Artigo

Elas mudaram o Quartel de Abrantes

José de Ribamar Vieira, Coronel PM R/R da Polícia Militar do Maranhão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

“Tudo como dantes no Quartel de Abrantes”. Tudo permanece como antes. A frase portuguesa sobredita tem origem curiosa. Deve-se pela inexistência de qualquer medida de resistência tomada por Dom João VI, Regente de Portugal, ao período em que seu país foi invadido pelo exército francês, por ordem de Napoleão, liderado pelo general Jean Junot.

Uso essa expressão para me reportar à situação da Mulher Policial Militar do Maranhão.

Há alguns dias foi veiculado na mídia maranhense que sete policiais femininos, oficiais e praças, estavam respondendo a um procedimento junto ao comando da PM por divulgarem um vídeo que ia de encontro aos preceitos da corporação.

Ao ler essa notícia e assistir ao vídeo, me reportei aos anos 80, precisamente ano 1982, ano da incorporação de mulheres nas fileiras da Briosa Estadual.

As 67 mulheres que adentraram aos portões do CEFAP - Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, naquele ano, foram as pioneiras nessa caserna. Essas guerreiras femininas enfrentaram todas as espécies de preconceitos, constrangimentos, dúvida da sua capacidade física, emocional, profissional e intelectual.

A esse grupo feminino foram feitas as exigências mais incoerente possíveis, tais como: não podiam ter filhos, não podiam ser casadas, só podiam contrair matrimônio após dois anos de formada, não podiam ter relacionamento com outro policial, parecia que estavam sendo admitidas em um claustro. Tais imposições causaram uma divisão profunda entre o policial masculino e feminino. O primeiro se achando ameaçado por aquela nova figura delicada, bonita e inteligente que estava entrando na sua casta. Já o segundo, que nunca se imaginou fazendo ordem unida, praticando tiro, prendendo bandido, universo literalmente viril, se mostravam assustadas com a nova e desafiadora profissão, todavia felizes por estarem quebrando um paradigma de 146 anos.

As pmzitas, como eram pejorativamente chamadas, resistiram apesar de todas as desconfianças e incompreensão. Mas o reconhecimento da importância da PM Feminino nas fileiras da Polícia Militar do Maranhão, veio quase 20 anos depois, no ano de 2001, quando a então governadora Roseana Sarney outra guerreira e precursora no mundo masculino da política, preocupada com a importância e valorização da mulher na sociedade, acabou com o "apartheid" que existia na PM, em relação a policial militar feminino, sancionou a Lei n° 7.688, de 15/10/2001, onde proporcionou a unificação dos quadros feminino e masculino na instituição. A partir daquele ano as mulheres PMs poderiam chegar ao último posto da instituição, como também assumir função de liderar grandes comandos e ser comandante geral dessa valente corporação.

Atualmente a PMMA tem um quadro de oficiais e praças femininos gabaritadas, que planejam e elaboram formas mais eficientes para o melhor desempenho das atividades dessa organização policial, além de participarem, noite e dia, do policiamento preventivo das nossas cidades para dar melhor segurança ao corpo social. Desde a Constituição de 1988, elas têm direitos e obrigações definidas, as candidatas a Policial Feminino PM não são submetidas às normas que as 67 recrutas de 1982 atravessaram, hoje elas têm o seu dia, 1º de setembro, para comemorar, no calendário anual do Estado, têm o reconhecimento, carinho, confiança dos seus pares masculinos e do povo maranhense.

Voltando ao vídeo exibido do aplicativo tik tok, congratulo-me com as PMs Femininas que mostraram à coletividade que sob essa farda que elas ostentam com orgulho e respeito, existe uma avó, uma mãe, uma esposa, uma filha, uma neta, uma mulher que tem vaidade e vontades como qualquer pessoa. Com relação ao procedimento instaurado para averiguação se o vídeo foi transgressão ou não, independentemente do resultado o efetivo de policiais femininos da PMMA sairá bem mais forte desse cenário, pois mostrou o seu lado humano que a comunidade a qual servimos, nunca consegue mirar.

Esse artigo surgiu para enaltecer a causa da policial militar feminino que com esforço, resistência e abnegação conquistou seu espaço dentro do aquartelamento e que hoje, mesmo com o risco da própria vida, leva tranquilidade e paz aos lares e logradouros do Estado.

Finalmente podemos constatar, depois de 38 anos de luta, nada permanece como antes no "Quartel de Abrantes" em relação à Policial Militar Feminino do Maranhão.

PS. Faço uma homenagem, com muito pesar, a soldado PM-Amarilys, que faleceu deixando uma saudade muito grande entres seus pares PMs, os quais conquistou com sua alegria, seu trabalho e comportamento exemplar.

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