Artigo

Ao Milson Coutinho

Márcio Coutinho, Advogado e escritor

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

Há quem diga: o maior desejo do homem é a imortalidade. E mesmo quando a razão deixe-nos convictos dessa impossibilidade, tal desejo remanesce.

Na intelectualidade, ser imortal é compor as academias de letras, artes, músicas. É deixar obra transcendente, sublimando o tempo, o espaço, algo metafísico, simples assim... se simples fosse.

Quando deixou a cidade de Coelho Neto, lá pela década de 50, ainda menino, rumando para a capital São Luís, Milson Coutinho tinha certamente muitos sonhos, mas a imortalidade não estava entre eles.

Queria apenas se formar, virar doutor e ajudar seus pais e irmãos. Foi além de suas aspirações. Advogado renomado - grande tribuno e esmerado defensor -, procurador, desembargador eleito pelo chamado Quinto Constitucional e após figurar por três vezes na lista tríplice encaminhada ao governador ou governadora de então. Presidente do Tribunal Regional Eleitoral, presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, membro da Academia Maranhense de Letras, para além de tantas outras honrarias, comendas e homenagens. Apenas breviário de uma biografia de fôlego, não cabendo nessas poucas linhas.

Para ficar nos livros e nos números, mais de trinta obras, igualando-se aos maiores produtores literários do Brasil. Mas Milson Coutinho não era só quantidade, era, sobretudo, qualidade. Na escrita, na oratória e na sua forma de ser, marcou uma época. Gentil, solícito, humilde, generoso. Um grande pai, amigo fidelíssimo, um tio maravilhoso, homem de honra e valores intransigentes. Um exemplo para filhos, sobrinhos e netos e para todos que puderam testemunhar sua visão de mundo e seu compromisso com a Justiça, na maior expressão dessa palavra.

Eu, enquanto advogado, fui certa vez funcionar num Tribunal do Júri, em Afonso Bacelar, cidade bem próxima a Coelho Neto. Ao chegar presenciei uma multidão, às portas da Câmara Municipal, onde aconteceria o julgamento. De logo não entendi a razão de tanto alvoroço, o caso não era complicado e nem o crime chocante. Ouvi então que tinham se aglomerado em razão do nome do advogado responsável pela defesa, estavam ansiosos para presenciar a capacidade oratória do grande tribuno. Continuei confuso até perceber que confundiam Márcio Coutinho com Milson Coutinho. Mais uma vez, testemunhei a força de sua fama de grande advogado.

Já aposentado, por força da "expulsória", como ele gostava de brincar e referindo-se à "compulsória", eu o encontrava em sua casa, numa sala repleta de livros, uma televisão ao fundo, uma máquina de escrever antiga e sua cadeira bem ao centro - ele era uma ilha cercada de livros por todos os lados. Nesses felizes momentos, curti o sábio, o tio queridíssimo cuja deliciosa prosa era uma despretensiosa aula de história e política. Sua companheira, tia Gracinha, sempre por ali, aparecia à porta vez ou outra como a dizer: estou aqui. Ela sempre esteve. Seus cinco filhos também estavam sempre por perto. Que felicidade!

Para efeito acadêmico, Milson Coutinho já era imortal, desde 1981, quando eleito para ocupar a cadeira nº 15 da Academia Maranhense de Letras, mas para a família, estará sempre vivo, em cada um de nós, influenciados eternamente por sua generosidade.

Terça- feira última, ao raiar do dia, Milson Coutinho se foi. Imortal, para as letras. Inesquecível, para a família!

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