Artigo

Beirute em dia de fúria

Luiz Thadeu Nunes e Silva, Engenheiro agrônomo e viajante, já visitou 143 países em todos os continentes

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

Terça-feira, 04/08, hora do almoço, meio dia e meia, TV ligada, noticiário monotemático da Covid-19 e seus milhares de óbitos diários. De repente, nova tragédia; uma enorme nuvem seguida de muitos estrondos. Vejo com mais atenção, são cenas que lembram bomba atômica. O enorme cogumelo fora provocado por uma explosão no Porto de Beirute.

Setembro de 2015, após algumas tentativas anteriores, finalmente desembarco no aeroporto Rafik Hariri. O nome do aeroporto é em homenagem ao primeiro-ministro morto em atentado a bomba em 2005.

Uma viagem longa, que se iniciou em Guarulhos; 15 horas e meia, até Abu Dhabi, cinco horas de conexão, quatro horas até Beirute.

Cinco dias no Líbano, percorri todo o país. Território pequeno que abrigou a Civilização Fenícia, o Líbano faz ligação entre o Oriente e o Ocidente. O país limita-se com Israel (ao sul), Síria (ao norte e a leste), além de ser banhado pelo Mar Mediterrâneo (a oeste).

Beirute é uma cidade fascinante, surpreendente, cosmopolita, com vida noturna trepidante, cafés que lembram a Paris de outrora. Assistir o entardecer em um café em Beirute foi uma das melhores lembranças que guardei de lá.

Visitei o Vale do Bekaa, vale fértil onde plantam, situado cerca de 35 km a leste de Beirute. O vale está localizado entre o Monte Líbano a oeste e a cordilheira do Antilíbano a leste. Lá está situada a cidade de Zarhle, origem de grande parte dos libaneses que migraram para o Maranhão. Como bem lembrou o presidente Sarney, em sua coluna de domingo, temos muitos amigos e parentes libaneses.

Visitei ainda o campo de refugiados Daihamiya, localizado na fronteira do Líbano com a Síria. Estima-se que vivam no Líbano em torno de 1,2 milhão de sírios, que fugiram da guerra.

Com uma população menor do que a do Maranhão, somente no Brasil residem dez milhões de descendentes.

No começo da noite daquela terça-feira, os habitantes de Beirute foram apresentados a um novo terror. Desta vez, por causa da irresponsabilidade de seus dirigentes que permitiram que 2.750 toneladas de nitrato de amônia, vindas de navio da Geórgia, ficassem seis anos indevidamente armazenadas no Porto de Beirute, entraram em combustão, explodiram uma grande área do principal porto do país, expondo todas as mazelas de um Líbano refém de uma classe política corrupta e insana. O que já era ruim, piorou.

As imagens da médica Israa Seblani, vestida de noiva posando para fotos para o álbum de casamento, ou do padre, que segundo as imagens de TV rezava missa em uma cerimônia transmitida ao vivo por conta da pandemia do coronavírus, ilustram bem que tudo muda em questões de segundos, em mais um dia de fúria na traumatizada Beirute.

A explosão na região portuária deixou um rastro de destruição: mais de 200 mortos, vários desaparecidos, milhares de desabrigados e bilhões de dólares de prejuízo, na combalida economia local.

Mais uma vez o Líbano, Fênix do Oriente-Médio, tem que encontrar forças e juntar esforços para se reerguer. A comunidade internacional já se mobiliza para ajudar a amenizar a dor de um povo guerreiro e sofrido.

Líbano, terra de gente capaz de produzir texto tão lindo como o de Gibran Khalil Gibran (1883-1931): “Viajante e navegador eu sou, todos os dias descubro uma nova região em minha alma”. Beirute, um lugar para voltar.

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