalham para outras espécies.

Os vírus se reproduzem ao se ligar a uma bactéria e injetar seus próprios genes. O DNA viral antigo acabou se tornando parte do sistema nervoso dos seres humanos modernos, desempenhando um papel na consciência, na comunicação nervosa e na formação da memória.

Os vírus e suas presas também são grandes atores nos ecossistemas do mundo. Muitas pesquisas agora visam levar em consideração seus processos em nossa compreensão de como o planeta funciona.

Pesquisadores identificaram recentemente um vírus antigo que inseria seu DNA nos genomas de animais de quatro membros que eram ancestrais humanos. Esse trecho de código genético, chamado ARC, faz parte do sistema nervoso dos humanos modernos e desempenha um papel na consciência humana: comunicação nervosa, formação de memória e pensamento de ordem superior. Entre 40% e 80% do genoma humano podem estar ligados a invasões virais antigas.

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