Artigo

Morto, só quem é esquecido

Joaquim Haickel, Membro das Academias Maranhense e Imperatrizense de Letras e do IHGM

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

Em meio a toda essa loucura causada pela pandemia de Covid-19, nós da Academia Maranhense de Letras perdemos três amigos queridos. Cabral Marques, Valdemiro Viana e Milson Coutinho.

Cabral, aos 90 anos e já há algum tempo debilitado, faleceu no dia 27 de maio, momento em que a pandemia estava em seu ápice e nem pudemos nos despedir como ele tanto merecia. Valdemiro faleceu na noite do último dia 3 de agosto, em consequência da leucemia que o fustigava há mais de um ano. Milson, que era portador de um aneurisma de aorta, teve complicações cardíacas e faleceu na manhã do dia 4.

Quando as pessoas morrem, seus pecados desaparecem e somente suas qualidades são lembradas e citadas. Isso pode até ser verdade em muitos casos, nestes não, pelo simples fato de que estes homens, se cometeram algum pecado, todos foram simplesmente provenientes do fato de serem humanos.

Tenho imensa dificuldade em fazer elogios gratuitos e tecer loas a quem não as mereçam, por isso acreditem piamente no que vou relatar sobre estes homens, que se por um lado nada tinham de santos, e isso jamais quiseram ser, eram pessoas tão queridas e amáveis, que simplesmente falar deles, de como eles viveram e como encararam a vida, já é uma homenagem, não a eles, mas a nós, que tivemos o privilégio de sua convivência.

Cabral ocupou importantes cargos, sempre ligados à educação e ao ensino. Foi secretário de Educação do Maranhão e do Amazonas, além de reitor de diversas universidades, entre elas a Universidade Federal do Maranhão. De personalidade firme, era rígido em suas posições, mas no trato pessoal era uma pessoa afável e um homem merecedor do respeito e da admiração de quem o podia conhecer na intimidade.

Valdemiro era um dos nossos melhores romancistas. Dono de uma impressionante capacidade de narrar e transformar fatos que as pessoas comuns têm por corriqueiros, em verdadeiras pérolas de marcante prosa.

Em seu velório, conversando com sua amada Iara, descobri que ele deixou um livro inédito de poemas, que certamente iremos publicar. Cronista refinado, colocava as palavras em um texto como um mestre pedreiro coloca um tijolo em uma construção.

Autor de obras memoráveis, Valdemiro fará falta no nosso mundo literário por sua irreverência e inventividade. Dono de um grande senso de humor e uma imensa alegria, fará falta em nosso convívio, pelos mesmos motivos. Além disso, sentiremos falta também dos deliciosos sábados de mocotó e seresta em sua casa.

Do inventário de meu pai, suas amizades sempre foram para mim as heranças preferidas, e entre elas estava Milson Coutinho, um dos homens mais corretos que tive o prazer e a honra de conhecer. Uma pessoa sobre a qual o poder e a gloria não subiram à cabeça.

Além de jornalista, Milson fez um importante trabalho de pesquisa e registro da história de nossos poderes Legislativo e Judiciário. Foi presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão e da Academia Maranhense de Letras.

Essas três figuras, tão diferentes umas das outras, cada uma ao seu modo, cada uma ao seu tempo e em seu espaço de atuação, tinham traços comuns que delineavam bem suas personalidades. Os três, cada um com suas histórias, cada um com suas circunstâncias e enfrentando as consequências delas, eram homens respeitados, confiáveis, alegres e generosos.

Não se tem mais feito gente assim com frequência!... Infelizmente!...

A imortalidade deles não se deve simplesmente ao fato de terem sido membros da Academia Maranhense de Letras. Eles serão imortais tanto quanto eu e você que me lê agora, desde que jamais sejamos esquecidos.

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