Alerta

Câncer de bexiga: saiba mais sobre a doença

Dados do Instituto Nacional de Câncer preveem para 2020 a ocorrência de 100 casos novos no Maranhão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Câncer de bexiga tem sintomas silenciosos no início, por isso é tão importante as consultas periódicas
Câncer de bexiga tem sintomas silenciosos no início, por isso é tão importante as consultas periódicas (rafael campos)

SÃO LUÍS- O médico urologista Rafael Campos Silva fala sobre o câncer de bexiga, uma doença que pode levar à morte caso não seja tratada. Principais fatores de risco, panorama da doença no Maranhão, índice de mortalidade e outros aspectos são abordados pelo médico que alerta que fumantes são mais suscetíveis à enfermidade.

O que é o câncer de bexiga?

É um câncer que acomete a porção interna da bexiga, caracterizado por um tumor de crescimento progressivo. Ele é dividido em dois tipos a depender do acometimento da musculatura da bexiga: o não músculo-invasivo, mais superficial, menos agressivo e mais comum (75% dos casos); e o músculo-invasivo, mais profundo, mais agressivo e menos comum (25% dos casos).

Quais são os principais fatores de risco para o câncer de bexiga?

O principal fator de risco, responsável por 50% a 70% dos casos, é o tabagismo, tanto o ativo quanto o passivo. Os fumantes têm risco 2 a 6 vezes maior de desenvolver a doença que os não-fumantes. Outro fator de risco importante é a exposição ocupacional a derivados de hidrocarbonetos aromáticos, encontrados principalmente em indústrias de tintas, corantes, mineração, siderúrgicas e têxtil. A hereditariedade também aumenta o risco, mas não diretamente, causando a doença, e sim como uma predisposição à ação dos outros fatores de risco. Tratamento prévio com radioterapia para outro tipo de câncer na região da bexiga pode aumentar a chance de ocorrência. Alguns vermes parasitas, que não ocorrem no Brasil, também podem causar câncer de bexiga.

Qual a idade mais acometida?

A taxa de diagnóstico do câncer de bexiga aumenta com a idade. Sua ocorrência é rara antes dos 39 anos, sendo a taxa de 0,02%. Entretanto, após os 70 anos atinge 3,5%.

Qual a taxa de acometimento do câncer de bexiga na população maranhense?

O INCa estima para o ano de 2020 a ocorrência de 100 casos novos no Maranhão, sendo 30 casos na ilha de São Luís e o restante no interior. Serão 70 homens acometidos e 30 mulheres acometidas, o que corresponde a uma taxa de incidência de 2,0 e 0,87 casos por 100.000 habitantes, respectivamente. Será o 9° câncer mais comum em homens e o 15° mais comum em mulheres no nosso estado.

Comparando-se com os dados das regiões mais acometidas, sudeste e sul, com 10,54 e 3,80, e 9,50 e 3,31, em homens e mulheres, respectivamente, o Maranhão está bem abaixo. Isso se deve, em parte, ao baixo índice de tabagismo na região nordeste, que é de 7,6%, comparado a 14,5% na região sul e 12,7% na região sudeste.

E quanto à mortalidade?

Ainda segundo o INCa, a mortalidade no Maranhão, de 1979 a 2018, é de 0,29 óbitos por 100.00 habitantes, a qual é baixa comparada ao resto do Brasil, que é de 1,34 óbitos por 100.000 habitantes.

Quais são os sintomas do câncer de bexiga?

O principal sintoma é o sangramento indolor ao urinar, o que chamamos de hematúria. Ela é classificada em macroscópica, quando pode ser vista a olho nu, e microscópica, quando detectada somente pelo exame de urina. O risco da primeira é bem maior que da segunda. É importante ressaltar que nem toda hematúria é causada por câncer de bexiga. Outras causas importantes são as infecções urinárias, os cálculos renais, exercícios físicos intensos e causas renais. A suspeita para o câncer aumenta quando ela ocorre em indivíduos acima dos 50 anos, com histórico de tabagismo, exposição ocupacional aos fatores de risco anteriormente citados e história familiar.

Outros sintomas menos frequentes são aumento da frequência urinária, ardência ao urinar e urgência miccional, que podem ocorrer sem hematúria indolor. Novamente ressalto que nem todo sintoma como esses significam ocorrência de câncer de bexiga.

O que deve ser feito no caso de suspeita de câncer bexiga?

O paciente que seja acometido de hematúria indolor deve procurar um urologista. Na consulta será avaliada a história do sintoma do paciente e realizado o exame físico. Os exames complementares a serem realizados são a Tomografia Computadorizada do Abdome e a Cistoscopia, que é o principal exame e consiste na utilização de um aparelho com uma câmera na sua ponta, que servirá para avaliar toda a bexiga por dentro à procura de lesões sugestivas de câncer de bexiga. Caso identificada a lesão, o paciente será submetido inicialmente a um procedimento cirúrgico em um outro momento, também por dentro da bexiga, sob anestesia, para ressecção da lesão suspeita e envio da mesma para um exame de anatomia patológica, o qual definirá o diagnóstico do câncer de bexiga e a profundidade do seu acometimento.

Quais são as etapas seguintes do tratamento?

O exame de anatomia patológica definirá os passos seguintes. Ele relatará as camadas acometidas da bexiga e o grau de diferenciação das células tumorais. Em se tratando de doença não músculo-invasiva, caso seja de alto grau, prossegue-se com uma nova ressecção e, após, com uso de uma medicação por dentro da bexiga, chamada BCG, a mesma da vacina da tuberculose. Ela estimula uma reação inflamatória local que faz com que nosso sistema imune destrua as células cancerígenas. Caso seja de baixo grau podemos fazer, em alguns casos, somente acompanhamento com cistoscopias a cada três meses no primeiro ano.

Por outro lado, se o exame de anatomia patológica mostrar se tratar de doença músculo-invasiva, o procedimento padrão é a cirurgia de retirada completa da bexiga, chamada de Cistectomia Radical, com confecção de uma derivação urinária, que varia desde uma ostomia definitiva no abdome, popularmente conhecida como “Bricker”, a um novo reservatório localizado no mesmo lugar da bexiga, a “Neobexiga Ortotópica”. A opção pela cistectomia radical e pelo tipo de derivação urinária leva em consideração, além das características de anatomia patológica do tumor, a sua localização na bexiga e as características do paciente, como suas comorbidades e sua independência para cuidar de si mesmo.

Se o paciente não for portador de doença renal, cardíaca, neuropatia periférica ou problemas de audição, e seja independente para as atividades da vida diária, deverá ser submetido a um tratamento com quimioterapia antes da cistectomia radical com o médico oncologista.

Uma opção mais recente para os pacientes com lesões pequenas, músculo-invasivas, e que desejam preservação da bexiga é a “Terapia Trimodal”, que consiste na ressecção completa da lesão através da uretra, associada a radioterapia e quimioterapia. Saliento que para esse tratamento ainda não existem estudos mostrando sua superioridade sobre a cistectomia radical, sendo que esta última ainda permanece como o que chamamos de “padrão-ouro”.

Diante dessas estratégias terapêuticas, a escolha pelo melhor tratamento deve ser baseada na educação do paciente sobre sua doença, no seu perfil clínico e na decisão compartilhada com seu médico.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.