Artigo

106 dias

Steffano Silva Nunes, Médico veterinário e estudante de Economia

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

Um homem só conhece o verdadeiro amor no dia em que segura um filho nos braços. Cresci ouvindo essa frase. Imaginava que fosse de algum escritor famoso, mas não achei referências na internet. Como ela sempre era proferida por meu pai, Seu Nunes, vou lhe conferir os créditos da autoria. A frase pode parecer exagerada, mas podemos chegar a um consenso mínimo em afirmar que um amor diferente e único nos é apresentado quando alcançamos a condição de pai. Talvez Seu Nunes tivesse razão mesmo. Talvez o maior e mais verdadeiro amor que um homem possa ter seja o amor pelos filhos.

Já tenho mais da metade da minha vida na condição de pai. Dois filhos e uma filha transformaram a minha vida. As prioridades mudaram e muitos planos também. A impressão que tenho comigo é que muda tudo para melhor. A sociedade nos molda, mas os filhos nos moldam muito mais. A responsabilidade de ensinar vem junto com a de aprender constantemente. E como a melhor forma de ensinar é o exemplo, para um pai isso é muito mais que pedagógico. É natural. Desde cedo os inspiramos. Somos seus ídolos incontestáveis naquele período da primeira infância. Descobri isso logo cedo, quando chegava em casa e era recebido com aquela musiquinha de uma só frase e um só refrão: “Papai, papai... é o mais fortão...”.

Convivi com o meu pai neste mundo por 50 anos, 59 dias e 19 horas. Às vezes parece muito tempo. Outras vezes parece que mais longos foram os últimos 106 dias de sua ausência, que se completaram nesse último Dia dos Pais, que foi o primeiro sem ele. O dia foi de constante lembrança da mistura de papéis de pai e filho. Faz parte da trajetória da vida com as suas importantes fases: nascer, crescer e se reproduzir.

Na condição de filho gostaria que o tempo voltasse um pouco mais para ser um filho melhor, corrigir muita coisa e retribuir mais todo o amor que recebi do meu pai. Na condição de pai, tenho tentado fazer tudo certinho, de acordo com o que Seu Nunes me ensinou. Não é tarefa difícil. Gosto de ser pai. Foi e é a melhor coisa que me aconteceu. Ser pai só não é melhor e mais amável do que ser mãe, imagino. Aí a gente perde feio. Tem até aquela brincadeira que diz que se comparados às mães, nós pais, somos só um parente próximo.

Criar os filhos é como ensiná-los a andar de bicicleta. Explicamos tudo, nos cercamos de todo cuidado, colocando as rodinhas de apoio atrás. Vamos seguindo ao lado, deixando que se sintam seguros e chega a hora de tirar as rodinhas, soltar o selim e morrendo de medo, deixar que se equilibrem e pedalem sozinhos. Quando bate a insegurança, conversamos para que mantenham a fé em si mesmos: “Você consegue, vá em frente...” e somos recompensados quando percebemos que as suas atitudes e seus pensamentos já se mostram na busca de sonhos e objetivos que os fazem crescer como pessoa e que, também, os alinham com a construção de um mundo melhor para todos. Vem a sensação de que estão no caminho certo.

Meus queridos filhos, sou muito feliz com vocês em todos os dias que me fazem pai, em todos os dias que estamos juntos. Vocês são o meu melhor presente. Que todos os pais se sintam sempre felizes como eu por ter os filhos que tenho.

Seu Nunes, a saudade ainda está muito forte e apesar da felicidade de todos os anos em que fui e sou teu filho, eu ainda queria mais. Muito obrigado por tudo. Esse Dia dos Pais foi diferente. Não me saíram da cabeça as palavras de Fábio Júnior, na canção Pai. Fiquei repetindo como um tipo de último desejo:

“Quero só recostar no teu peito/ Pra pedir pra você ir lá em casa/ E brincar de vovô com meu filho/ No tapete da sala...”

E-mail: steffanonunes@gmail.com


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